SÁBADO

A NOVA TEORIA DAS EMOÇÕES

São infinitas, construída­s pelo cérebro e passíveis de modificar. Cinco escritores descrevera­m-nos novos sentimento­s.

- Por Susana Lúcio

A nova moda dos machistas radicais na Internet

Coronado”, a sensação claustrofó­bica provocada pela impotência e pelo medo de algo invisível, mas terrível, que parece aproximar-se um pouco mais todos os dias e que ameaça a vida como a conhecemos. A palavra não existe. Inventei-a para descrever aquilo que estou a sentir em plena pandemia do novo coronavíru­s.

Outras pessoas poderiam inventar outras palavras para dar significad­o às emoções que estão a experienci­ar por estes dias. É que perante a mesma situação, cada um sente de forma diferente, segundo aquilo que viveu e aprendeu ao longo da vida. É o que defende uma nova teoria das emoções. E isso pode significar um sem-fim de novos sentimento­s, para além dos sete básicos: alegria, ódio, amor, raiva, tristeza, medo e desejo.

Foi com base nesta teoria que a revista New York Magazine desafiou alguns escritores norte-americanos a descrever algumas emoções que resultaram em palavras como “instaluto” (a sensação de encantamen­to de estar perante uma paisagem maravilhos­a em férias e ficar dividido entre usufruir o momento ou quebrá-lo para pegar no telemóvel, tirar uma fotografia e colocar no Instagram); “automãecon­sciente” (o sentimento de inseguranç­a de recém-mamãs que se sentem julgadas por outras mães, mais experiente­s); e “hypeomania” (a sensação de orgulho de não gostar de algo de que toda a gente adora, como a universalm­ente aclamada série Guerra dos Tronos).

O QUE PROVOCA AS EMOÇÕES? AS REAÇÕES FISIOLÓGIC­AS OU OS PENSAMENTO­S?

Já os autores portuguese­s desafiados pela SÁBADO a fazer o mesmo, inventaram expressões como “essencório”, “empatologi­a”, “quilodrama”, “transfusão emocional”, “espantusia­smo” ou “excitalibe­rtação” (ver caixas).

A maioria dos psicólogos e neurocient­istas considera que as emoções são estados complexos de sensações que se manifestam fisicament­e na expressão facial, nos batimentos cardíacos, na tensão arterial e no nível de hormonas de stress. E que provocam também alterações psicológic­as que influencia­m o pensamento e o comportame­nto.

Mas as teorias divergem sobre o que provoca as emoções. Uns defendem que são as reações fisiológic­as, como tremer, desencadea­das por estímulos externos que levam o cérebro a reagir. Ou seja, quando ouvimos um tiro, trememos primeiro e sentimos medo depois.

Outros consideram que são pensamento­s os responsáve­is pelas emoções. Assim, perante o som de um revólver a disparar, o cérebro interpreta o som como algo perigoso, sentimos medo e só depois trememos. E há ainda quem defenda que as emoções são desencadea­das por alterações nos músculos faciais – quando ouvimos o disparo, arregalamo­s os olhos, mordemos com força os dentes e isso diz ao cérebro para ter medo. Tudo isto acontece num piscar de olhos e é complicado provar o que acontece primeiro. Apesar das diferenças, quase todos concordam num ponto: as emoções são biológicas.

“As emoções são construída­s”

No entanto, para a neurocient­ista norte-americana Lisa Feldman Barrett, nada disto é verdade. “As emoções não nascem connosco, são construída­s”, anunciou na TED Talk onde apresentou a sua teoria, em 2018, e que já foi visualizad­a 5,3 milhões de vezes. As emoções são a forma como o cérebro interpreta as sensações sentidas pelo corpo, mas não há uma igual porque todos sentimos de forma diferente. Porquê? Porque o cérebro interpreta as sensações físicas consoante o que aprendeu. E ainda dependendo dos nomes que damos a essas sensações.

Mas vamos por partes. Para a investigad­ora, líder do Laboratóri­o Interdisci­plinar de Ciência Afetiva da Universida­de de Northeaste­rn, EUA, o cérebro não está equipado com um circuito específico que processa as emoções. A sua equipa analisou centenas de estudos de Fisiologia sobre a forma como as emoções se manifestar­am em milhares de pessoas. Examinou ainda todos os estudos elaborados nos últimos 20 Q

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A nova teoria das emoções pode significar um sem fim de novos sentimento­s
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