...E ONDE JÁ ESTÁ A MELHORAR
Se na China as medidas draconianas parecem estar a funcionar, na Coreia do Sul e em Taiwan foi a preparação e a capacidade de prevenir e testar a fazer a diferença
Economia a normalizar hUm mês depois da aplicação de uma quarentena severa em todo o país mas, sobretudo, na província de Hubei, a China proclama um regresso à normalidade. A retórica triunfal voltou à narrativa do regime. As escolas vão reabrir e a economia estará já a operar em cerca de 75% da sua capacidade. Passaram quase duas semanas desde que Xi Jinping se apresentou em Wuhan, a 10 de março, para declarar a vitória sobre a covid-19 e, na altura, os números sustentavam o seu otimismo. A China tinha menos mortos do que o resto do mundo (3.024 contra 4.088) e Jinping declarava, de punho fechado e vestido à Mao Zedong, “uma vitória para Wuhan, uma vitória para Hubei e uma vitória para a China”.
No início desta semana, as boas notícias avolumavam-se. A China registou uma sucessão de cinco dias sem novos casos. Tinha na terça-feira mais de 80.000 infetados e 3.277 mortes, sendo o segundo país do mundo mais afetado, a seguir à Itália, mas a epidemia parecia controlada. A grande maioria dos novos casos (78 na terça-feira) era de pessoas que viajavam do exterior, o que obrigou a novas medidas de quarentena.
A grande prioridade está na economia e mesmo analistas independentes, ligados a grupos empresariais do Ocidente, como a líder mundial dos seguros de crédito, Euler Hermes, reconhecem o regresso à normalidade da capacidade de produção. Todavia, entendem que a performance económica chinesa estará condicionada pela demora da recuperação da confiança dos consumidores. As transações imobiliárias, por exemplo, estão 70% abaixo dos níveis habituais. O impacto das medidas de contenção do vírus no comércio mundial é outro elemento que vai retardar o crescimento.
TAIWAN
Tecnologia e controlo
hAssim que Kathryn Whitfield aterrou em Taipé foi avisada de que não era aconselhável andar com máscara nas ruas quase sem gente mas preenchidas por avisos sobre como lavar as mãos e quais os sintomas. A temperatura da jornalista do The Guardian foi controlada no aeroporto. E também à entrada de um restaurante: “O empregado fez-me sinal para parar, correu até mim, de arma na mão. Colocou-a na minha testa, [ouvi] um click. Ele pareceu aliviado quando me indicou uma mesa no
NO INÍCIO DESTA SEMANA A CHINA REGISTOU UMA SUCESSÃO DE CINCO DIAS SEM NOVOS CASOS
canto”, escreveu. São estes os novos dias dos 23 milhões de taiwaneses já acostumados ao uso de máscaras quando estão doentes. “É muito estranho que os portugueses não usem máscara em público. Para mim, isso é um gap cultural”, confessa Sónia, que vive em Taipé, por email à SÁBADO.
Além da comunicação das normas, a antecipação de medidas ainda em dezembro de 2019 explica por que a pandemia não tenha até agora afetado esta ilha, que fica a apenas 130 km da China continental e que recebeu 2,9 milhões de turistas chineses em 2019. As autoridades taiwanesas queriam evitar uma escalada como na crise do SARS, de 2003 (346 infetados e 73 mortos). E, desde esse surto, foi criado um comando central para epidemias e que tem coordenado a resposta ao coronavírus.
Por isso, logo que surgiram as primeiras notícias sobre uma nova doença respiratória em Wuhan, os passageiros vindos desta província passaram a ser controlados ainda no avião. Depois, foram cancelados todos os voos vindos da China e de outras zonas afetadas – ainda que a Organização Mundial da Saúde dissesse que tal não era necessário. E integraram as bases de dados da imigração com as das seguradoras, para identificarem aqueles que teriam maior risco de infeção. Também instalaram uma aplicação nos telemóveis de todos os infetados, para controlo dos sistemas, teleconsultas e alertas: se alguém em quarentena sair, o telemóvel avisa as autoridades.
A situação parecia controlada, mas na última semana registou-se um aumento nos casos importados da Europa, EUA, África do Sul e Indonésia: foram 58 em três dias, elevando o total desde o início do surto para 169 infetados e dois mortos. O controlo apertou ainda mais: a temperatura de todos os passageiros das principais companhias aéreas do país é medida antes da entrada no avião. Quem tiver mais de 37,5 ºC é impedido de embarcar. E à chegada, os 14 dias de quarentena são obrigatórios.
NA COREIA DO SUL, OS CIDADÃOS RECEBEM NO TELEMÓVEL DADOS SOBRE ONDE ESTÃO E ESTIVERAM OS INFETADOS NA SUA ÁREA