OS SOBREVIVENTES
Conheça cinco pessoas que ficaram infetadas, algumas em estado grave, e que estão curadas
A dor era insuportável, mesmo com a medicação não passava. A sensação que tinha era que, se me mexesse, a cabeça ia cair
Não sabiam o que os esperava e o desconhecimento da doença foi o que mais os assustou. Tiveram de experimentar medicamentos, sem saber quais seriam os efeitos secundários, ou de se isolarem dos próprios filhos em casa. Mas conseguiram curar-se. Estas são as suas histórias, exemplos de como a doença não os travou. Por Lucília Galha
Adoença mudou-lhes a vida de forma repentina: os pulmões de Inês ficaram tão afetados que o seu corpo quase entrou em falência; Sílvia isolou-se do próprio filho em casa; Carlos esteve 15 dias a arder em febre; Tiago, de apenas 15 meses, teve de deixar de mamar à força e Júlia mentiu para garantir que recebia os cuidados necessários. Os seis sobreviveram à Covid-19. Segundo as orientações da DGS, o critério para ser considerado curado é ter dois testes à doença negativos, com um intervalo de 24 horas. Até esta terça-feira, 31 de março, existiam 43 portugueses curados da Covid-19. Apesar de o pior já estar ultrapassado, não têm dúvidas: venceram uma batalha, mas a guerra continua.
A PRIMEIRA “CRIANÇA” INFETADA
INÊS CERQUEIRA, 18 ANOS h Naqueles oito dias em que esteve internada, de 8 a 15 de março, a mãe nunca lhe largou a mão. E quando, finalmente, Inês começou a melhorar, mãe e filha uniram os dedos indicadores e disseram ao mesmo tempo: “E.T.” Têm uma fotografia desse momento. Aquela semana ainda não está esquecida. Carla Nunes não dorme sem pensar no que aconteceu. Inês cansava-se até a falar. Não tinha falta de oxigénio, mas os dois pulmões estavam afetados. Passava a maior parte
do tempo a dormir e não podia sequer mexer a cabeça. “A dor era insuportável, mesmo com a medicação não passava. A sensação que tinha era que, se me mexesse, a minha cabeça ia cair”, descreve à SÁBADO. Não se sentia assustada porque não tinha sequer discernimento para isso. Mas a mãe tinha. Inês Cerqueira, 18 anos, foi a primeira “criança” infetada pela Covid-19 em Portugal – como tem síndrome de Asperger, para que a mãe ficasse com ela tinha de ser internada no Hospital Dona Estefânia (pediátrico). “Era uma realidade nova para todos. Um dia depois de ouvir a notícia do primeiro caso, tinha um em casa”, diz Carla Nunes.
Terá sido na Escola Secundária da Amadora, onde frequenta o 11º ano, que foi infetada. A 6 de março, começou com febre e dores fortes nas costas, na zona dos rins. Apareceram de um momento para o outro. Assim como aquela dor de cabeça lancinante. Agravou rapidamente: a febre não baixava e deixou de conseguir levantar-se da cama. Da segunda vez que ligou para a SNS24, decidiram enviar uma ambulância para levá-la a fazer o teste. Inês tinha muitas dores e frio. E sede: tanta que, pelo caminho, o enfermeiro do INEM mandou parar a ambulância para lhe comprar uma garrafa de água. Quando chegou ao hospital, já com 41,7 graus, colheram sangue e fizeram-lhe duas zaragatoas: no nariz e na boca. No dia seguinte soube que deu positivo.
Passou aquela primeira noite a gemer, os batimentos elevados, a tensão alta. “Nessa noite não consegui dormir, nem nas três seguintes”, recorda a mãe, Carla. Na manhã seguinte, o estado dela agravou-se: a infeção começava a afetar os outros órgãos. “Nesse momento, fiquei sem chão. Tive de assinar um consentimento informado para os médicos poderem agir. Explicaram-me que iam usar medicamentos para doenças como o VIH, a malária e o ébola. Não sabiam se iria resultar, mas disseram-me que, mesmo que tivesse consequências, valeria o risco”, explica.
