Séries Nuno Lopes chega à Netflix
O ator português, um dos protagonistas da nova série do criador de La Casa de Papel e dos produtores de The Crown, conta à SÁBADO tudo sobre o seu papel em White Lines. Estreia a 15 de maio.
“NUNCA DESEJEI ter uma carreira internacional”, deixa escapar Nuno Lopes na videochamada com a SÁBADO, contra as aparentes evidências: dos seus 13 trabalhos desde a distinção de Melhor Ator em Veneza pelo seu papel de pugilista em São Jorge (de Marco Martins, de 2016), só quatro foram produções portuguesas: País Irmão, Mar, Sara e Sul.
Incongruência? Longe disso. O que o ator e DJ desejava era filmar, fosse onde fosse. E porque em Portugal se filma pouco (“consegui-lo é quase um milagre”), Nuno virou-se para fora. O seu projeto mais recente e o motivo desta conversa, White Lines, assinala a sua estreia a representar em inglês e espanhol, e promete. Criada por Álex Pina, o mesmo do fenómeno La Casa de Papel, White Lines chega à Netflix a 15 de maio pela mão da produtora de The Crown.
O enredo está ancorado no misterioso aparecimento do corpo de um DJ de Manchester há 20 anos desaparecido de Ibiza. Para descobrir o que lhe aconteceu, a irmã (Zoe Walker, interpretada por Laura Haddock, de Guardiões da Galáxia) viaja até à ilha espanhola célebre pelas discotecas, festas e excessos. Lá cruza-se com Boxer, isto é, com Nuno Lopes. “A minha personagem é um tipo que trabalha como chefe de segurança de uma família que tem vários clubes em Ibiza
O enredo está ancorado no misterioso aparecimento do corpo de um DJ de Manchester há 20 anos desaparecido em Ibiza. A irmã viaja até à ilha para descobrir o que aconteceu
e gere-lhes o negócio da noite – está ligado ao mundo das drogas, dos DJs e tudo mais, mas de certa maneira, e sem querer revelar muito, acaba por ser uma espécie de outsider.”
Na primeira cena em que aparece, Boxer está deitado na cama da discoteca onde vive. Acabado de acordar, ouve batida eletrónica e diz: “Odeio esta merda de música.”
“Isso diz muito”, conta Nuno, rindo-se: “Ele tem um lado sensível e outro que vamos descobrir mais tarde... E por isso é que acho que ele se liga bem com a Zoe. Ambos são outsiders
em relação a Ibiza.”
A ligação que Nuno refere estava presente na cabeça de Álex Pina desde o início. Tanto que depois de ter sido escolhido para participar no casting,
de ter enviado uma self-tape
(gravação em que o candidato interpreta uma cena a pedido da produção), de ter represen
tado a mesma cena por Skype – do outro lado estavam Pina, um dos realizadores da série, e pessoas da Netflix – e de ter enviado nova self-tape, eis que chegou à quarta fase do casting: “Fui a Londres fazer um chemical test com a atriz principal, Laura Haddock, para perceberem se tínhamos química, porque as nossas personagens passam muito tempo juntas. E pelos vistos tínhamos, porque fiquei.”
Nuno Lopes já estava agenciado em França e Inglaterra, mas a distinção em Veneza revelou-se fundamental, como explica: “Falas a um produtor de um ator português muito bom e ele escuta-te, mas se disseres que ganhou um prémio no Festival de Veneza, ele escuta-te com mais atenção.” A partir daí Nuno resolveu parar com os projetos em Portugal e apostar em castings internacionais.
Houve uma época complicada, admite: “Estive meses parado e a recusar trabalhos cá, mas foi uma decisão que, ao que parece, correu bem.”
Depois de séries e cinema e em França, chega agora uma grande produção para a Netflix. A escala não tem comparação com o que conhecia. “Há muito mais dinheiro. Houve uma cena que não ficou bem, por isso regravámo-la uma semana depois...” Outro exemplo: “Disseram-nos que íamos fazer uma leitura, mas para não nos preocuparmos porque íamos ser só nós e algumas pessoas da Netflix.” Chegou ao hotel, ouviu o burburinho e pensou que, se calhar, estaria a haver uma convenção. Afinal... “Entrei e estavam 80 pessoas na sala. Já estreei peças de teatro para menos gente”, recorda.
White Lines monta estereótipos para depois os destruir. O papel de Nuno Lopes, que começa por parecer a típica criatura da noite, para depois ir mostrando novas camadas, é um exemplo disso. “Os primeiros 20 minutos são como aquela parte da subida na montanha-russa, um reconhecimento de quem é quem; mas quando entras na descida, a série releva-se uma loucura vertiginosa em que, a cada episodio, descobrimos coisas novas sobre as personagens”, conta: “Nesse sentido, é uma série exuberante, quase caleidoscópica, com um grupo de protagonistas – em que me insiro – e muita coisa a acontecer.” Surpreendente? Não: essa vertigem já é hábito nas criações de Álex Pina. W
“A minha personagem é um tipo que trabalha como chefe de segurança de uma família que tem vários clubes em Ibiza e gere-lhes o negócio da noite”