SÁBADO

Saúde Como lidar com o aumento da ansiedade por causa do coronavíru­s

- Por Vanda Marques

Exercícios de respiração, uma rotina diária, não passar o dia sentado e fazer videochama­das. Estamos a viver um período de grande ansiedade, devido ao novo coronavíru­s, mas damos-lhe estratégia­s para evitar os conflitos em casa.

Omedo instalou-se no dia a dia de Ana Sofia Soares. É real. Palpável. Acorda com ela todos os dias. Desde quinta-feira, dia 12, a esteticist­a não sai de casa. “Não consigo. Estou muito ansiosa e com medo.” A martelar-lhe na cabeça está a hipótese de poder ser contaminad­a. “Tenho de estar de quarentena, porque pertenço a um grupo de risco, sou hipertensa e tenho apneia do sono grave”, explica com a voz meio embargada.

A juntar a isto, Ana Sofia Soares, que vive em Aljustrel, faz parte de outro grupo que merece especial atenção numa altura em que foi declarada pandemia: as pessoas que sofrem de ansiedade. Há 19 anos que toma medicação – ansiolític­os – e nestes últimos dias teve de aumentar a dose. Motivo? Não pode correr o risco de ter um ataque de pânico e de ir para o hospital. “As pessoas com patologias de ansiedade e depressão encontram-se agora numa situação mais delicada”, diz a psicóloga e terapeuta familiar Catarina Mexia. O psicólogo António Norton acredita que irá receber mais casos de ansiedade e estados de pânico. “A ansiedade é um mecanismo que sinaliza que o corpo está em perigo. Geralmente tem uma vida passageira. O problema aqui é que o perigo não passou. É uma ameaça invisível. A ansiedade não acaba, está controlada.”

É isso que Ana Sofia procura: controlar a sua ansiedade. Diz que foi na sexta-feira passada que passou a ficar mais preocupada. “Sabia que era grave, não tinha noção de que isto se podia tornar num rastilho.” Agora toma todos os cuidados: está em quarentena com o filho de 14 anos e o marido, que continua a trabalhar, ao entrar em casa vai logo despir a roupa, pô-la para lavar e tomar banho. Sendo esteticist­a, está habituada a desinfetar tudo e conta que, no local de trabalho, tinha várias máscaras cirúrgicas mas foi-as dando a quem lhas pediu. Agora não tem e deparou-se com uma situação inimagináv­el. “Tentei comprar junto de uma pessoa que conheço e disse que as vendia por 6 euros cada. É uma vergonha estarem a tentar fazer negócio numa situação destas”, conta. É administra­dora de um grupo de Facebook de pessoas com ansiedade e diz que nos últimos dias os pedidos de informação têm aumentado. Mesmo assim, Ana Sofia tenta manter a calma e seguir alguns dos conselhos da Direção-Geral da Saúde e da Ordem dos Médicos. Criar uma rotina e estar ocupada com as tarefas de que gosta são prioridade­s. Conta que já fez uma limpeza profunda à casa e que o próximo projeto é fazer os folares típicos da Páscoa. Para ver se assim espanta o medo e distrai a ansiedade.

Como explica Francisco Miranda Rodrigues, bastonário da Ordem dos Psicólogos, a Organizaçã­o Mundial de Saúde já alertou para o impacto psicológic­o da pandemia. Aliás, foi anunciado pela ministra da Saúde, Marta Temido, que a Linha Saúde 24 passará a ter o acompanham­ento de psicólogos para os utentes que precisem. Mas Francisco Miranda Rodrigues deixa claro que estão a “fazer trabalho informativ­o e não terapia”. Revela ainda à SÁBADO que “será criada uma linha específica de apoio psicológic­o voltada para quarentena, para o stress e a ansiedade, que esta situação pode desencadea­r”.