Os profissionais de saúde só entravam no quarto para o estritamente necessário. Carla Nunes tinha um intercomunicador e os enfermeiros controlavam os batimentos e a tensão pela janela de vidro da porta – sem entrar. A comida era deixada na antecâmara do quarto, onde ficava a casa de banho (que era desinfetada e limpa mais de três vezes por dia). Inês só se levantava para lá ir e precisava de ajuda. Mas, ao fim de três dias, surpreendeu a mãe. “Acordou animada e disse que queria ir sozinha. ‘Já me sinto capaz.’ Fiquei toda a tremer, mas respeitei, e fui atrás dela”, conta. Nessa manhã receberam também boas notícias dos médicos: a infeção estava a melhorar.
Depois de dois testes negativos voltou a casa, para terminar a recuperação – já havia mais duas crianças infetadas naquele quarto. No dia da alta, talvez pela descompressão, a mãe começou a ter febre e dores no corpo. Estão, desde então, as duas isoladas em casa, cada uma em seu quarto – e o pai e o irmão mais novo, de 7 anos, noutro. Inês terminou o antibiótico e já começou a fazer os trabalhos da escola, porque não quer perder o ano. “Ia perdendo a vida, foi uma luta, mas estou viva”, diz à SÁBADO.
JÚLIA DESINFETAVA AS COMPRAS QUE O IRMÃO LHE TRAZIA A CASA: PULVERIZAVA-AS COM ÁLCOOL
UMA MENTIRA QUE SALVOU VIDAS
JÚLIA LANDOLT SOUSA, 50 ANOS h Fez aquilo que nunca tinha feito: mentir a um profissional de saúde. Mas não se arrepende. “Estava com muito medo, afinal, pertenço a um grupo de risco, tenho uma doença crónica, estou imunodeprimida, sou asmática, tinha febre, dores musculares e não precisava de fazer o teste?”, diz à SÁBADO. Tinha razão: estava mesmo infetada.
Aquela era já a terceira vez que Júlia Landolt Sousa tentava alertar as autoridades para o seu estado. Fez Q
Estava com muito medo. Afinal, pertenço a um grupo de risco, tenho uma doença crónica, estou imunodeprimida
JÚLIA SOUSA NÃO TINHA CRITÉRIOS PARA SER TESTADA. FOI AO SÃO JOÃO E DISSE QUE TINHA ESTADO COM UMA PESSOA INFETADA. DEU POSITIVO
O FILHO DE SÍLVIA, DE 11 ANOS, DISSE-LHE QUE TINHA SAUDADES DE LHE DAR UM ABRAÇO E O CORAÇÃO DA MÃE ESTREMECEU DE DOR Tinha aquela sensação de frio de quando vamos à neve e o ar entra e parece cortar tudo lá dentro
Q uma primeira tentativa para a SNS24 no dia 12 de março – um dia depois de surgirem os primeiros sintomas (febre baixa, tosse, pieira, dores de cabeça e dores nas costas). A chamada não correu bem, ouvia-se aos cortes e caiu. Segunda tentativa, quatro dias depois, quando voltou a ter febre (38 graus). “Os sintomas podiam ser de facto apenas de uma gripe, mas eu também não sabia, porque nunca tinha tido gripe”, conta. Esperou uma hora e meia que lhe atendessem a chamada. Perguntaram-lhe se tinha tido contacto com alguém infetado. “Que eu soubesse, não. Mas, como poderia ter a certeza? Não há conhecimento de pessoas assintomáticas portadoras do vírus?”, interroga. Voltaram a dizer-lhe que não tinha critérios para ser testada. No dia seguinte, persistiu: foi ao Hospital de São João sozinha e disse que conhecia uma pessoa que recebera um resultado positivo. “O mais lamentável é pensar que poderia ter saído do hospital sem ter feito o teste e poder, sem saber, ter contagiado outras pessoas”, diz a professora do 3º Ciclo e Secundário, que vive no Porto. Nunca soube como se infetou.
Há uns tempos que a família insistia que ela se preparasse para o pior. Não valorizou. “Mas houve uma frase do meu pai que não esqueci. Disse-me: ‘Faz o que te digo, tenho 74 anos e nunca vi uma situação destas’”, recorda. Para o tranquilizar, um dia antes de aparecerem os primeiros sintomas (ainda sem saber o que a esperava), abasteceu a casa.
