A NOVA TEORIA DAS EMOÇÕES
São infinitas, construídas pelo cérebro e passíveis de modificar. Cinco escritores descreveram-nos novos sentimentos.
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Coronado”, a sensação claustrofóbica provocada pela impotência e pelo medo de algo invisível, mas terrível, que parece aproximar-se um pouco mais todos os dias e que ameaça a vida como a conhecemos. A palavra não existe. Inventei-a para descrever aquilo que estou a sentir em plena pandemia do novo coronavírus.
Outras pessoas poderiam inventar outras palavras para dar significado às emoções que estão a experienciar por estes dias. É que perante a mesma situação, cada um sente de forma diferente, segundo aquilo que viveu e aprendeu ao longo da vida. É o que defende uma nova teoria das emoções. E isso pode significar um sem-fim de novos sentimentos, para além dos sete básicos: alegria, ódio, amor, raiva, tristeza, medo e desejo.
Foi com base nesta teoria que a revista New York Magazine desafiou alguns escritores norte-americanos a descrever algumas emoções que resultaram em palavras como “instaluto” (a sensação de encantamento de estar perante uma paisagem maravilhosa em férias e ficar dividido entre usufruir o momento ou quebrá-lo para pegar no telemóvel, tirar uma fotografia e colocar no Instagram); “automãeconsciente” (o sentimento de insegurança de recém-mamãs que se sentem julgadas por outras mães, mais experientes); e “hypeomania” (a sensação de orgulho de não gostar de algo de que toda a gente adora, como a universalmente aclamada série Guerra dos Tronos).
O QUE PROVOCA AS EMOÇÕES? AS REAÇÕES FISIOLÓGICAS OU OS PENSAMENTOS?
Já os autores portugueses desafiados pela SÁBADO a fazer o mesmo, inventaram expressões como “essencório”, “empatologia”, “quilodrama”, “transfusão emocional”, “espantusiasmo” ou “excitalibertação” (ver caixas).
A maioria dos psicólogos e neurocientistas considera que as emoções são estados complexos de sensações que se manifestam fisicamente na expressão facial, nos batimentos cardíacos, na tensão arterial e no nível de hormonas de stress. E que provocam também alterações psicológicas que influenciam o pensamento e o comportamento.
Mas as teorias divergem sobre o que provoca as emoções. Uns defendem que são as reações fisiológicas, como tremer, desencadeadas por estímulos externos que levam o cérebro a reagir. Ou seja, quando ouvimos um tiro, trememos primeiro e sentimos medo depois.
Outros consideram que são pensamentos os responsáveis pelas emoções. Assim, perante o som de um revólver a disparar, o cérebro interpreta o som como algo perigoso, sentimos medo e só depois trememos. E há ainda quem defenda que as emoções são desencadeadas por alterações nos músculos faciais – quando ouvimos o disparo, arregalamos os olhos, mordemos com força os dentes e isso diz ao cérebro para ter medo. Tudo isto acontece num piscar de olhos e é complicado provar o que acontece primeiro. Apesar das diferenças, quase todos concordam num ponto: as emoções são biológicas.
“As emoções são construídas”
No entanto, para a neurocientista norte-americana Lisa Feldman Barrett, nada disto é verdade. “As emoções não nascem connosco, são construídas”, anunciou na TED Talk onde apresentou a sua teoria, em 2018, e que já foi visualizada 5,3 milhões de vezes. As emoções são a forma como o cérebro interpreta as sensações sentidas pelo corpo, mas não há uma igual porque todos sentimos de forma diferente. Porquê? Porque o cérebro interpreta as sensações físicas consoante o que aprendeu. E ainda dependendo dos nomes que damos a essas sensações.
Mas vamos por partes. Para a investigadora, líder do Laboratório Interdisciplinar de Ciência Afetiva da Universidade de Northeastern, EUA, o cérebro não está equipado com um circuito específico que processa as emoções. A sua equipa analisou centenas de estudos de Fisiologia sobre a forma como as emoções se manifestaram em milhares de pessoas. Examinou ainda todos os estudos elaborados nos últimos 20 Q