SÁBADO

NÃO DEIXE CAIR ESTA TAÇA

- Por Catarina Moura e Filipa Teixeira

ANTÓNIO CARVALHÃO e João Ferreira já viraram as suas vidas do avesso várias vezes: aprenderam a fazer ramen sozinhos, abriram um supper club, depois um restaurant­e e agora refizeram tudo, como uma boa parte dos pequenos restaurant­es que tentam resistir ao período de crise que se adivinha.

A sala do Ajitama, o seu restaurant­e em Lisboa, tornou-se um armazém de distribuiç­ão com sinalética improvisad­a. De máscaras e luvas, aposta-se tudo na entrega de ramen ao domicílio, quer próprio quer de outras empresas.

Num restaurant­e independen­te – sem grandes investidor­es por trás – os custos fixos são altos e dependem da faturação. Fechar as portas é a solução socialment­e mais responsáve­l, mas é também a que põe em perigo estes pequenos empresário­s.

Muitos dos que fecharam podem não voltar a abrir. Miguel Peres, dono e chef do Pigmeu, em Lisboa, esteve atento à forma como a situação evoluiu no estrangeir­o e dia 12 fechou, mesmo antes de começarem os cancelamen­tos de reservas.

Agora as entregas ao domicílio fazem-se através do site (pigmeu.pt) e ninguém entra no restaurant­e além dos quatro trabalhado­res. “Temos mais espaço entre nós, usamos máscaras, lavamos as mãos e desinfetam­os superfície­s de meia em meia hora. Quando chegamos e saímos medimos a temperatur­a e vamos começar a fazer as compras para casa a partir do restaurant­e [para não terem de ir ao supermerca­do]”, conta.

Rita Santos, da Comida Independen­te, faz também de ponte. Além dos três funcionári­os, ninguém entra na loja. De

20 em 20 minutos toca um alarme para que todos desin- Q

No meio da restauraçã­o acredita-se que muitos dos restaurant­es que agora fecham podem não conseguir voltar a abrir. Mas há ideias para resistir

O Ajitama está transforma­do num ponto de distribuiç­ão de ramen por Lisboa, através de app de entrega ou da própria equipa

fetem as mãos enquanto mantêm lenços na cara, à falta de máscaras. Ninguém estava preparado para montar esta operação, conta Rita.

Olavo, uma das caras desta mercearia, anda a fazer as entregas de mota — encomendas em valor superior a €20. Já foram um pouco fora da zona da Grande Lisboa (onde entregam) por causa de uma senhora fechada em casa com o filho e sem apoio e já ensinaram a fazer sopa pelo telefone a quem nunca tinha pegado numa varinha mágica. W

 ??  ?? Os pequenos restaurant­es e mercearias querem sobreviver à covid-19. Com cuidados redobrados, inventam soluções para trabalhar. Encomendar refeições é a forma de não os deixarmos cair.
Os pequenos restaurant­es e mercearias querem sobreviver à covid-19. Com cuidados redobrados, inventam soluções para trabalhar. Encomendar refeições é a forma de não os deixarmos cair.
 ??  ?? António e João, donos do Ajitama, preparam as encomendas para entrega em casa pela Uber Eats
António e João, donos do Ajitama, preparam as encomendas para entrega em casa pela Uber Eats
 ??  ?? Todos os ramen do Ajitama podem ser entregues em casa
Todos os ramen do Ajitama podem ser entregues em casa
 ??  ?? As encomendas são normalment­e deixadas à porta do prédio. No rés do chão, a entrega é feita pela janela
As encomendas são normalment­e deixadas à porta do prédio. No rés do chão, a entrega é feita pela janela

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