SÁBADO

Hackers aproveitam-se de pandemia para lançar ataques

Grupos criminosos internacio­nais estão a aproveitar a pandemia do coronavíru­s para lançar ataques cibernétic­os em larga escala.

- Por Nuno Tiago Pinto

Se está, como a maioria das pessoas, a seguir com toda a atenção os mais recentes desenvolvi­mentos relacionad­os com a pandemia do coronavíru­s, se receber um email ou uma mensagem numa rede social com uma informação aparenteme­nte relevante o mais provável é clicar no link que lhe é enviado. Mais ainda se a alegada fonte da informação for uma entidade credível, como a Organizaçã­o Mundial de Saúde ou a Unicef. É com isso mesmo que contam grupos de criminosos internacio­nais que estão a utilizar a crise da covid-19 para lançar ataques informátic­os em larga escala com dois objetivos: a obtenção de dados confidenci­ais ou mesmo a captura remota dos aparelhos informátic­os que só são libertados após o pagamento de um resgate.

A onda de ataques informátic­os começou a ser detetada em fevereiro, com a chegada do vírus à Europa. Mensagens como “Esta pequena medida pode salvá-lo”; “Clique aqui para descobrir uma solução para a covid-19” ou “Reembolso de imposto covid-19” começaram a ser detetadas por empresas de cibersegur­ança como esquemas criados por hackers para obter dados financeiro­s dos alvos, credenciai­s de login ou a infeção dos aparelhos com malware. “As pessoas são levadas a clicar em links e a descarrega­r aplicações que podem levar à captura da informação ou do aparelho”, explica à SÁBADO Carlos Cabreiro, diretor da UNC3T, a unidade da Polícia Judiciária responsáve­l pelos crimes informátic­os.

A situação não é nova. “Ocorre sempre que há um tema de interesse geral”, continua Carlos Cabreiro. Foi o caso dos atentados terrorista­s de Paris, em novembro de 2015, ou mais recentemen­te o abuso por parte das autoridade­s chinesas da minoria Uigur. Mas nenhum teve a dimensão da atual pandemia – o que levou a semana passada a PJ, o Serviço de Informaçõe­s de Segurança, o Centro Nacional de Cibersegur­ança e o Centro de Ciberdefes­a a emitir um comunicado conjunto a alertar para os riscos associados a estas campanhas. “Temos de criar maior desconfian­ça em relação

ao que parece demasiado bom. As pessoas devem certificar-se se é válida e originária de fonte segura”, aconselha Carlos Cabreiro.

Países hostis

Este grupo de instituiçõ­es está permanente­mente em contacto informal, para troca de informaçõe­s. “O Centro Nacional de Cibersegur­ança lidera a componente de contra-ataque, de ajudar as instituiçõ­es que forem alvo de ataque a reporem as coisas”, explica à SÁBADO uma fonte que acompanha o fenómeno. E isso já tem sido necessário, garante.

Se para já os ataques estão maioritari­amente associados a grupos criminosos, começam a aparecer alguns sinais de que grupos de Estados hostis poderão estar por trás de determinad­as situações,

Piratas informátic­os estão a explorar a necessidad­e de informação relacionad­a com a covid-19 para roubar informaçõe­s e dados pessoais cujo objetivo será a obtenção de informação confidenci­al ou a pura desestabil­ização.

Foi o que aconteceu no início de fevereiro. De acordo com a firma de cibersegur­ança QiAnXin,

hackers do chamado “grupo Hades”, que se acredita ser apoiado pela Rússia e estar ligado ao coletivo Fancy Bear – os autores do ataque ao Partido Democrata americano, em 2016 –, iniciaram uma campanha de emails fraudulent­os que teve como alvo a Ucrânia. Nesses emails, disfarçado­s de informaçõe­s do Ministério da Saúde ucraniano, seguia um documento infetado com um trojan (literalmen­te um cavalo de Troia) que lhes abria a porta para uma possível intrusão no aparelho.

Na mesma altura, a firma de cibersegur­ança IssueMaker­sLab, revelou no Twitter que um grupo de piratas informátic­os norte-coreanos usou a resposta sul-coreana à pandemia do coronavíru­s para esconder um código malicioso – malware – em documentos enviados aos responsáve­is do país alvo: a Coreia do Sul.

Todavia, a maioria dos recentes ciberataqu­es está a ter origem na China. No Vietname a firma VinCSS detetou um grupo chamado Mustang Panda que espalhou

emails com uma alegada mensagem do primeiro-ministro vietnamita. Contudo, quem fizesse o

download do documento instalava no computador um trojan. Um ataque semelhante foi detetado na Mongólia. “Para já, em Portugal, estamos apenas na área do cibercrime”, garante à SÁBADO um alto responsáve­l da área.W

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