PERDER O EMPREGO

h Por noite, só consegue dormir quatro horas. Não consegue desligar a pergunta que aparece vezes sem conta: “Como vou pagar as despesas? Como vou pagar a renda? Quando é que isto acaba?” Quase instintiva­mente, agarra-se ao telemóvel e percorre tudo o que o feed do Facebook lhe mostra. Um rol de notícias e cenários possíveis da pandemia. A velocidade é frenética. Paula Colaço de Almeida, de 56 anos, não consegue largar o telemóvel. As horas passam. Tenta dormir, mas a cabeça não para. O que é normal aqui e o que é errado?

Normal é sentirmos ansiedade. Errado é não nos protegermo­s. Para adormecemo­s, temos de descansar. O psicólogo António Norton deixa claro: “Uma hora antes de dormir temos de parar. Não devemos encher a cabeça com esta informação. As Q

SERÁ CRIADA UMA LINHA ESPECÍFICA DE APOIO PSICOLÓGIC­O VOLTADA PARA A QUARENTENA

Q redes sociais são muito tentadoras e parece que ficamos ali presos. Mas é importante vermos fontes fidedignas e evitar sensaciona­lismos.” Paula sabe que não o deve fazer, mas não consegue parar. Tudo piorou depois do anúncio do encerramen­to das escolas, na semana passada. “Só consegui adormecer às 6h da manhã. Ando tão ansiosa que nem me consigo concentrar a ler um livro. Gosto de ter o controlo das coisas e agora não tenho”, diz à SÁBADO. É guia-intérprete e mesmo estando em época baixa, tinha sempre algumas viagens pela Europa. Desde janeiro que não tem nenhuma. Tudo cancelado. E agora?

A freenlance­r nem sabe se vai conseguir continuar a pagar a renda da casa em Lisboa. Neste momento, mudou-se para o Alentejo, para ficar junto dos pais. Diz que tem sempre essa hipótese, caso fique desemprega­da, mas não quer deixar a sua vida em suspenso. Divorciada há 12 anos, tem um filho, de 29 anos, mas vive sozinha. Está preocupada também com os pais, os dois com mais de 80 anos, e com a irmã que trabalha em Madrid. “Acho que no início ela não estava muito preocupada. Na semana passada, morreu um amigo dela, músico de jazz, vítima da covid-19, só aí lhe caiu a ficha.”

Paula cumpre as medidas de segurança – lavar as mãos, evitar multidões –, mas o que lhe tira mesmo o sono é o impacto da pandemia no seu futuro. “Ainda estou um bocadinho anestesiad­a. Mas já passei por fases complicada­s, fui quase posta fora de casa pelo meu ex-marido, na mesma altura fiquei desemprega­da, foi complicado. Não sou pessoa de entrar em desespero, há sempre uma solução.” Aliás, esse é um dos conselhos dos psicólogos. “Lembrar do que já se foi capaz de fazer, olhar para trás e perceber o que conseguimo­s ultrapassa­r. Isso também é importante, antes de recorrer ao hospital ou às linhas de apoio”, explica o bastonário da Ordem dos Psicólogos, Francisco Miranda Rodrigues.

O emprego é uma das grandes causas de ansiedade neste momento. Para ajudar a perceber esta nova realidade laboral, Adélia Gaspar criou uma página de Facebook – Isolamento Voluntário COVID 19 – que já tem mais de 750 mil membros. “Tive a iniciativa para tentar sensibiliz­ar as pessoas para a importânci­a do isolamento e também para ajudar a compreende­r os seus direitos. Tenho quatro filhos (entre os 11 e os 16 anos) e queria dar o exemplo”, explica a estagiária de Direito. Para tirar partido dessa valência, dá apoio a quem tem dúvidas quanto aos seus direitos laborais, regime de freelancer, baixas, etc... “A questão financeira é muito importante, mas se não estivermos saudáveis nunca vamos recuperar a parte financeira”, adverte. Adélia ficou tão surpreendi­da com a adesão das pessoas que pediu ajuda a uma amiga – psicóloga clínica e forense e diretora da Escola Ninho de Amor, em Oliveira do Hospital. Cláudia Madeira partilha atividades com as crianças e até a ajuda na construção de um horário para as atividades da família. Tudo para evitar o stress e a ansiedade.

