Pets Adotar, ou não, um animal de estimação em tempos de quarentena
Muitos resolveram adotar um animal para contornar o isolamento social. As associações aplaudem o gesto, mas deixam avisos: é preciso planeamento para que o bicho não vá novamente para a rua.
O fotógrafo João Azevedo criou o site Be My Friend para ajudar associações e canis a divulgarem os animais disponíveis para adoção através de fotografias
Rodrigues tem um novo companheiro em casa: chama-se Kenny, é um border collie adulto, abandonado há três anos e que agora partilha casa com ele, no Bonfim. “Estamos a ganhar confiança”, conta o dono, que encontrou Kenny no site da iniciativa Be My Friend (bemyfriend.pt), um projeto do fotógrafo João Azevedo para ajudar associações e canis a divulgarem os seus animais através da fotografia. Para Snider, a adoção era uma ideia que já estava a ser ponderada desde o início do ano, mas só nos últimos dias de fevereiro resolveu contactar o Centro de Recolha Oficial de Matosinhos para formalizar o pedido: “Tive de preencher um formulário para ficarem a par das minhas rotinas.”
Esta é uma prática transversal a praticamente todas as associações de animais, que antes de darem um animal para adoção fazem uma criteriosa avaliação dos futuros tutores. Com o surgimento da pandemia, o procedimento tornou-se ainda mais criterioso: “Recusamos 60% dos pedidos por considerarmos que são adoções por impulso ou sem condições para garantir os cuidados do animal no pós-Covid-19”, diz Maria Pinto Teixeira, CEO da Animais de Rua. Desde que foi decretado o estado de emergência, que a associação notou um aumento de cerca de 30% nos pedidos para adoção, uma situação em tudo similar à vivida pela SOS Animal: “Sentimos um boom de procura por cães e gatos como nunca tínhamos tido”, afirma desta feita Sandra Duarte Cardoso, presidente da SOS Animal.
Contudo, se o isolamento social atiçou a vontade de adotar, também deixou muitos cães e gatos na rua. Maria Pinto Teixeira aponta que nos primeiros quatro dias em que foi declarado o estado de emergência, a Animais de
Rua contabilizou 15
animais abandonados em colónias. E os números continuam a aumentar: “Há dias foram abandonadas duas caixas de gatas com crias à porta do núcleo do Porto. Houve algum alarmismo, causado pelas notícias de que os gatos poderiam ser transmissores do vírus, mas, como aliás a OMS já veio esclarecer, não há nenhuma evidência científica que o comprove.”
Também Sandra Duarte Cardoso alerta para o aumento de abandonos: “Atendendo a que nos vamos deparar com uma recessão, estamos apreensivos com o que aí vem.”
Por isso, embora as associações sejam unânimes ao afirmar que é bom haver quem queira adotar um animal, aconselham que o passo seja dado de forma consciente e não por impulso. “Estarmos agora em casa, em isolamento social, não pode ser uma desculpa para trazer uma nova vida para o nosso lar e depois descartá-la quando tudo voltar ao normal.” O animal, lembra Sandra, “é um membro da nossa família. Há que planear bem a adoção”.