A NOVA VIDA DO VINHO NA INTERNET
Sommeliers, enólogos e produtores viraram-se para o único meio que permite ajuntamentos em isolamento social: o online. Abra uma garrafa e acompanhe-os. Também há lojas digitais que levam vinho a casa.
NA IMPOSSIBILIDADE de um tchim-tchim com os amigos, brindemos de forma virtual; e perante a normalidade interrompida, inovemos pois. O que importa é não parar. Para Francisca van Zeller, relações-públicas do produtor de vinhos verdes Aveleda, estar confinada a casa motivou-a a iniciar um projeto de workshops online no Instagram, o Provas em Casa. Para apanhar os diretos, ligue-se à conta @provas_em_casa às 19h de segunda, quarta e sexta.
“Foi uma forma de orientar o nosso conhecimento para um projeto com uma componente educativa”, conta Francisca van Zeller à SÁBADO. “Anunciamos os temas com um ou dois dias de antecedência, para dar tempo às pessoas de escolherem um vinho adequado para acompanhar o live.” Durante meia hora, a especialista simplifica conceitos, tira dúvidas e explica, no fundo, como são as coisas no mundo dos vinhos.
A primeira sessão de Francisca, a 16 de março, teve como tema os “passos básicos da prova” e desde então já milhares de pessoas a viram a abordar temas como os métodos de produção de vinho espumante ou as singularidades das diferentes regiões vínicas.
UM COPO EM CASA
A 18 de março foi a vez de outra figura do mundo dos vinhos – também com nome holandês – entrar em direto no Instagram: o produtor Dirk Niepoort foi o convidado da sessão inaugural do Wine Hour at Home, um “projeto que acredita que uma garrafa de vinho é sempre melhor quando partilhada – mesmo em quarentena”.
Na conta de Instagram Wine Hour at Home, cada sessão traz um produtor diferente, que é convidado a abrir uma garrafa, a prová-la e a comentá-la
Foi no início do período de reclusão que a ideia de um evento digital que juntasse produtores, vinhos e enólogos surgiu a Cláudio Martins, da consultora Martins Wine Advisor, e Adriana Fournier, da agência de comunicação Chef’s Agency. No fundo, o equivalente a amigos tomarem um copo e falarem sobre aquilo que os une, só que perante uma audiência online.
Cada sessão (segunda, quarta e sexta, às 17h) traz um produtor diferente que é convidado a abrir uma garrafa, a prová-la e a comentá-la na companhia virtual de Cláudio Martins e também do sommelier Rodolfo Tristão – as únicas constantes em cada episódio. Os próximos convidados vêm da Adega de Favaios (dia 3) e da Colinas do Douro (6). Como os live do Instagram ficam disponíveis por 24 horas, no dia 2, quando a SÁBADO for para as bancas, ainda será possível as
sistir ao episódio da véspera, com a Pico Wines, em @WineHourAtHome.
Os live do Instagram transformaram-se nos wine bars da quarentena e nem produtores como o Monte da Ravasqueira ou o Esporão ficaram à porta. Prova disso é que nas próximas duas semanas o Esporão organiza workshops e provas online – de vinhos da sua herdade alentejana e da Quinta dos Murças, no Douro, mas também de gastronomia e azeite – que decorrem em direto, sempre às 21h, em @EsporaoWorld.
Quanto aos vizinhos de Arraiolos, Vasco Rosa, o enólogo do Monte da Ravasqueira, começou uma rubrica chamada Notas de Prova. Onde? No local do costume: o Instagram (@Monte_da_Ravasqueira). Lá, o enólogo discorre sobre vinhos, abrindo espaço ao diálogo com quem assiste em casa, à terça e à quinta, pelas 22h, sempre em direto.
PRODUTORES NA NET
Quem prefere o diferido é António Lopes, sommelier do restaurante Paparico, no Porto. “Gravo primeiro uns takes, depois edito com o telemóvel e só então carrego o vídeo”, explica. O resultado são episódios de seis a sete minutos disponíveis em @sommantoniolopes, a que chamou de Quarantine Tastes, nos quais fala do que faz melhor: harmonizar vinhos com comida. “A ideia é manter-me em movimento. O pior da epidemia é o lado mental, pessoas que perdem as suas rotinas e ficam restritas a alguns metros quadrados”, diz. António começou quando o Paparico fechou. “Decidi fazer alguma coisa para ajudar os produtores, porque esses podem ser ajudados através das suas lojas online.” É este o repto da comunidade de vinhos em Portugal: as lojas po
Os live do Instagram transformaram-se nos wine bars da quarentena e nem produtores como o Monte da Ravasqueira ou o Esporão quiseram ficar à porta
dem ter fechado as portas da rua, mas não as da Internet.
António Maçanita, enólogo dos vinhos Fita Preta, Azores Wine Company e Maçanita Irmãos e Enólogos, acaba de inaugurar antonio-macanita-winemaker.shopk.it, um site com mais de 50 dos “seus” vinhos – e metade dos lucros reverte para a Cruz Vermelha.
A Quinta da Pacheca está com 20% de desconto em todas as encomendas; já outros produtores juntaram-se a plataformas como a OnWine.pt – que vende Casal de Ventozela, Quinta do Tamariz, Quinta do Crasto, Quinta da Gaivosa, Quanta Terra, Oboé, Vértice, Reynolds Wine Growers, Taylor’s e Vinoking em cabazes de €30 a €170 – ou como a Adegga.com, que terá inaugurado no fim de março o seu canal de comércio eletrónico que arranca com 30 produtores sem loja online própria.
Há mais: a MartinBoutiqueWines.com, de Pedro Martin, faz entregas grátis em Lisboa e Coimbra e os organizadores do Enóphilo Wine Fest abriram um marketplace (enophilo.pt/61-loja) com brancos, tintos e rosés tranquilos, espumantes e fortificados de produtores como Quinta da Boa Esperança e Terras do Mogadouro. É caso para fazer tchim-tchim. W