2091: NÚMERO MÁGICO!
Não, não se trata de nenhuma profecia programada para esse ano, mas tão só o número de detetives que já responderam aos nossos desafios no Torneio SÁBADO Policiário 2020, nas duas primeiras provas!
UM NÚMERO QUE DEMONSTRA A FORÇA
e a vitalidade de um desporto que mexe com as células cinzentas de cada um de nós e nos coloca em permanente desafio connosco mesmos e com os restantes detetives.
Verificamos com muito agrado o regresso à competição de bastantes confrades e detetives do passado, muitos dos quais não competiam há décadas, a par com o surgimento de muitos novos parceiros de caminhada, alguns dos quais nunca tinham, sequer, ouvido falar de Policiário.
Cremos, pois, que estamos a conseguir atingir o que sempre nos propusemos desde a primeira hora: proporcionar uma atividade diferente, capaz de mexer com o cérebro, em desafio permanente às nossas capacidades de leitura, interpretação, análise cuidada e direcionada, poder de síntese e, finalmente, de escrita. Dificilmente encontraremos um passatempo tão completo, mesmo sem contarmos com a ansiedade da espera dos resultados das nossas investigações!
E por falarmos em resultados, com as pontuações das duas primeiras provas já publicadas no blogue SÁBADO POLICIÁRIO, em sabadopoliciario.blogspot.com, queremos deixar aqui a nossa homenagem aos detetives, a todos e a cada um, pelo empenho que puseram na decifração dos crimes propostos, quase sempre muito bem resolvidos. Algumas distrações acabaram em pontos perdidos, mas também é quando somos apanhados em falta que mais aprendemos!
Mantendo-se esta situação de termos a obrigação moral e social, para além das questões legais, de ficarmos a maior parte do tempo em casa, para obstarmos à nossa contaminação e dos outros, de mais tempo dispomos para trabalharmos as nossas capacidades dedutivas, desde logo lendo e analisando os desafios que publicamos, mas igualmente lendo bons romances policiais, ou procurando nos casos criminais que vão sendo publicados na nossa imprensa, os pormenores e as dicas que nos permitem fazer uma análise diferente, mais crítica, das situações relatadas. Com a prática adquirida nas nossas investigações, aprendemos a ver os crimes com outros olhos, aprendemos a não aceitar as “opiniões” que certos jornalistas e repórteres nos vão passando como sendo provas, que afinal não passam de conjeturas. Um detetive sabe “ler” o crime, separar o essencial, trabalhar a informação e encontrar a correta linha de investigação a seguir, em cada caso, não embarcando em soluções apresentadas como pacotes encerrados.
E já agora, caros detetives, porque não ensaiar a feitura de problemas policiais? Porque não pegar numa situação vivida ou imaginada e desenvolvê-la como se de uma investigação se tratasse? Um problema po
licial não é mais do que um conto em que não se chega ao fim. No momento em que toda a informação está transmitida, o autor interrompe a narrativa e interroga os seus leitores, que terão de continuar o raciocínio do autor!
Simples? Nem por isso! Mas sem tentarmos, nunca saberemos do que somos capazes!
O Inspetor Fidalgo fica à espera das tentativas em lumagopessoa@gmail.com e garante que todas serão lidas e analisadas, discutidas com os seus autores e, passando os critérios relativos aos problemas policiais, serão publicadas no torneio atual ou em futuros.
Vamos escrever um problema policiário? W
LITERATURA POLICIAL HISTÓRIA DE SUCESSO — 5
Dissemos em certa altura, que o policial americano, sobretudo no momento em que apontou as suas baterias para o romance de tipo “olho por olho”, com um realismo que se apresentava como sanguinário para os padrões da época, sobretudo na Europa, sem qualquer respeito pela vida humana, com Mike Hammer de Mickey Spilane ou Lew Archer de Ross Macdonald, teria perdido a corrida pela liderança do policial.
Se isso foi verdade em dado momento, sobretudo para o leitor europeu, mais virado para a decifração pura e cavalheiresca protagonizada, por exemplo, por Sherlock Holmes ou por Poirot, com investigações de fino recorte dedutivo e elevado grau de inteligência, como estava longe da realidade quando alguns anos depois emerge um tipo de literatura policial de uma violência extrema, a quebrar todos os máximos de popularidade e de vendas em todos os continentes, que ficou conhecido como “o policial nórdico”, curiosamente oriundo de países onde o crime, praticamente, não existe!
Destacamos, pela sua importância e pelo modo espetacular como souberam impor um género que não registava a aceitação do leitor médio europeu, o sueco Henning Mankell e o seu inspetor Kurt Wallander; a dinamarquesa Inger Wolf e o seu inspetor Daniel Trokic, de ascendência croata; o islandês Arnaldur Indridason e o seu detetive Erlendur, que surge com dois filhos com problemas de droga; e principalmente Stieg Larsson, jornalista sueco que morreu em 2004, antes de poder assistir ao boom do policial nórdico e funcionou como o primeiro grande autor nórdico, com Lisbeth Salander e Mikael Blomkvist, personagens centrais da sua trilogia Millennium.
Tentar entender os motivos para tamanha mudança do gosto de leitura policial, é tarefa para sociólogos e certamente terá razões objetivas para tal crueza, mas provoca uma dor profunda no leitor, que fica chocado e perturbado com as descrições brutais e desprovidas de qualquer sentido de humanidade, em que as vítimas são sujeitas a torturas inimagináveis que culminam inevitavelmente na sua morte. Não se limita, pois, à simples apresentação do crime, como era usual, com os traços de violência q.b. para abrir a investigação, antes aplica uma dose de realismo sádico quase transformando cada caso num manual de violência extrema.
Podemos, claramente, entender que haja objetivos políticos e sociais na escrita policial nórdica, porque temos lá a violência doméstica, o tráfico de drogas, a corrupção, a imigração ilegal, o racismo ou a xenofobia e outras realidades, contadas com uma crueldade chocante, mas não deixa de surpreender como numa parte do mundo em que praticamente não ocorrem crimes violentos, há uma corrente tão importante em qualidade e quantidade que segue esse tipo de escrita como regra e não, como mandaria a lógica, como exceção!
Sem qualquer dúvida, podemos falar de mais uma escola, a juntar às que tradicionalmente dominaram o romance policial durante mais de um século.
TAL CRUEZA PROVOCA UMA DOR PROFUNDA NO LEITOR, QUE FICA CHOCADO COM AS DESCRIÇÕES BRUTAIS