SÁBADO

Livros Seleção de 12 obras para celebrar o Dia Mundial da Poesia

Sábado, 21, é dia para celebrar as árvores e a poesia: estes são 10 livros de poetas portuguese­s do século XXI que não deve ignorar este fim de semana.

- Por Catarina Moura e Rita Bertrand

OS VERSOS floreados, rebuscados e cheios de figuras de estilo barrocas não são a definição de toda a poesia. Especialme­nte depois de aterrarmos no século XXI: como se sabe, a poesia imita a vida e, portanto, esta arte torna-se urbana, por vezes mais rápida, acompanha a atualidade da linguagem e das sensações, deixando para trás, tantas vezes, baques exagerados de coração. Para celebrar o dia da poesia, destacamos dez livros portuguese­s do século XXI, escritos por poetas atentos ao presente, uns consagrado­s, outros a florescer.

Comecemos pelas mais jovens vozes – ambas femininas. Matilde Campilho fez (e continua a fazer) sucesso com um único livro, publicado em 2014. Joquéi teve uma cobertura mediática surpreende­nte para um livro de poesia e mostrava uma voz que começou com versos gravados para o Youtube que misturavam um português europeu e brasileiro. Filipa Leal já vai bem mais à frente da sua primeira publicação. Estreou-se em 2004 com Talvez os Lírios Compreenda­m e, no ano passado, lançou o seu mais recente livro, Fósforos e Metal sobre Imitação de ser Humano, um título que nos transporta para o universo das artes plásticas e que contém um pouco da ironia presente neste livro e na obra da poetisa do Porto.

Talvez esta ironia seja inspirada pela obra de outra poetisa portuguesa contemporâ­nea essencial – Filipa Leal já lhe dedicou inclusivam­ente o título de um livro. Adília Lopes é conhecida pela ironia e humor refinado, rápido e despretenc­ioso. A sua poesia até 2014 está reunida em Dobra.

Edições de poesia reunida são, aliás, uma boa forma de conhecer a evolução de um autor de uma assentada. Manuel António Pina (1943-2012) tem o seu trabalho em Todas as Palavras: Poesia Reunida; Manuel Resende (1948-2020) tem também uma antologia publicada

sob o título Poesia Reunida.

Estes são dois nomes masculinos consagrado­s no panorama literário, que dispensam apresentaç­ões de maior, e a eles pode bem juntar-se José Tolentino Mendonça, cardeal, teólogo. A relação com Deus não o coíbe de falar de amor na poesia. Em A Noite Abre Meus Olhos fala-se sobre um amor maior que o indivíduo, com uma certa sensualida­de, mas sem erotismo, com uma grande relação com a natureza e o Eu.

No pólo oposto da vivência

Ana Luísa Amaral também mantém uma poesia humana, em encontro com o dia a dia, mas numa linguagem erudita

do amor está Duende, de António Franco Alexandre. Este matemático e filósofo de Viseu começou a publicar no final dos anos 60 e em 2002 lançou esta obra praticamen­te erótica, feita de uma poesia rigorosa nos ritmos e métricas, quase com se estivesse espartilha­do pelas obrigações formais de um soneto.

Daniel Maia-Pinto Rodrigues publicou o seu mais recente livro em 2010, depois de ter lançado em 2007 Dióspiro – Poesia Reunida (1977-2007). A Casa da Meia Distância é o regresso de uma das vozes emblemátic­as da poesia e da sua divulgação nos anos 80, particular­mente no Porto – um poeta da vida quotidiana e prosaica e da sua beleza.

Da mesma geração, Ana Luísa Amaral também mantém uma poesia humana, em encontro com o dia a dia, mas numa linguagem erudita. Esta feminista e investigad­ora de estudos feministas e estudos queer lançou em 2011 Vozes, um livro que suscitou outras duas edições e que fala sobre a voz de cada um e o seu encontro com as vozes alheias.

Tal como Ana Luísa Amaral (tem traduções em vários países da Europa e da América do Sul), a poetisa Alice Rosa Branco viu o seu trabalho ter repercussõ­es internacio­nais. Gado do Senhor foi traduzido e bem recebido nos EUA – tal como aconteceu em Portugal. Esta poetisa enigmática e de escrita metafórica tem em Gado do Senhor mais um livro para, como os restantes, digerir com calma: cada poema com a sua matéria para desafiar o pensamento. É um livro para quem gosta de desafios e que prova que, ao lado de uma nova geração mais rápida e ligada a uma liguagem mais urbana, há lugar para o mistério. W

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€10,50
SENHOR DO GADO • & Etc. €10,50
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€11
FÓSFOROS E METAL SOBRE IMITAÇÃO DE SER HUMANO • Assírio & Alvim €11
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• Mariposa Azual Em alfarrabis­tas
A CASA DA MEIA DISTÂNCIA • Mariposa Azual Em alfarrabis­tas
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• Cotovia €25
POESIA REUNIDA DE MANUEL RESENDE • Cotovia €25
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• Assírio & Alvim €39,90
DOBRA • Assírio & Alvim €39,90
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€15
VOZES • Dom Quixote €15
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Em alfarrabis­tas
DUENDE • Assírio & Alvim Em alfarrabis­tas
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• Assírio & Alvim €20
TODAS AS PALAVRAS • Assírio & Alvim €20
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• Assírio & Alvim €22
A NOITE ABRE MEUS OLHOS • Assírio & Alvim €22
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• Tinta da China €15
JOQUÉI • Tinta da China €15

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