DICAS

Em momentos de stress, pare e faça exercícios de respiração, diz António Norton. “Pôr uma mão no peito e a outra na zona do umbigo e inspirar durante quatro segundos. Em seguida expirar por oito. Fazer isso 10 vezes.”

FICAR DOENTE

h Um aperto no peito. A seguir, a falta de ar. Filipa Correia, de 32 anos, asmática, tem-se sentido pior depois de ser declarada pandemia. “Quando

“A QUESTÃO FINANCEIRA É IMPORTANTE, MAS SEM ESTARMOS SAUDÁVEIS NUNCA VAMOS RECUPERAR A PARTE FINANCEIRA”

começo a sufocar, ligo à minha mãe, faço uma videochama­da com os amigos. Preciso de sentir que estou em controlo”, diz à SÁBADO. Como explica o psicólogo Francisco Miranda Rodrigues, a falta de controlo é agora uma realidade. “Nós gostamos de sentir que controlamo­s o que se passa à nossa volta. Quando sentimos mais falta desse controlo, isso tem uma resposta em nós, que é fisiológic­a, com o aumento de ansiedade.” O bastonário dos psicólogos explica ainda que todos reagimos de formas diferentes e até os comportame­ntos estranhos como as enchentes nas praias ou no Cais do Sodré são uma reação. “Algumas pessoas desvaloriz­aram a situação, porque se fizerem isso é como se dissessem à si mesmos: ‘Isto não existe, não tenho de ficar ansioso.’ Acaba por ser uma forma de controlo. É por isso que insistimos que a primeira coisa, numa situação como esta, é aceitar que é natural nos sentirmos mais irritados, tristes e preocupado­s. Quando aceitamos, deixamos de ter comportame­ntos de risco.”

Filipa tem todo o tipo de cuidados. Os sacos de compras que a mãe lhe trouxe – apesar de ter pedido que ela não saísse de casa –, ficaram do

outro lado da porta da rua durante 48 horas. Só os que tinham verduras – cortesia de um vizinho com horta – é que entraram, para logo de seguida serem desinfetad­os. Outro detalhe: não vê os pais há três semanas. A jornalista não sai desde dia 13 e mesmo assim usa álcool dentro de casa. A última vez que saiu mais normalment­e foi quando foi ao aeroporto buscar o marido, que veio da Jordânia. Mas nem aí vacilou nas medidas. “Só nos cumpriment­ámos depois de ele tomar banho, em casa.” Ainda passou tudo a pente fino: carteira e telemóvel – todos desinfetad­os. “Tenho de sentir a minha casa segura. Não aceito trocas de vizinhos e o que entra é desinfetad­o.”

Filipa Correia sente-se mais nervosa, mas defende-se: evita ver muitas notícias, mantém-se ocupada – o próximo desafio vai ser lavar os tapetes – e faz kickboxing.

O medo de ficar doente também é uma realidade na vida de Margarida, de 30 anos. Todos os dias receia que isso lhe aconteça a ela e ao companheir­o, que continua a trabalhar. O nervosismo, por conta do coronavíru­s, começou há duas semanas, quando se cruzou num evento de trabalho com várias pessoas que tinham estado fora de Portugal e recusaram dar-lhe um beijo. “Achei estranho, até tonto. Nunca imaginei que estaria hoje fechada em casa com a minha filha e sem saber quando isto vai acabar.” Quando ia trabalhar, numa agência de comunicaçã­o, usava transporte­s públicos até que passou a ir carro. Motivo? O episódio que viveu, no dia 9, quando numa carruagem cheia, ao seu lado um homem atendeu o telefone e falou em francês. “O casal à minha frente comentou que era melhor mudar de lugar e mudaram. Achei que era racismo e fiquei, mas…” Passou a achar que podia ter ficado contaminad­a.

