SÁBADO

Vinhos Dona Matilde e a nova abordagem às vinhas velhas, sem barricas

Dona Matilde é marca de elegância no Douro, contrarian­do o clássico perfil vinhateiro dos estágios em barricas. Falámos com o produtor Filipe Barros e o enólogo João Pissarra sobre este projeto vencedor.

- Por Rita Bertrand

loucura em 2006 comprar de volta à empresa de vinho do Porto Kopke, que a explorava desde os anos 50, a Quinta do Enxodreiro, demarcada em 1756, nos tempos do Marquês de Pombal, de onde hoje vêm os magníficos Dona Matilde, nome que homenageia a mulher do fundador, em 1913, do famoso Porto Barros, avô de Manuel Ângelo e bisavô de Filipe Barros, atualmente à frente da estratégia comercial da marca.

Os seus 28 hectares de vinha incluíam uma área consideráv­el de castas brancas, expostas ao sol, junto ao rio, antigament­e encaminhad­as para o chamado

“vinho de pasto”, de consumo doméstico, e um ou outro lote de Porto branco, pouco procurado. À partida, pois, o negócio não augurava sucesso.

Contudo, o mercado mudou e, como diz o enólogo João Pissara, “passou a dar-se valor aos vinho de mesa, que se tornaram também ex-líbris do Douro, com a sua elevada acidez, baixo teor alcoólico e aromas expressivo­s, dados pelo microclima”.

Portanto, aquelas vinhas velhas, com mais de 60 anos, “que de início ameaçavam contraried­ades, acabaram por se mostrar uma mais-valia”. O recém-lançado branco Dona Matilde Reserva, da colheita de 2018, sabiamente estagiado sem recorrer a madeira, é disso a prova. A €24, “é diferencia­do, único, muito fresco e delicado”.

O seu trabalho, afiança, “é não estragar o que a plantação dá”. O que mais tem feito é, pois, estudar a qualidade de cada parcela, ao detalhe, com um único objetivo: manter a autenticid­ade daquele património histórico vinhateiro, evitando ao máximo a intervençã­o enológica e explorando cada cepa na sua especifici­dade.

De uma das muitas vinhas da quinta, a sublime dos Calços Largos, “daquelas que não há igual”, fez nascer o novo tinto da marca, sem taninos agrestes, da colheita de 2017, também sem recurso a barricas. Custa €28 em garrafeira­s selecionad­as e online.

“É a assinatura da casa – vinhos premium, estruturad­os mas muito elegantes, nada do que dantes estava na moda, com elevada extração de fruta e madeira vincada, como o crítico Robert Parker gostava. Hoje, até ele procura vinhos diferentes disso… e nós já os fazemos há 10 anos”, remata Filipe Barros, satisfeito com o seu instinto, à frente do próprio tempo. W

“É a assinatura da casa – vinhos premium,

estruturad­os, mas muito elegantes, nada daquilo que dantes estava na moda”

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Na margem norte do Douro, zona da barragem de Bagaúste, a quinta tem 28 ha de vinha, com 20 e com 60 a 80 anos
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Manuel Ângelo e Filipe Barros, neto e bisneto do fundador da quinta, são os administra­dores da marca
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