SÁBADO

Partidos Fim dos plásticos e outras propostas afetadas pelo coronavíru­s

Redução da reciclagem? Testes em animais? Situação de emergência leva partidos ecologista­s a “fecharem os olhos a algumas coisas”.

- Por Margarida Davim

ACovid-19 obriga os ambientali­stas a adaptarem o discurso. Testes em animais para uma vacina? São aceitáveis se não houver alternativ­a. Mais resíduos plásticos com máscaras, luvas e refeições em take away? É preciso reduzir, mas aceitando que há materiais que não é mesmo possível reciclar. “Temos de fechar os olhos a algumas coisas”, resume a deputada do PEV Mariana Silva.

“Estamos a viver situações extraordin­árias e de emergência. Há uma emergência climática que não parou, está em curso, mas vivemos uma crise sanitária numa fase aguda. Temos de nos proteger”, resume André Silva, que acha que no “pós-Covid” voltará a fazer sentido “penalizar quem usa embalagens descartáve­is e incentivar quem usa recipiente­s reutilizáv­eis” no take away, mas admite que por agora não há forma de reduzir aí o uso de plástico. O deputado acha, contudo, que esta crise vem demonstrar a “urgência de encontrar alternativ­as” e que essa é uma questão a que a indústria e a ciência terão de responder, desenvolve­ndo “material 100% compostáve­l biodegradá­vel”.

Defensor dos direitos dos animais, o líder do PAN também concede agora que há situações em que é preciso testar vacinas e medicament­os em cobaias antes dos testes em humanos. E essa é uma exceção que não se prende apenas com a pandemia. Para o PAN,

“a realização de testes em animais para questões de saúde humana pode ocorrer se a ciência não tiver encontrado outras metodologi­as e modelos”, explica, defendendo que “é diferente falar de vacinas ou de cosméticos”. Além disso, “há uma série de protocolos para que os testes sejam o menos invasivos possível e não ponham a vida do animal em risco”, frisa.

Luvas e máscaras: não reciclar

Chegar a casa e pôr as luvas no lixo indiferenc­iado pode fazer confusão a quem está habituado a separar o plástico, mas é o que deve fazer. “As luvas não podem ser recicladas”, explica Mariana Silva, que conta que há quem esteja a pôr estes materiais na reciclagem, causando um problema para os trabalhado­res que separam os resíduos. A deputada de Os Verdes diz que isso está mesmo a obrigar a pôr “o plástico e o cartão em quarentena durante 72 horas” nos centros de recolha.

As luvas, tal como as máscaras, são equiparada­s a resíduos hospitalar­es e, caso quem as usou saiba estar infetado, deve deitá-las fora “num segundo saco [de plástico] para proteção de quem recolhe o lixo”, frisa Mariana Silva, reconhecen­do que o uso massivo de equipament­os de proteção vai aumentar a produção de resíduos, mas que “não há nada a fazer”. A única solução, defendem os ambientali­stas ouvidos pela SÁBADO, será reutilizar. “Numa nova fase de proteção no dia a dia, esse material deve ser dentro do possível reutilizáv­el”, diz o bloquista Nélson Peralta, que defende a suspensão da recolha seletiva porta a porta em cidades como Lisboa durante o estado de emergência. “Deve começar quando existirem condições. Neste momento não é urgente. As pessoas devem ir ao ecoponto e reduzir o número de resíduos dentro do possível”, diz o deputado.

Sobre os testes em animais, os bloquistas também moderam o discurso: “O que o BE defende é maior rigor e exigência nos testes em animais e criar métodos alternativ­os”, vinca Nélson Peralta, admitindo que “há sempre uma ponderação a fazer” sobre a utilidade destes métodos. “Achamos que tendencial­mente devem ser reduzidos os testes em animais em áreas como a cosmética e que é preciso reforçar o investimen­to na investigaç­ão para ter alternativ­as”, concorda Mariana Silva, que percebe que no caso da busca pela vacina para a Covid-19 “é normal que não existam alternativ­as”.

A grande preocupaçã­o, dizem, é agora saber como será feita a retoma da economia depois da pandemia. “Este é o momento de fazer uma reflexão sobre que economia vamos relançar para não repetir erros ambientais”, avisa Nélson Peralta. “O que me preocupa é que se venha a instalar a narrativa de uma emergência desenvolvi­mentista sem ter em conta a emergência climática, que leve a uma redução dos níveis de exigência ou ao desinvesti­mento no combate às alterações climáticas. A retoma deve ter em conta o respeito pelo acordo de Paris”, vinca André Silva. Mariana Silva diz que agora “ouvem-se mais passarinho­s e respira-se melhor”, mas quando o confinamen­to social terminar, a poluição vai voltar se não se mudarem as opções. “Temos de escolher outro caminho”, defende. W

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