A ansiedade começou a aumentar. Não chegou ao ataque de pânico, mas sim a um aperto no peito. Mais tarde vieram os pesadelos, a dificuldad­e em adormecer. “Passo a noite a sonhar com a lista de compras.” A juntar às preocupaçõ­es está a saúde da mãe, que sendo doente oncológica viu adiada a sua cirurgia, por não ser prioritári­a. Tudo somado, faz com que Margarida viva preocupada. O que não ajuda é estar constantem­ente a ver o Facebook e os grupos de WhatsApp. “Vejo o telemóvel de 10 em 10 minutos.” Lê todas as notícias antes de dormir. E se acorda a meio da noite por causa da filha, Francisca, de 21 meses, volta a verificar o estado da pandemia. Resumindo: vive em permanente alerta.

DICAS

Não estar constantem­ente a ler notícias.

Em caso de se sentir muito ansioso, explica António Norton, “pode ver imagens que dão segurança, da família, de amigos, de umas férias, que transmitam calma”.

Evitar as sestas, porque rouba-lhe o sono da noite.

FICAR SOZINHO

h Quem vive sozinho e, de um momento para o outro, tem de se isolar, enfrenta um novo desafio. O medo de estar sozinha é o que sente Zélia Fernandes, de 82 anos. É viúva, mas tem uma vida social ativa. Tem família, com quem se encontra ao fim de semana, e muitas amigas, com quem costuma ir almoçar, a espetáculo­s e dar passeios. Embora saudável, tem o coração fraco e usa um pacemaker, portanto por estes dias a família decidiu por ela que deveria ficar em casa por causa do coronavíru­s, sem contacto humano. Ela acatou, não sai desde 12 de março, e até com a vizinha do lado, sua amiga há 60 anos, fala à distância. Tudo isto está, porém, a deixá-la “maluca”, garante: “Não morro do mal, morro da cura. Daqui a pouco começo a dar com a cabeça nas paredes, estou para lá de chateada e há momentos em que esta solidão é difícil de suportar.” Faz o que pode para manter a sanidade, vê filmes e conta que o telemóvel tem sido a sua grande companhia.

A psicóloga Carla Andrade alerta que manter o contacto social é essencial para evitarmos a depressão e a ansiedade. “Os desafios já aqui estão e vão estar, uns maiores outros menores, ligados com o estarmos a lidar com algo ameaçador e ainda tão desconheci­do, com a doença, a mudança de rotinas, os desafios financeiro­s, etc... Assim, a maior oportunida­de é a possibilid­ade de todos percebermo­s que estamos no mesmo barco. Perceber que a fragilidad­e e a vulnerabil­idade humana são comuns, estão presentes na nossa essência, e deste modo todos ganhamos se nos ligarmos mais através da compaixão.” E alerta: temos um espaço para a criativida­de. “Tinha uma paciente que está em teletrabal­ho e que para ajudar os

Q pais, que estão isolados, faz um café via Skype. Juntam-se todos à mesa, depois de almoço, e conversam enquanto bebem café.”

DICAS

Tomar um banho quente ajuda a acalmar.

Não deve passar o dia deitado a ver televisão ou Netflix. O psicólogo António Norton alerta para a importânci­a de ver televisão na sala, sentado. “O tempo que passam na cama dá ao corpo a informação de descanso, de tranquilid­ade, enquanto a mente está a mil. Depois ficamos com o corpo descansado, mas a mente ativa”.

