SÁBADO

COREIA DO SUL

- Testar, testar e vigiar, vigiar Maria Henrique Espada

hLuís Mah, professor do ISEG mas com um mestrado pela universida­de de Yonsei (Seul), lamenta que a Europa não tente aprender com o que tem sido feito nas democracia­s asiáticas: “Há uma certa arrogância ocidental em não olhar para o que podemos aprender com a experiênci­a deles”. Ao contrário da China, não houve quarentena­s em massa forçadas, mas sim sistemas de vigilância social “mais compatívei­s com sistemas políticos democrátic­os,” concretiza.

A Coreia do Sul terá neste momento a capacidade de fazer 20 mil testes ao dia e tem mais de 600 pontos de médicos para testes sem que as pessoas saíam dos carros e os resultados são conhecidos em 24 horas. Esta capacidade não caiu do céu. Em 2015, o país assustou-se com a epidemia MERS, e descobriu-se impreparad­o. Mas mudou: criou um sistema de fast-track, em colaboraçã­o com os privados, para permitir a produção rápida e em massa de testes.

Mas o segredo do aparente sucesso na contenção (passou de mais de 900 novos casos diários para 64 no dia 22) reside na vigilância total, em várias frentes: o controlo dos percursos dos infetados, com recurso a geolocaliz­ação dos telemóveis e dos cartões bancários. E informação aberta: os cidadãos até recebem, numa app no telemóvel, dados sobre onde estão e estiveram os infetados na sua área, de forma a evitarem esses locais. Além disso, a Coreia do Sul é um dos países com maior densidade de câmaras de vídeo em locais públicos no mundo, permitindo rastrear os percursos dos infetados – e ir em busca das pessoas com quem estiveram em contacto. O sucesso mede-se assim de duas formas: por um lado, a capacidade técnica para pôr a funcionar o sistema de controlo; por outro, “a vontade dos cidadãos em serem monitoriza­dos”, refere Luís Mah.

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