Apesar do resultado positivo, e do RX ter alterações, fez a recuperação em casa. Vive sozinha, por isso, a gestão do espaço não foi problema. Esteve 17 dias assustada com a possibilidade de a sua situação se complicar. Não aconteceu – só teve sono, frio, algumas dores e um mal-estar geral. Enquanto esteve infetada, o irmão trazia-lhe o que precisava. “Obrigava-o a deixar as compras à porta e só quando ele entrava no elevador é que abria para as recolher”, diz. Tinha um ritual de desinfeção: espalhava as compras numa toalha e pulverizava-as com álcool. Depois lavava-as. Também fazia uma limpeza à casa e mudava a roupa da cama e o pijama todos os dias.
Após dois testes negativos, feitos em casa por uma equipa do Serviço de Doenças Infetocontagiosas do São João, foi dada como “curada” – a 27 de março. “Estou aliviada, mas não despreocupada. Em relação à imunidade ainda não há muitas evidências científicas”, diz. Ainda se sente cansada, tem alguma tosse e dores de cabeça, mas são coisas menores. “Não acredito como correu tão bem.”
ISOLADA DO PRÓPRIO FILHO
SÍLVIA CUNHA, 41 ANOS h O isolamento só tinha começado há três ou quatro dias, quando José Rodrigo, 11 anos, disse à mãe: “Tenho tantas saudades de te dar um abraço.” Sílvia Cunha sentiu um aperto no peito, mas manteve-se firme. “Naquele momento, a minha vontade era correr para ele”, diz à SÁBADO. Estava infetada, mas ele não. Antes de isso acontecer, todos os dias lhe dava um beijo na boca e um abraço, quando ia dormir.
Estava sozinha em casa com ele – o mais velho ficou de quarentena em Coimbra (onde estuda) e o marido estava internado no Hospital de Santo António, também com Covid-19. Também queriam interná-la, mas a comercial não tinha a quem deixar o filho. Da família, direta e indireta, 21 pessoas ficaram infetadas. “O contágio foi através da minha família. O meu marido é colega do Casimiro [um dos primeiros infetados e o primeiro a recuperar] na fábrica de calçado de Santo Estêvão”, explica. Não foi fácil convencer os profissionais de saúde, mas conseguiu: foi o primeiro caso de internamento domiciliário em Portugal. No sábado, 7 de março, depois de saber o resultado, começou a adaptar a casa – não podia ter mais contacto com o filho. Limpou tudo, com água e lixívia, e reservou três espaços para ele: o quarto, a sala e uma casa de banho, todos no rés-do-chão. Ela ficou no chalé, no primeiro piso. Só descia para lhe dar as refeições – trazidas de fora, por amigos –, e avisava sempre que o fazia: “Vou descer, Rodrigo.” Também lhe abasteceu o quarto com cereais, pão, fruta, um garrafão de água e talheres e copos descartáveis. Manuseava tudo de luvas e máscara. Ambos tinham de medir a temperatura, de 2 em 2 horas (com o mesmo termómetro, desinfetado), e recebiam diariamente uma chamada do Hospital de São João para saber dos sintomas.
Sílvia Cunha não teve tempo para estar doente – embora não estivesse bem. Começou por ter sintomas de uma gripe que se agravaram, sobretudo a tosse. “Depois de um ataque, precisava de parar para respirar. Tinha aquela sensação de quando vamos à neve e o ar entra e parece cortar tudo lá dentro”, descreve. Na véspera do teste, nem a bexiga já controlava. “Sempre que tossia, os músculos descontraíam. Passei o dia a trocar de roupa”, diz. Teve de agir rapidamente, para impedir que mais pessoas fossem infetadas: como a mãe, e o filho mais velho.
Já com sintomas, teve contacto com inúmeras pessoas. “Não havia casos em Portugal e ainda se brincava com o assunto”, justifica. Na segunda-feira, 24 de fevereiro, esteve num baile de Carnaval com o marido (mascarados de Luigi e esposa, do jogo Super Mario), na quarta-feira visitou 10 empresas, na sexta-feira ficou na sede e, à noite, foi à reunião da Assembleia Municipal (em Idães, Felgueiras). Houve um dia em que foi ao dentista e, a 1 de março, teve o aniversário do filho mais novo, com a família.
No sábado, 20 de março, foi considerada curada – os sintomas desapareceram. Mas ainda não respira de forma normal. “Não sei se por causa da ansiedade, se pelo desgaste de estrabalho
CARLOS NÃO CONSEGUIA DORMIR NA POSIÇÃO HORIZONTAL. PERDEU CINCO QUILOS NUMA SEMANA
tar sozinha – com medo pelo meu marido e pelo meu filho –, ou se o vírus deixou cá alguma coisa”, diz. Já beijou e abraçou o filho, o marido também já está em casa, mas ainda falta uma coisa: o reencontro com o mais velho, Lucas, 18 anos, que ainda está em Coimbra.
