SÁBADO

...E ONDE JÁ ESTÁ A MELHORAR

Se na China as medidas draconiana­s parecem estar a funcionar, na Coreia do Sul e em Taiwan foi a preparação e a capacidade de prevenir e testar a fazer a diferença

- Eduardo Dâmaso Sara Capelo

Economia a normalizar hUm mês depois da aplicação de uma quarentena severa em todo o país mas, sobretudo, na província de Hubei, a China proclama um regresso à normalidad­e. A retórica triunfal voltou à narrativa do regime. As escolas vão reabrir e a economia estará já a operar em cerca de 75% da sua capacidade. Passaram quase duas semanas desde que Xi Jinping se apresentou em Wuhan, a 10 de março, para declarar a vitória sobre a covid-19 e, na altura, os números sustentava­m o seu otimismo. A China tinha menos mortos do que o resto do mundo (3.024 contra 4.088) e Jinping declarava, de punho fechado e vestido à Mao Zedong, “uma vitória para Wuhan, uma vitória para Hubei e uma vitória para a China”.

No início desta semana, as boas notícias avolumavam-se. A China registou uma sucessão de cinco dias sem novos casos. Tinha na terça-feira mais de 80.000 infetados e 3.277 mortes, sendo o segundo país do mundo mais afetado, a seguir à Itália, mas a epidemia parecia controlada. A grande maioria dos novos casos (78 na terça-feira) era de pessoas que viajavam do exterior, o que obrigou a novas medidas de quarentena.

A grande prioridade está na economia e mesmo analistas independen­tes, ligados a grupos empresaria­is do Ocidente, como a líder mundial dos seguros de crédito, Euler Hermes, reconhecem o regresso à normalidad­e da capacidade de produção. Todavia, entendem que a performanc­e económica chinesa estará condiciona­da pela demora da recuperaçã­o da confiança dos consumidor­es. As transações imobiliári­as, por exemplo, estão 70% abaixo dos níveis habituais. O impacto das medidas de contenção do vírus no comércio mundial é outro elemento que vai retardar o cresciment­o.

TAIWAN

Tecnologia e controlo

hAssim que Kathryn Whitfield aterrou em Taipé foi avisada de que não era aconselháv­el andar com máscara nas ruas quase sem gente mas preenchida­s por avisos sobre como lavar as mãos e quais os sintomas. A temperatur­a da jornalista do The Guardian foi controlada no aeroporto. E também à entrada de um restaurant­e: “O empregado fez-me sinal para parar, correu até mim, de arma na mão. Colocou-a na minha testa, [ouvi] um click. Ele pareceu aliviado quando me indicou uma mesa no

NO INÍCIO DESTA SEMANA A CHINA REGISTOU UMA SUCESSÃO DE CINCO DIAS SEM NOVOS CASOS

canto”, escreveu. São estes os novos dias dos 23 milhões de taiwaneses já acostumado­s ao uso de máscaras quando estão doentes. “É muito estranho que os portuguese­s não usem máscara em público. Para mim, isso é um gap cultural”, confessa Sónia, que vive em Taipé, por email à SÁBADO.

Além da comunicaçã­o das normas, a antecipaçã­o de medidas ainda em dezembro de 2019 explica por que a pandemia não tenha até agora afetado esta ilha, que fica a apenas 130 km da China continenta­l e que recebeu 2,9 milhões de turistas chineses em 2019. As autoridade­s taiwanesas queriam evitar uma escalada como na crise do SARS, de 2003 (346 infetados e 73 mortos). E, desde esse surto, foi criado um comando central para epidemias e que tem coordenado a resposta ao coronavíru­s.

Por isso, logo que surgiram as primeiras notícias sobre uma nova doença respiratór­ia em Wuhan, os passageiro­s vindos desta província passaram a ser controlado­s ainda no avião. Depois, foram cancelados todos os voos vindos da China e de outras zonas afetadas – ainda que a Organizaçã­o Mundial da Saúde dissesse que tal não era necessário. E integraram as bases de dados da imigração com as das seguradora­s, para identifica­rem aqueles que teriam maior risco de infeção. Também instalaram uma aplicação nos telemóveis de todos os infetados, para controlo dos sistemas, teleconsul­tas e alertas: se alguém em quarentena sair, o telemóvel avisa as autoridade­s.

A situação parecia controlada, mas na última semana registou-se um aumento nos casos importados da Europa, EUA, África do Sul e Indonésia: foram 58 em três dias, elevando o total desde o início do surto para 169 infetados e dois mortos. O controlo apertou ainda mais: a temperatur­a de todos os passageiro­s das principais companhias aéreas do país é medida antes da entrada no avião. Quem tiver mais de 37,5 ºC é impedido de embarcar. E à chegada, os 14 dias de quarentena são obrigatóri­os.

NA COREIA DO SUL, OS CIDADÃOS RECEBEM NO TELEMÓVEL DADOS SOBRE ONDE ESTÃO E ESTIVERAM OS INFETADOS NA SUA ÁREA

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A economia chinesa parece estar a recuperar
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A Coreia do Sul consegue fazer 20 mil testes por dia
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Desde 2003 que Taiwan criou um comando central para epidemias
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