NÃO DEIXE CAIR ESTA TAÇA
ANTÓNIO CARVALHÃO e João Ferreira já viraram as suas vidas do avesso várias vezes: aprenderam a fazer ramen sozinhos, abriram um supper club, depois um restaurante e agora refizeram tudo, como uma boa parte dos pequenos restaurantes que tentam resistir ao período de crise que se adivinha.
A sala do Ajitama, o seu restaurante em Lisboa, tornou-se um armazém de distribuição com sinalética improvisada. De máscaras e luvas, aposta-se tudo na entrega de ramen ao domicílio, quer próprio quer de outras empresas.
Num restaurante independente – sem grandes investidores por trás – os custos fixos são altos e dependem da faturação. Fechar as portas é a solução socialmente mais responsável, mas é também a que põe em perigo estes pequenos empresários.
Muitos dos que fecharam podem não voltar a abrir. Miguel Peres, dono e chef do Pigmeu, em Lisboa, esteve atento à forma como a situação evoluiu no estrangeiro e dia 12 fechou, mesmo antes de começarem os cancelamentos de reservas.
Agora as entregas ao domicílio fazem-se através do site (pigmeu.pt) e ninguém entra no restaurante além dos quatro trabalhadores. “Temos mais espaço entre nós, usamos máscaras, lavamos as mãos e desinfetamos superfícies de meia em meia hora. Quando chegamos e saímos medimos a temperatura e vamos começar a fazer as compras para casa a partir do restaurante [para não terem de ir ao supermercado]”, conta.
Rita Santos, da Comida Independente, faz também de ponte. Além dos três funcionários, ninguém entra na loja. De
20 em 20 minutos toca um alarme para que todos desin- Q
No meio da restauração acredita-se que muitos dos restaurantes que agora fecham podem não conseguir voltar a abrir. Mas há ideias para resistir
O Ajitama está transformado num ponto de distribuição de ramen por Lisboa, através de app de entrega ou da própria equipa
fetem as mãos enquanto mantêm lenços na cara, à falta de máscaras. Ninguém estava preparado para montar esta operação, conta Rita.
Olavo, uma das caras desta mercearia, anda a fazer as entregas de mota — encomendas em valor superior a €20. Já foram um pouco fora da zona da Grande Lisboa (onde entregam) por causa de uma senhora fechada em casa com o filho e sem apoio e já ensinaram a fazer sopa pelo telefone a quem nunca tinha pegado numa varinha mágica. W