SÁBADO

Música Entrevista a Sessa, a propósito do álbum de estreia, Grandeza

Grandeza é o primeiro trabalho a solo de Sessa, músico que resgatou para os dias de hoje as raízes da música brasileira. O álbum chega agora em formato físico a Portugal. Pretexto de conversa.

- Por Filipa Teixeira

ENTREVISTA SESSA

São Miguel, Porto, Braga, Aveiro, Setúbal e Lisboa aguardavam por estes dias a chegada do brasileiro Sessa, que vinha apresentar Grandeza, o seu primeiro trabalho a solo, muito contaminad­o pela sonoridade típica da época do Tropicalis­mo, cuja edição física acaba de chegar a Portugal numa minidigres­são nacional.

Para já, só o concerto agendado para o Vodafone Paredes de Coura, em agosto, escapou às malhas do novo coronavíru­s, mas o músico de São Paulo, entusiasta de Capitão Fausto, Carlos Paredes e B Fachada, não quer deixar escapar a oportunida­de de mostrar a sua música nos palcos portuguese­s, como nos revelou numa breve conversa telefónica: “Anima-me muito tocar noutro país lusófono, num lugar onde as pessoas me entendam. Isso deixa-me bastante curioso e animado.”

De onde vem o nome Sessa? Escolheu esta alcunha pela sonoridade da palavra, por ela se prolongar no ar?

É um apelido que tenho desde criança, é como as pessoas me chamam. Foi uma escolha natural, mas eu gosto dessa sensação que você descreveu [risos].

Foi em criança que se começou a interessar pela música brasileira?

Comecei a ficar mais ligado quando tinha 11, 12 anos. Quando era mais novo passei por um período apaixonado pelo rock & roll, ouvia muito Ramones, The Stooges,

MC 5. Mas eu sempre ouvi música brasileira, mesmo nessa época mais roqueira. Ouvia muitos discos tropicalis­tas, os Mutantes, a Gal [Costa]...

A sua passagem pela já extinta loja de culto Tropicalia in Furs, em Nova Iorque, foi importante para aprofundar essas referência­s?

Trabalhei na Tropicalia in Furs uns dois anos, em períodos espaçados, entre

Antes de lançar Grandeza, o músico de 32 anos, Sérgio Sayeg de seu nome verdadeiro, tocou no projeto Garotas Suecas e na banda de apoio do guitarrist­a Yonatan Gat Eu sou um compositor, um admirador, um aprendiz das tradições brasileira­s. É como se eu tivesse entrado tanto em contacto com essas tradições, ouvido tanto, que eu precisava de botar as coisas para fora

2008 e 2011, e aprendi muita coisa lá. Foi lá que entrei em contacto com discos brasileiro­s que até hoje são importante­s para mim, como o Sonhos e Memórias do Erasmo Carlos e os trabalhos de Arnaud Rodrigues. Passei muito tempo de volta dos discos, dos formatos, pensando nas músicas de abertura, nos lados B, nas capas. Foi um período que, de um jeito ou de outro, está no Grandeza.

E porquê o título Grandeza para este seu primeiro trabalho a solo?

Eu acho que tem um pouco a ver com as sensações do disco. O disco passa por vários lugares, do amor, da amizade, dos laços humanos. Tem também um aspeto mais imaterial, da relação da música com o abstrato e com a espiritual­idade.

Ao mesmo tempo que tenta falar de um sentimento grande, o disco é também um pouco vazio, minimalist­a. Há uma tensão entre a grandeza e o sussurro, como se fosse preciso chegar perto para ouvir.

Essa tensão passa pelos ritmos que usou, inspirados na tradição afro-brasileira?

Os ritmos passam por aí, por essas linguagens que são pilares na cultura, na expressão, na inteligênc­ia, na beleza que é a música popular brasileira. Enquanto há os tambores que ligam à terra, existem as vozes – a minha e a das meninas – que é uma coisa que se propaga pelo ar, é a mensagem. Eu acho que o disco lida um pouco com essa coisa dos elementos, com essa contradiçã­o da terra e do ar.

E as letras, que papel têm? Usa muitos jogos linguístic­os, intimistas e sexuais, como os que estão em Flor do Real, Tesão Central ou Gata Mágica...

A parte das letras atua numa outra dualidade, entre a água, uma coisa profunda, emotiva, e o fogo do desejo, dos assuntos do amor. Quando eu estou no estúdio a compor, não estou necessaria­mente a pensar nisso. Mas esses assuntos são fortes na nossa vida e obviamente que eles acabam por se organizar de algum jeito.

Considera que a música brasileira está a passar por um novo momento de explosão artística, semelhante ao que aconteceu nos anos 60 e 70? Sente-se parte desse novo movimento?

Eu sei que sou suspeito para falar, mas o Brasil é um lugar em que se produz música de um nível altíssimo. É um ecossistem­a vivo. Os tempos mudam e hoje em dia existe uma geração muito forte de músicos que se relacionam com o passado. O meu disco tem muito a ver com Os Afro-Sambas, de Baden Powell, que admiro muito e é com certeza uma influência para mim. Mas eu não sou um músico tradiciona­l, nem de um género – de samba ou de forró. Eu sou um compositor, um admirador, um aprendiz das tradições brasileira­s. É como se eu tivesse entrado tanto em contacto com essas tradições, ouvido tanto, que eu precisava de botar as coisas para fora.

Sobre a sua digressão em Portugal, já há novidades em relação a novas datas?

Estamos a trabalhar para remarcar. Anima-me muito tocar noutro país lusófono, que é uma coisa que nunca fiz como músico. Graças a Deus tive a oportunida­de de viajar bastante desde que o disco saiu e tocar fora do Brasil. Do mesmo jeito que eu gosto de música numa língua que não entendo, as pessoas têm-se sensibiliz­ado bastante com o meu show. Isso é muito gratifican­te, mas estou muito animado e curioso para tocar num lugar onde as pessoas me entendam. Se Deus quiser, oxalá tudo vai passar e estaremos aí em breve. W

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