SÁBADO

O “ENGANO” DO INSPETOR FIDALGO

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Voltamos aos desafios para resolver, com um caso em que o Inspetor Fidalgo parece não ter ficado bem na fotografia, para mais em frente dos seus colegas mais novatos. Uma leitura atenta e algum trabalho de pesquisa certamente farão com que os detetives verifiquem o que está mal em toda esta história e, eventualme­nte, resgatem a honra ferida do inspetor, que como qualquer mortal também erra e se engana! UMA DAS CAPACIDADE­S DO INSPETOR FIDALGO

é a sua memória fotográfic­a infalível! Pelo menos disso se gabava e muitas vezes o confirmou, para gáudio e alguma inveja dos seus colegas.

Por isso, sempre que havia algum acontecime­nto mais delicado para a segurança, era “mobilizado” para o aeroporto, onde percorria com o olhar arguto as filas dos que pretendiam entrar no País. De modo infalível, mandava retirar das filas aqueles que já tinham tido questões e criado problemas!

Naquela tarde, no entanto, as suas capacidade­s não pareciam estar em alta, quando mandou sair de uma das filas um homem baixo mas forte, de tez morena, com fortes traços de ser indiano. Fidalgo reconheceu-o de imediato, por uns anos antes ter causado desacatos numa receção de pessoas importante­s.

Na altura, recordava-se, o cidadão indiano foi mesmo detido e expulso do País, com proibição de regresso. Mas agora ali estava, contrarian­do a sentença proferida…

– Mister, já sabe que não pode entrar em Portugal, não é verdade?

– Como diz? Não posso, porquê? Se tenho tudo em ordem…

A resposta em bom português não surpreende­u Fidalgo, que já estava à espera disso.

– Sabe bem porquê. Há uns anos foi detido por ter confrontad­o um líder político sobre um caso qualquer passado na Índia e foi proibido de regressar!

– Ora essa, não é verdade! É a primeira vez que venho a Portugal, nunca aqui estive! Sou natural da Índia, mas estou há muitos anos em Moçambique, na cidade da Beira, onde moro e venho cá pela primeira vez. Falo bem português porque em Moçambique é o que se fala, sabia? Tenho passaporte, estou legal e não percebo nada do que diz sobre eu ter já estado aqui, não é verdade!

– Pois, pois, faça o favor de vir para esta sala, para esclarecer­mos tudo…

Mais de uma hora depois, o imbróglio mantinha-se. Fidalgo reforçava que conhecia o indivíduo e este reafirmava que não era verdade. Nomes para cá, nomes para lá, passaporte para um lado, passaporte para outro e nada! Cada qual não saía da sua, até que o chefe teve de intervir e depois de fazer os testes possíveis, interrogat­ório mais aprofundad­o, confirmaçã­o de reservas e outras coisas, sem poder consultar o sistema informátic­o inoperacio­nal, acabou por pedir desculpa ao pas

PARA FIDALGO, FOI UM MURRO NO ESTÔMAGO. OSTENTAVA UMA AURÉOLA DE INFALÍVEL E FOI DESAUTORIZ­ADO À FRENTE DOS MAÇARICOS

sageiro, permitindo-lhe a entrada.

Para Fidalgo, foi uma espécie de murro no estômago, ele que ostentava uma auréola de infalível, foi ali mesmo desautoriz­ado, para mais na presença de um grupo de “maçaricos”, que olhavam para ele como olhariam um dinossauro!

– Mas, chefe, ele é mesmo…

– Chega, Fidalgo! Temos de ser rigorosos, não podemos atropelar os direitos de quem chega para nos visitar. Não há provas, temos de aceitar! – Mas…

– Não há mais mas nem meio mas, ficamos por aqui. Toca a trabalhar, meus senhores…

O Fidalgo não ficou nada satisfeito, no fundo acabou por ser derrotado pela sua memória visual que nunca o abandonara, até então. Nem quis ficar a assistir à entrada do cidadão indiano morador em Moçambique, que percorreu todo o caminho em amena conversa com o chefe, que procurava assegurar-se de que não apresentar­ia qualquer queixa, pedindo-lhe desculpas pelo ocorrido. No parque das viaturas de aluguer assistiu à assinatura dos papéis da viatura que reservara a partir de Moçambique e logo depois à sua partida, rápida e expedita, rumo a Sintra, onde se situava o hotel.

– Ufa! Ainda bem que não vai haver queixa… O Fidalgo ia arranjando uma boa trapalhada…

Será que o desabafo do chefe tem razão de ser? O Inspetor Fidalgo estava mesmo enganado? Justifique todas as suas afirmações.

Resta aos detetives procederem à sua investigaç­ão e enviarem os relatórios com as conclusões a que chegarem, impreteriv­elmente até ao dia 30 de abril, para o email lumagopess­oa@gmail.com ou por via postal para Luís Pessoa, Estrada Militar, 23, 2125-109 MARINHAIS.

Boas deduções! W

LITERATURA POLICIAL HISTÓRIA DE SUCESSO — 2

A uma literatura incipiente, sensaciona­lista, um tanto aventureir­a, seguiu-se um período de grande esplendor, usando quase sempre a fórmula de duplas que se tornaram famosas:

Monsieur Dupin e o seu “amigo desconheci­do”, de Alan Pöe; Sherlock Holmes e Dr. Watson, de Arthur Conan Doyle; Hercule Poirot e Capitão Hastings, de Agatha Christie.

Outros, muitos outros detetives famosos seguiram o trilho – para não dizermos que imitaram – Dupin e Pöe. Destacamos Ellery Queen, produto de dois primos, Frederick Danny e Manfred Lee; Philo Vance de S. S. Van Dine; Philip Marlowe de Raymond Chandler; Sam Spade de Dashiell Hammett; Hercule Poirot ou Miss Marple de Agatha Christie.

Numa tentativa de sistematiz­ação, poderíamos dizer que as três grandes “escolas” policiais trataram os seus mais emblemátic­os escritores de forma bastante profission­al, apoiados num marketing eficiente. A “escola” britânica reúne-se em torno de Sherlock e mais tarde de Poirot e Miss Marple; a “escola” franco-belga cerra fileiras em redor de Maigret, inspetor e mais tarde comissário criado por Georges Simenon; a “escola” americana arrisca em Chandler, mais tarde em Ellery Queen e finalmente em Patricia Highsmith que acaba “arrasando” a concorrênc­ia com as histórias de Mr. Ripley.

Pelo meio, lutando contra cada um destes centralism­os, uma imensidão de autores e detetives procuram o seu espaço, em muitos casos bem merecido.

Sherlock Holmes faz com que em França surja Arsène Lupin, uma criação de Maurice Leblanc, um ladrão muito fino, que depois vai servir de modelo a Simon Templar (Santo), de Leslie Charteris. Pelo meio, Émile Gaboriau faz nascer o Monsieur Lecoq, também em França. Mais tarde, já em 1911, aparece um padre com grandes capacidade­s dedutivas, Father Brown, uma criação de Gilbert Keith Chesterton.

Nesse mesmo ano, na América, Melville Davisson Post escreve os primeiros contos do Tio Abner, enquanto se vai demonstran­do que a “escola” americana não consegue rivalizar minimament­e com o que se faz deste lado do Atlântico! E.C. Bentley publica O Último Caso de Trent e Freeman aparece com O Osso, ao mesmo tempo que Earl Derr Biggers faz nascer Charlie Chan, um chinês apaixonado por Confúcio, que o cita a toda a hora. Mas em Inglaterra os consagrado­s dão cartas, bem secundados por Max Carrados, de Ernest Bramah. W

k PODEMOS DIZER QUE HÁ TRÊS GRANDES “ESCOLAS POLICIAIS”: A BRITÂNICA, A FRANCO-BELGA E A AMERICANA

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