15 DIAS A ARDER EM FEBRE
CARLOS PINTO, 48 ANOS h A pior fase da doença foi passada em casa. Esteve 15 dias com febre, de 27 de fevereiro a 12 de março – o dia em que foi internado no Hospital de São João. Já não se lembrava do que era dormir sem sentir o corpo a arder: todas as noites acordava encharcado e tinha de tomar banho e mudar de roupa. E não era só isso que o incomodava: também sentia uma dor intensa no peito e não conseguia dormir na posição horizontal, nem falar sem tossir. Perdeu cinco quilos nessas duas semanas.
Demorou a ser internado “porque não reunia as condições para fazer o teste” – disseram-lhe das duas vezes que ligou para a linha SNS24, nesse período. O diretor comercial de uma empresa de ferramentas, de Santa Maria da Feira, não percebia como. O dele consiste em viajar: passa uma semana no estrangeiro e, outra, pelo País. Nas semanas anteriores tinha estado em Barcelona, Valência, em Tenerife, na Gran Canária, oito horas em trânsito no aeroporto de Barajas (em Madrid) e Saragoça. A mulher também tinha viajado para os Estados Unidos e passou por três aeroportos. Quando começou a ter sintomas, só deixou de trabalhar porque o médico de um hospital privado, na Maia, lhe passou baixa. “Desconfiou daquela aparente gripe, mais agressiva”, recorda. Carlos cumpriu, mas ficou admirado.
Só pôde fazer o teste depois de saber que um colega estava infetado. A sua mulher também deu positivo, mas a filha, de 3 anos, escapou. A primeira noite que dormiu sem febre já foi no Hospital de São João – onde, até ter alta, a 17 de março, esteve sempre com um cateter nasal (que lhe fornecia oxigénio). Não estava confortável, partilhava quarto com mais dois homens infetados, mas sentiu-se apoiado. “Apesar de um certo afastamento, porque os profissionais de saúde entram lá completamente descaracterizados, só se veem os olhos e pouco mais, compensam no trato”, diz à SÁBADO.
No dia em que voltou a casa, a primeira coisa que fez foi dar um pequeno passeio com a filha. “Levei-a de bicicleta durante cinco minutos. Quando temos as coisas não damos valor, mas esse passeio foi impactante”, recorda. Apesar de ter sido dado como curado, age como se tivesse de evitar a doença a todo o custo: a imunidade ainda não está garantida. Só sai para ir às compras, sempre de máscara, luvas e um frasco de desinfetante no bolso. “Quando chego a casa, tiro logo a roupa e ponho-a na máquina de lavar”, conta. O medo não o paralisa, mas incomoda.
“VÊM AÍ OS ASTRONAUTAS!”
TIAGO, 15 MESES,
E JOÃO COUTO, 15 ANOS h Tinha começado a andar há apenas duas semanas quando se viu confinado àquele espaço de apenas 10 metros quadrados, em que duas vezes por dia apareciam umas figu- Q
Como bolachas com a pinça da salada e as torradas com garfo e faca. Limpo os olhos com compressas e o nariz com cotonetes
O PAI FICOU EM CASA COM OS DOIS FILHOS INFETADOS E A MÃE SAIU PORQUE TEM UMA DOENÇA PULMONAR DEGENERATIVA A delegada de saúde disse-me que estava mais do que recuperado. Mas pedi que me dissessem isso por escrito
Q ras assustadoras, que pareciam “astronautas”, e de quem só se viam os olhos. Também teve de deixar de mamar de um dia para o outro – quando o fazia ainda pelo menos três vezes (de manhã, quase sempre antes da sesta e ao deitar). E faz esta quinta-feira, 2 de abril, 23 dias que está afastado da mãe. Tiago Couto, de apenas 15 meses, foi um dos primeiros bebés infetados pela Covid-19.
Os pais, Vítor Couto e Ana Duarte, não estavam à espera de uma notícia destas. O seu filho mais velho, João, de 15 anos, foi infetado através de uma professora da escola – e o colega que se senta ao seu lado, na aula de Físico-Química, também ficou doente. Tinham esperança de que o filho escapasse, mas sabiam que havia essa possibilidade. “Já receber o resultado positivo do Tiago foi uma bomba”, diz Vítor Couto à SÁBADO.
