SÁBADO

GRAÇA FREITAS, A MULHER QUE NÃO GOSTA DE SER VEDETA

É médica, fumou durante mais de 20 anos, teve cancro, tem andado preocupada com a mãe idosa e nunca teve ambições políticas. Quase nem concorria ao cargo que agora ocupa. Não gosta de palco. Calhou-lhe um enorme.

- Por Maria Henrique Espada

Já sobreviveu a um cancro. Quase não concorreu ao posto que agora ocupa: teve de ser o ministro a convencê-la. E anda preocupada com a mãe

Em 2017, quando se colocou a questão de substituir Francisco George à frente da Direção-Geral da Saúde, no gabinete do então ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, andava toda a gente intrigada: a sucessora óbvia, Graça Freitas, subdiretor­a-geral há vários anos, e uma unanimidad­e no setor, não queria. E isso era um mistério. A informação que chegava da DGS e do diretor-geral é que estaria ainda a recuperar do problema oncológico que a afetara alguns anos antes. E que acharia que isso poderia condiciona­r o desempenho num cargo que foi sempre exigente – como a própria bem sabia por experiênci­a próxima. Sugeriam-se, aliás, outros nomes, como Raquel Duarte, que viria a ser secretária de Estado mais tarde.

Ainda assim, o ministro e o secretário de Estado, Fernando Araújo – que hoje preside ao hospital de São

QUANDO O ANTECESSOR SAIU, SOUBE-SE NO MINISTÉRIO QUE NÃO QUERIA AVANÇAR. AFINAL, ERAM MESMO FAKE NEWS

João, por sinal unidade de referência para a covid 19, chamaram-na ao ministério. Não era uma mera reunião de trabalho, era mesmo pressão assumida. Queriam perceber o que se passava – e tentar convencê-la a concorrer ao procedimen­to aberto pela CRESAP para o posto. “Nós gostávamos muito dela, era uma pena”, assume Adalberto Campos Fernandes. E tiveram uma surpresa. Afinal, a indisponib­ilidade de que falavam os rumores nem era totalmente verdadeira: “Falámos com ela e lá a convencemo­s”, remata o ex-ministro, sem entrar em mais detalhes. “Ela não é uma mulher que precise do estrelato, do espaço público ou da exposição, não é vedeta. Sempre trabalhou muito na retaguarda com o

verdadeiro espírito que os ingleses designam de civil servant (de serviço público)”, continua o ex-ministro. Concorreu, e derrotou os outros dois candidatos. E calhou-lhe, agora – à mulher que não gosta de palco e que sempre se sentiu bem como número dois –, ter de fazer conferênci­as de imprensa diárias numa crise sem precedente­s.

Da nega à “senhora gripe”

Em 2017, a questão oncológica estava ultrapassa­da e as notícias de que não quereria passar a número um por modéstia eram claramente exageradas. Ou, como diz quem acompanhou esse processo, “ela nunca foi de se atravessar no caminho de ninguém – era aliás esse o argumento dela – e isso nesta área pode ser fatal. Percebia que havia movimentaç­ões para o lugar. Mas sabe muito bem o valor que tem. Não havia

ERA JÁ UMA PREFERIDA DOS JORNALISTA­S DA ÁREA DA SAÚDE: SABE TRADUZIR QUESTÕES TÉCNICAS DE FORMA ACESSÍVEL

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Graça Freitas tem sido a cara da crise, em conferênci­as de imprensa sucessivas
gh Graça Freitas tem sido a cara da crise, em conferênci­as de imprensa sucessivas
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