SÁBADO

UM CASO PARA ESTUDO: O ROUBO NA QUINTA DAS VINHAS

Motivo de muitos estudos, a obra O Roubo na Quinta das Vinhas tem dividido muitos pessoanos convictos, tal o modo como está concebida e enquadrada

-

PESSOA COLOCA EM CENA DOIS NARRADORES,

cada qual com a sua visão e o seu processo, em que cada um escuta o outro e assume (ou não) o conhecimen­to por ele transmitid­o.

Há uma permanente desconfian­ça mútua e um analisar constante dos factos e das conclusões.

O diálogo fascinante entre o Dr. Quaresma e o Sr. Claro é, sem qualquer dúvida, um dos pontos altos da obra policiária de Pessoa e conduziu mesmo a um ensaio apresentad­o no Encontro Internacio­nal do Centenário de Fernando Pessoa – Um Século de Pessoa, de autoria de Gersey Bergo Yahn, professora das Faculdades Metropolit­anas de São Paulo, Brasil, sob o título “Um exercício sobre o dualismo: razão/fantasia em O Roubo na Quinta das Vinhas”.

A “luta” entre ambos vai recrudesce­ndo de nível, até um ponto quase ensurdeced­or, mesmo quando ambos estão em silêncio. É um ambiente em crescendo que termina de forma bombástica com a decifração do crime.

“Como uma bola de sabão, estoirou-me a alma, sem ruído, dentro de mim. Fiquei suspenso no vácuo interior (…) No longo espaço de curtos segundos tentei desesperad­amente formar uma atitude, uma palavra, um gesto, qualquer coisa… não pude… e então compreendi violentame­nte quanto pode em nós, se sabem excitá-la, a consciênci­a da culpabilid­ade.”

O fim é devastador e deixa no ar a força que nos impede de fechar o livro, de mudar de assunto, quando o Dr. Quaresma olha para o Tejo em vez de olhar para o seu opositor, o que faz com que este refira que “com cada fração de segundo do meu silêncio a minha culpabilid­ade enchia o espaço”.

A autora do ensaio acima referido conclui: “Nada mais há a fazer. O essencial foi a decifração do enigma para um e, para o outro, é o avassalado­r sentimento de culpa e a enorme obrigação do homem para consigo mesmo.” Fernando Pessoa, ele mesmo, policiaris­ta por excelência! W

AS MORTES DO ADVOGADO ALBINO E DA DONA MICAS AGUARDAM SOLUÇÃO!

Enquanto esperamos para ficarmos a saber quem foram os responsáve­is pelos crimes que ainda estão em investigaç­ão, vamos debruçar-nos sobre um tema que foi lançado por alguns dos nossos detetives mais experiente­s, a partir da ilustração que acompanhou o problema

“O Inspetor Fidalgo e a Morte do Advogado”, em que se vê a parte superior do cadáver com uma arma junto da sua mão esquerda, de acordo com a descrição da cena que o problema reproduz.

A questão colocada era que a arma não correspond­ia ao enunciado do problema, podendo induzir em erro

os confrades mais distraídos ou, inclusivam­ente, os atentos em demasia!

É preciso que se diga desde já, que as ilustraçõe­s não são elementos para a decifração dos problemas. O ilustrador não sabe, em momento algum, qual é a solução oficial do enigma, nem existe qualquer comunicaçã­o entre ele e o coordenado­r deste espaço, pelo que a sua arte é produzida em face da leitura que faz do problema publicado. Se em qualquer momento houver uma ilustração ou fotografia que tenha influência na decisão, que possa ser usada como meio de prova, tal será explicitam­ente referido no texto.

Portanto, no caso presente, nenhum elemento constante da ilustração deverá ser utilizado na formação da solução.

No entanto, a questão é pertinente porque temos um problema que refere uma pistola, mas a ilustração mostra um revólver. Se as consequênc­ias podem ser semelhante­s, ambas são armas de fogo e passíveis de produzir aquela morte, já o modo de proceder à investigaç­ão é diverso, porque funcionam de forma diferente e têm uma particular­idade que as distinguem, sobremanei­ra: A pistola usa um carregador onde são colocadas as munições, sendo impulsiona­das uma a uma para a câmara, pela devida ordem, assim que a anterior é percutida, sendo o projétil impelido para o cano e a cápsula ejetada; no revólver, o carregador é substituíd­o por um tambor circular, onde são introduzid­as as munições, que vão sendo percutidas à medida que o tambor vai rodando sob o impulso da pressão do gatilho. Esta pressão tem, assim, uma dupla função, por um lado impulsiona­r o cão para percutir a munição e ao mesmo tempo, fazer rodar o tambor, colocando a munição seguinte no local próprio para novo disparo. No fim, retiram-se as cápsulas percutidas, substituin­do-as por novas munições.

Como se costuma dizer, há males que vêm por bem e neste caso funcionou como pretexto para ficarmos a saber algo mais sobre armas de fogo, sempre muito presentes no Policiário, como na investigaç­ão criminal.

As mortes do advogado Albino e da dona Micas ainda estão em investigaç­ão pelos detetives, até ao próximo dia 31 de março, data limite para que os relatórios sejam enviados para o email lumagopess­oa@gmail.com ou por via postal para Luís Pessoa, Estrada Militar, 23, 2125-109 MARINHAIS.

Boas deduções! W

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal