UMA NOVA MANEIRA DE FILMAR A GUERRA
Monos é uma obra original, sobre miúdos guerrilheiros no meio do mato. Não há bons nem maus, nem onde nem quando. “Isso já foi feito”, diz o autor, Alejandro Landes. A estreia em Portugal é a 23 de abril.
PORQUE guerreamos? Quem somos nós, enquanto espécie? Como reagiríamos naquela situação? Preferíamos não matar e permanecer prisioneiros? Não há respostas, mas as perguntas continuam a ressoar no espectador depois do último plano de Monos. “São as questões existenciais que me interessam”, diz à SÁBADO Alejandro Landes, o autor, colombiano autodidata de 39 anos que antes fez um documentário sobre Evo Morales e uma aclamada docuficção sobre um caso real: um homem que uma bala perdida deixa paraplégico e decide chamar a atenção do Estado sequestrando um avião com duas granadas escondidas na fralda.
Com Monos, reafirma a sua originalidade ao abordar a adolescência em contexto de guerrilha: “Normalmente tudo se divide em esquerda e direita, preto e branco... eu quis explorar os tons de cinzento, típicos da adolescência, um momento em que ao mesmo tempo que queremos pertencer a um grupo, queremos expressar a nossa individualidade. As mudanças no corpo são como a guerra, de grandes contradições.”
Com alcunhas – como é típico nos grupos rebeldes – como Pé Grande, Rambo e Boom Boom, os soldados de Monos não estão ali a representar uma ideologia: “Não queria gerar empatia pelo que a personagem pensa, só pelo que é, naquele momento.”
Evitou, pois, “a engenharia narrativa” habitual dos filmes de guerra, que dizem “de que lado devemos estar, quem são os bons”, sublinha: “Monos é um filme mais contemporâneo. Se formos à Síria ou ao Afeganistão, os conceitos de bem e mal não são assim tão claros.”
Com paisagens monumentais, o filme rompe com qualquer conceito binário: “Não sabemos onde e quando se passa, se é o paraíso ou o inferno, se uma personagem é homem ou mulher. Quis abordar a guerra de uma forma que nunca tinha visto, alegórica, quase de fantasia.” Os colombianos esgotaram as salas, o júri do Festival de Sundance premiou-o. Agora chega às plataformas de vídeo e videoclubes da TV portuguesa. W
“É um filme de guerra mais contemporâneo. Se formos à Síria ou ao Afeganistão, os conceitos de bem e mal não são assim tão claros”