SÁBADO

“Não me considero uma performer, nunca atuei ao vivo”

Ao longo da carreira venceu quatro Globos de Ouro e dois Óscares – o último de Melhor Atriz pelo desempenho em Judy, que retrata os últimos meses de vida da norte-americana Judy Garland em Londres, e no qual recusou fazer playback.

- Por Lucy Allen/ The Interview People

Ainterpret­ação de Judy Garland valeu-lhe em janeiro um Óscar. Nesta entrevista, a atriz, de 50 anos, explica como ficou com o papel e como recorreu a um treinador vocal para conseguir cantar todas as músicas. Recorda ainda alguns dos momentos mais marcantes da carreira – como quando bloqueou em frente a Woody Allen, a importânci­a do filme Jerry Maguire e, claro, de Bridget Jones.

Era fã de Judy Garland? Sonhava interpretá-la um dia?

Nunca me ocorreu que isso seria uma boa ideia ou que alguém mo proporia um dia. Não me considero uma performer, nunca atuei ao vivo antes e não me considero uma cantora desse tipo de canções, não tinha a resistênci­a vocal para isso. Mas fui sempre uma fã. Já me perguntara­m isso muitas vezes, mas é como aquelas pessoas que damos por garantidas e que dizemos:

“Pensava que a voz era como a altura: temos 1,50 m ou 1,90 m e não há nada a fazer quanto a isso”

“Claro que ela é ótima!” E ela, de certa forma, conquistou o seu espaço entre os heróis iconoclast­as deste tempo. Foi mais ou menos assim. Estava sempre pela casa e ouvíamo-la no gira-discos e no leitor de cassetes, o meu pai tinha um leitor de cassetes bobina a bobina. Onde é que andará? [Risos] Por isso, sim, ela foi uma daquelas pessoas que nos define a vida. Tínhamos a Judy Garland, o Frank Sinatra, Bob Hope e Dean Martin, e a minha mãe adorava o Tom Jones. Oh, ela adorava o Tom Jones. Ele é extraordin­ário – ainda hoje. A voz dele é de loucos, não é? Então, estávamos sempre a ouvi-los.

Antes de fazer esteve numa pausa durante seis anos. Foi planeado ou sabia que ia fazer uma longa pausa?

Judy

Não sabia o que iria ser, mas sabia que era necessário. Por isso, não importava o que seria – precisava apenas de o fazer.

Acabou por regressar dessa pausa para fazer O Bebé de Bridget Jones, em 2016, e fez uma ótima série recentemen­te, chamada What/If. Mas regressar para interpreta­r alguém tão imponente como a Judy Garland – por onde é que se começa?

Bem, o David [Livingston­e, que produziu o filme] ligou-me e falámos, e eu estava curiosa, o que o deixou pensativo. Expliquei-lhe que não canto como ela, tenho uma voz pequena e ele disse: “Porque é que não vens a Londres e experiment­amos algumas coisas?” Ainda tinha as minhas dúvidas. Adorei a história e adorei os motivos dele para querer contar esta história, o querer contextual­izar as circunstân­cias com as quais ela estava a lidar no fim da vida, para que, talvez, toda a tragédia pudesse, não sei, ser subvertida de alguma maneira. Adorei isso e fiquei curiosa. E ele disse: “Vamos gravar algumas canções só por diversão em Abbey Road.”

E não se diz não a Abbey Road?

Certo! Então, isto podia ser a pior ideia do mundo, mas eu ia para Londres! [Risos] Começámos a fazer experiênci­as. Fizemos uma sessão fotográfic­a inicial, com apenas uma peruca e a maquilhage­m de palco dela, e tirámos fotografia­s num quarto só para ver o quão perto estávamos e o que seria possível atingir. E era estranhame­nte similar, era mesmo muito estranho, porque eu nunca pensei que partilhass­e semelhança­s com ela. Foi realmente estranho. E depois, a música que gravámos, ele tinha-me enviado gravações de 1968 para ouvir, que são bastante diferentes das suas gravações iniciais, ela cantava num registo mais grave, cedia de certas formas e tinha aprendido pequenos truques para contornar o que lhe era mais difícil na altura. E eu brinquei com isso durante uns tempos. Fizemos essas gravações e é o melhor dia de sempre no mundo quando o táxi nos deixa à porta de Abbey Road e entramos. E, sim, tirei uma fotografia na passadeira! [Risos] Q

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