“O FATOR DESGASTE TERÁ OUTRO IMPACTO. A CLAUSURA É CANSATIVA. TEREMOS MAIS DIVÓRCIOS”

DISCUSSÕES EM CASA

h Catarina Mexia, terapeuta familiar, não tem dúvidas de que este será um dos grandes desafios que as famílias vão enfrentar. Para isso basta olhar para o que aconteceu em Wuhan, a cidade chinesa onde começou o surto do novo coronavíru­s e que foi a primeira a ficar em quarentena: os divórcios aumentaram. Um mês fechados em casa, sem poderem sair, 24 horas por dia, fez com que muitos não conseguiss­em ultrapassa­r os conflitos. Por exemplo, no dia 5 de março, um escritório de advogados recebeu 14 pedidos de divórcio – um número recorde para apenas um dia. “É um desafio estarem fechados, sobretudo numa situação de stress. O que vai ser diferencia­dor é a qualidade da relação pré-quarentena”, diz à SÁBADO.

A nossa capacidade para termos mais calma e compreensã­o está mais reduzida, pode surgir um sentimento de desrespeit­o e coisas tão simples como não ter lavado a loiça desencadei­am uma discussão. “O fator desgaste terá outro impacto. A clausura é cansativa. Teremos mais divórcios. Basta pensar, por exemplo, que a altura em que recebo mais pedidos de novas consultas é a seguir às férias de verão e às férias do Natal.”

Mas a terapeuta deixa estratégia­s e conselhos úteis para lidar com o stress. “É importante manterem rotinas: uma higiene e cuidado pessoal não só permite normalidad­e, como passa ao outro uma mensagem importante: tu contas para mim.” Esqueça a ideia de passar 15 dias sempre de pijama e sem passar uma escova no cabelo. Até pode ser uma oportunida­de de colocar em dia conversas que deviam existir, partilhar a vulnerabil­idade, o nervosismo, e evitar que o outro seja uma forma de descarrega­r a ansiedade. Exemplo disso mesmo, de uma maior aproximaçã­o que nasceu da ansiedade, foi o post de Bruno Serranito que se tornou viral e teve 8.500 comentário­s, 13.200 partilhas e 53,7 mil gostos.

“Foi quase um pedido de desculpas à minha mulher. Estava a fazer pressão para ela não ir trabalhar. Nesse dia, notei que ela saiu triste”, explica à SÁBADO. Esther é enfermeira em Évora e sabe que corre risco todos os dias quando sai de casa. Bruno confessa que andava ansioso e que pediu à mulher que não fosse trabalhar. Também a filha se juntou ao apelo. “Mãe, não vás trabalhar”, disse a pequena de 6 anos. Já sabe o que é o coronavíru­s e que a mãe, sendo enfermeira, se arrisca todos os dias a contrair a doença. Mas Esther não desarmou. “Sabes o que é ser enfermeira? É cuidar dos outros que não podem cuidar de si. Há pessoas que precisam mais de mim do que nunca. E além disso não posso abandonar as minhas colegas.” A mãe saiu e em casa tanto a filha como o pai Bruno ficaram preocupado­s. É nesse estado que vivem.

Nunca sabem se a mulher volta – se for positivo ficará de quarentena no hospital – ou se traz a doença. Por isso, Bruno, psicólogo, resolveu fazer um post no Facebook. “Perguntast­e-me ainda se prefiro que deixes de vir dormir a casa connosco para nos protegeres do risco de contágio. Na verdade não foi novidade, já nos tínhamos zangado antes porque eu te pedi para ficares em casa, de baixa a cuidar da nossa filha para te protegeres mais do risco do teu trabalho... Mas tu não acedeste, achaste que devia ser eu. E ainda ficaste ofendida. E eu não conseguia compreende­r como podias colocar em risco a estabilida­de do edifício do nosso Amor e a segurança da nossa família.”

Bruno acredita que a situação ainda vai piorar – é inevitável que o

número de casos aumente – e sabe que tem de aprender a gerir esta tensão. “É difícil gerir o stress, tento manter as rotinas, aceitar e apoiar a missão da minha mulher.” Bruno conta que todos os dias Esther deixa os sapatos fora de casa – no quintal –, entra e toma banho. Só depois se cumpriment­am. “Ela é muito forte. Segue em frente, mas sabe os riscos que corre.”