Ninguém o levava a sério, mas o engenheiro eletrotécnico, de 37 anos, antecipou o que iria acontecer. Desde o final de janeiro que andava em contenção social: deixou de ir ao café e cancelou o ginásio. “Também queria que, depois das férias de Carnaval, os mais velhos já não fossem à escola”, diz. Não aconteceu. Havia uma razão para aquela preocupação aparentemente exagerada: Ana tem uma doença pulmonar degenerativa grave. “Não queríamos que ela apanhasse o vírus”, diz.
Por essa razão foi ele que ficou com os dois rapazes durante aquelas 48 horas – de 10 a 12 de março – de internamento no Hospital Dona Estefânia. E também é ele que está com os filhos em casa (são três, há uma rapariga, a Rita), confinados, desde esse dia. Ana teve de sair para se resguardar. Nenhum dos rapazes inspirou cuidados. Antes de se diagnosticar a Covid-19, Tiago teve febre (que os pais associaram a uma otite) e os mais velhos só estiveram subfebris. O mais difícil foi mesmo a logística: evitimo tar adoecer, resguardar a filha que não estava infetada e dar atenção aos dois rapazes, com todos os cuidados. “Estou uma faxineira profissional”, diz, na brincadeira, já com distanciamento dos dias mais difíceis. Aqueles em que temia que o bebé tivesse falta de ar – porque o comportamento do vírus e a evolução da doença eram imprevisíveis.
Teve de criar rotinas: todos os dias a casa é limpa, fazem-se duas a três máquinas de roupa e mais três de loiça. A somar a isto, “brincar e vigiar um bebé de 15 meses” e distribuir as refeições por todos – a comida é entregue por familiares. Vítor lava as mãos cerca de 20 a 25 vezes por dia e reinventou a forma como come. “Como bolachas com a pinça da salada e as torradas com garfo e faca. Limpo os olhos com compressas e o nariz com cotonetes”, descreve. Três a quatro vezes por dia leva o mais novo à porta dos quartos dos mais velhos, para ele os ver e dizer-lhes olá. E, apesar de Tiago estar curado desde dia 19, continua a medir a temperatura a todos, pelo menos uma vez por dia.
Até ao fecho desta edição, o mais velho continuava infetado – fez o últeste na terça-feira, 31. No melhor cenário, a mãe só regressará a casa a 17 de abril. “Só queremos ter a família reunida no mesmo espaço físico. Ter uma quarentena em casa, a cinco”, diz Vítor.
RECUPERAR EM CASA
PEDRO SIMÕES, 30 ANOS h Para o gestor de Marketing foi tudo muito rápido. A 10 de março começou a sentir-se mal no trabalho. A meio da tarde foi ao hospital local, onde ficou em isolamento até ser levado para Coimbra no dia seguinte. Eram 13h quando fez os exames. “Esperei oito ou nove horas pelos resultados”, diz à SÁBADO.
Com resultado positivo, foi transferido para um quarto com zona de pressão negativa. O tratamento passou por uma vigia constante e por uma medicação à base de paracetamol. “Fiz um raio-X aos pulmões. A febre foi controlada com medicação. Tirava a temperatura várias vezes por dia. Também me deram comprimidos para as dores no corpo. E todos os dias me mediam a pulsação e faziam análises para saber como estava o oxigénio nos pulmões”, conta.
Uma semana depois teve alta. O resto da recuperação foi feita em casa – embora ainda não esteja oficialmente completa. Até ao fecho desta edição, Pedro não tinha sido testado novamente. “A delegada de saúde disse-me que estava mais do que recuperado. Mas pedi que me dissessem isso por escrito porque não me sentia confortável a ir para a rua assim.” Só perante a insistência é que lhe disseram quando e onde poderia ser testado. “A partir de amanhã [1 de abril] posso marcar o exame numa clínica em Águeda. Tenho de ligar para lá e dizer que tenho prescrição. Depois vou, faço o teste, volto a casa, aguardo pelos resultados e no dia seguinte, dê positivo ou negativo, tenho de marcar outro.” Só com dois testes negativos é que estará oficialmente recuperado. Mesmo que nunca saiba como foi infetado. W
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