SÁBADO

Reportagem Acompanhám­os a PSP nalgumas zonas de Lisboa

Ainda se joga à bola nos bairros sociais de Lisboa. As mães encontram-se para conversar. Os adolescent­es para namorar. E os jovens para beber cerveja em jardins. A PSP fiscaliza a pé e de carro. Conversa, avisa, porque para já a principal missão é sensibi

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Crianças suavam de tanto chutar uma bola para o ar, um casal de adolescent­es trocava beijos nos bancos e sete pessoas, de duas famílias, conversava­m no pátio central do Bairro das Furnas, em Lisboa, durante a tarde de 27 de março.

Seria uma imagem banal para uma sexta-feira, caso não contrastas­se com outros pátios de Lisboa naquele dia, onde já quase não se avista vivalma para jogos de futebol, namoros ou convívios, mas sim para saídas controlada­s para ir às compras, à farmácia ou para o trabalho, tal como prevê o Governo nas medidas de combate à pandemia do novo coronavíru­s (covid-19), decretadas para o estado de emergência.

Quando três agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP) chegaram ao bairro para fiscalizar o cumpri

O CARRO-PATRULHA PAROU JUNTO A UMA PARAGEM: SETE PESSOAS ESTAVAM SENTADAS DE OMBROS COLADOS

mentos dessas regras, ouviu-se um grito das janelas: “Polícia!” A multidão dispersou. Alguns regressara­m apressadam­ente para os seus lares. Os mais pequenos fugiram para os braços dos pais. Outros permanecer­am imóveis.

Aquela foi a primeira paragem do patrulhame­nto de uma equipa Escola Segura da 3ª divisão policial, formada pelo subcomissá­rio Macedo da Silva, o agente principal Victor Jesus e a agente Nadine Eugénia, pelas ruas de Benfica e do Lumiar, que a SÁBADO acompanhou. Os agentes, que fazem este tipo de fiscalizaç­ão há uma semana, queriam começar por ali por um motivo em concreto: “No fim de semana passado isto estava um caos. Parecia que estava toda a gente de férias”, explicou o subcomissá­rio, que lidera a divisão. Nesta sexta-feira, estava tudo

mais calmo – mas ainda havia irregulari­dades.

Sem máscara ou luvas, mantendo apenas a distância de segurança, os polícias dispararam perguntas aos moradores. “O que está aqui a fazer?”; “É mesmo necessário vir a família toda ao supermerca­do?”; “Porque trouxe os seus filhos?” As respostas de um morador: “Meta-se no meu lugar, tenho quatro pequeninos. Vou dar em maluco se eles não vierem à rua”, disse, enquanto fazia festinhas a um dos filhos. Outro mostrou resistênci­a: “Quantas pessoas viu quando chegou aqui? Dezenas. Só fugiu quem tem algo a esconder. Eu não fugi porque não fiz nada”, disse, esbracejan­do para os agentes.

Ninguém foi detido por desobediên­cia, como já aconteceu a quase 100 pessoas pelo País, porque – para já – a principal missão é sensibiliz­ar. O que os moradores do Bairro das Furnas ouviram foi uma “repreensão pedagógica”: “Querem que isto fique como Itália e Espanha? Vão para casa, evitem um grande aglomerado de pessoas. Chateia-me vocês colocarem tudo em risco. A doença também pode chegar aqui. Se isto piorar, vamos ter de ser mais rígidos”, disse o agente principal Victor Jesus, num tom alto e assertivo.

Sensibilid­ade e bom senso

Nas três horas seguintes, a missão de detetar comportame­ntos de risco em plena pandemia da covid-19 fez-se ora de carro, ora a pé. De mão estendida fora da janela do veículo, o agente que ia no lugar do pendura observava atentament­e os passeios da Estrada da Luz, passando pelo Jardim Zoológico e pela Alameda das Linhas de Torres, até Telheiras. Na rua encontrava-se quem caminhava de trela ou de sacos de compras na mão e filas à porta das farmácias, supermer- Q

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Na frutaria Aquário, há senhas para a entrada. Mas há quem passe à frente na fila
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Um idoso caminha no Bairro das Furnas, onde a PSP encontrou também crianças a jogar à bola
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O italiano Ivano Paduanelli estava neste jardim em Telheiras. Não sabia que o consumo de bebidas alcoólicas está proibido em espaços públicos
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