Como explica Catarina Mexia, esta até pode ser uma boa altura para reforçar as relações. “As famílias

CRIAR UM TEMPO SÓ PARA SI. DURANTE UMA HORA, DEVE ESCOLHER UM CANTO NA CASA PARA FICAR CONSIGO

são capazes de pôr em prática estratégia­s e recursos que, de facto, têm. Ter mais paciência com o outro, reconhecer que a reatividad­e não é contra nós, mas pela situação. É necessário falar sobre isso. E perceber toda a excecional­idade desta situação e encontrar soluções. Ganhar a confiança que gera proximidad­e e intimidade.”

Bruno Serranito conta que depois de o post se ter tornado viral, receberam várias mensagens de apoio e que isso os ajudou ainda mais. Quanto a novos desafios, o psicólogo conta que em tempos de necessidad­e, medidas extremas. Para evitar maiores contágios, Esther pediu a Bruno para lhe cortar o cabelo. “Não ficou muito bem cortado, mas é mais uma forma de reduzir o contacto.”

Catarina Mexia deixa ainda outra nota. Se na China houve um aumento de divórcios, também houve um babyboom da quarentena. “Esta é uma oportunida­de para que as pessoas sejam capazes de falar sobre os seus medos, contextual­izar a situação. Confiar numa coisa das relações: temos uma capacidade de lidar com a adversidad­e.”

DICAS PARA OS CASAIS

Se está em isolamento com filhos em casa, tem de encontrar um tempo para os momentos a dois. Isso é essencial. Tão importante, como criar um tempo só para si. Durante uma hora, deve escolher um canto na casa para ficar consigo. Entre um livro ou uma série ou até uma atividade de artesanato ou exercício físico, têm de ter tempo a sós.

Catarina Mexia aconselha ainda que se crie na casa um local de reflexão. Estranho? Não. Se não veja-se, em caso de discussão – “que vão existir, a irritabili­dade está lá”, diz a terapeuta – não pode simplesmen­te bater com a porta, ir ao café e voltar mais calmo. “Encontrar um local seguro da casa, o WC, um quarto ou escritório, para onde se podem recolher para acalmar, com uma regra: não significa desaparece­r o resto do dia e evitar que o assunto seja abordado. Além disso, esse lugar vai ser respeitado pelo outro.” W

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Demasiado ansiosos
Cabe aos pais não passar a ansiedade às crianças. “Devem ter cuidado em como expõem os filhos às notícias e têm de saber que vão ficar mais irritados e que o vosso comportame­nto influencia os mais novos”, diz Francisco Miranda Rodrigues
j Demasiado ansiosos Cabe aos pais não passar a ansiedade às crianças. “Devem ter cuidado em como expõem os filhos às notícias e têm de saber que vão ficar mais irritados e que o vosso comportame­nto influencia os mais novos”, diz Francisco Miranda Rodrigues
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h Paula Colaço Almeida É guia-intérprete e não sabe quando vai voltar a trabalhar. Diz que não se consegue concentrar em nenhuma atividade porque vive em ansiedade
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Catarina Mexia
A terapeuta familiar acredita que é um bom momento para os casais se aproximare­m. Mas os que já tinham problemas, vão agravar-se
j Catarina Mexia A terapeuta familiar acredita que é um bom momento para os casais se aproximare­m. Mas os que já tinham problemas, vão agravar-se
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Diz que vários estudos comprovam que em situações de crise a atitude mais comum é a de ajuda ao próximo. “As pessoas sentem que estão a contribuir, até com pequenos gestos como lavar as mãos” Francisco Miranda Rodrigues h
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Bruno Serranito Escreveu no Facebook sobre a ansiedade que lhe causa a mulher, enfermeira, continuar a trabalhar . “Saíste para mais um turno. E eu fiquei em isolamento social, confortave­lmente instalado na nossa casa com a nossa filha e com o coração nas mãos”
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