AQUELES QUE NÃO DEIXAM PORTUGAL PARAR – FALÁMOS COM AGRICULTORES, MOTORISTAS, SEGURANÇAS E FARMACÊUTICOS
Farmácias com o triplo dos clientes, motoristas que passaram a descarregar de luvas e máscara mas que deixaram de apanhar trânsito - e lixo doméstico em quarentena. O Portugal que faz a comida, a energia e os medicamentos chegarem até sua casa continua a
Não deixar o país parar pode significar aconselhar pessoas mais velhas – sobretudo as que gostam de ir todas as semanas à farmácia – a levarem medicamentos para um mês; trabalhar 16 horas por dia porque um conflito laboral colocou mais de 100 colegas fora do Porto de Lisboa; desinfetar as mãos dez vezes por turno ou limpar um terminal multibanco a cada três ou quatro clientes. Significa, seguramente, continuar a produzir, transportar e vender bens de primeira necessidade. E garantir que quem o faz tem gasolina, energia e telecomunicações. Para isso, é preciso pessoas no terreno e outras a gerir essa primeira linha. São os homens e mulheres que vão manter o País a funcionar. E que já receberam mensagens de agradecimento.
FIRMINO CORDEIRO AGRICULTOR
h Sabia que uma alface pode ser colhida de manhã e à tarde estar no supermercado? Quem diz alface diz to
“MAS NÓS NÃO PODEMOS PARAR DE COMER E ISSO DEPENDE DOS AGRICULTORES”, DIZ FIRMINO CORDEIRO
mate, saladas ou produtos ainda mais sensíveis, como framboesas e groselhas. “São produtos perecíveis, têm que ser produzidos todos os dias, porque basta um ou dois dias para que se danifiquem ou não tenham aquele aspeto fresco a que estamos habituados. Não podemos parar a produção”, diz à SÁBADO o presidente da Associação Nacional de Jovens Agricultores. Nos últimos dias, Firmino Cordeiro tem andado a podar o seu olival, em Bragança, enquanto responde a muitas dúvidas dos associados. A falta de mão-de-obra – já há agricultores contaminados – e o fecho das lojas que vendem fertilizantes e agroquímicos necessários à atividade agrícola são duas grandes preocupações. “Um fertilizante que não é aplicado no momento certo é quase como se um doente não tomasse o comprimido quando devia. Não se pode falhar dia nenhum.” Há ainda outros problemas. Firmino tem uma exploração de olival, amendoal, alguma vinha, e outra de ovelhas de leite, em Trancoso, arrendada. “O meu parceiro já se queixou que as empresas que compram o leite estão a baixar 10 a 15 cêntimos o preço na recolha, porque não têm a certeza se a procura – por queijarias de pequena e média dimensão – se mantém”, acrescenta. “Mas nós não podemos parar de comer e isso depende dos agricultores. A procura aumentou, mas temos medo de não vender. E os agricultores que produzem para o estrangeiro também têm dúvidas que a mercadoria chegue a tempo de ser comercializada em condições depois de passar em três ou quatro fronteiras.”