Entrevista Viúva de Carl Sagan explica o novo Cosmos
A viúva de Carl Sagan, de 70 anos, continua a missão de explicar a complexidade do universo. Acaba de publicar Cosmos: Mundos Possíveis e diz que ainda vamos a tempo de salvar o planeta.
Já escreveu sobre o Big Bang e sobre como se constroem naves espaciais, mas a história que mais gosta de contar é a de quando se apaixonou por Carl Sagan e ele por ela. O astrofísico, que se tornou uma celebridade, trabalhava com Ann num projeto da NASA. Estavam ambos comprometidos na altura, mas durante a pesquisa para os discos dourados – uma espécie de arca de Noé da Humanidade que seguiu dentro da sonda Voyager 1 [sonda espacial norte-americana lançada em 1977 para estudar Júpiter e Saturno e que seguiu para o espaço interestelar] – apaixonaram-se. O casal iniciou uma relação amorosa – casaram e tiveram dois filhos – e profissional. Em conjunto escreveram vários livros e criaram a série de televisão Cosmos: Uma Viagem Pessoal, baseada no livro de Carl Sagan, que ficou na história como a primeira obra de ciência a ultrapassar as 500 mil cópias, em 1980.
Só se separaram quando Sagan morreu, em 1996. O cientista tinha 62 anos e não resistiu uma pneumonia depois de uma luta de dois anos contra o cancro. Mas Ann continuou a missão de divulgação da ciência. Em 2014, com Cosmos: Odisseia no Espaço, ganhou os prémios Emmy, Peabody e Producers Guild. Acaba de estrear a série, na National Geographic, Cosmos: Mundos Possíveis, com apresentação de Neil deGrasse Tyson, e de editar o livro com o mesmo nome.
Escreve sobre ciência há 40 anos, que pergunta é que gostava que os cientistas respondessem?
Claro que gostava de saber se podemos entrar em contacto com extraterrestres ou descobrir exatamente como começou o universo – são questões incríveis. Mas não tenho pressa. A pressa que tenho é de aprender a viver em harmonia com a natureza. Ou seja, gostaria que descobrissem como podemos mudar as pessoas para que passem a
preservar o planeta. O que nos falta – enquanto humanos – para entendermos que a ciência tem as respostas e que ainda vamos a tempo de salvar o planeta? Acredito que o planeta não pode ser guiado por um modelo económico. Nenhum dos modelos económicos existentes contém um respeito pelo futuro como a ciência. Enquanto o lucro é para muito poucos e é maximizado em detrimento das necessidades do planeta, estamos condenados.
Ainda vamos a tempo?
Sim. Temos os recursos e a técnica para colocar o planeta num caminho saudável. Mas não o fazemos porque as organizações humanas nunca recuperaram da invenção da agricultura. Nos últimos 10 mil anos nós temos lidado com um stress pós-traumático da agricultura. Estamos envolvidos numa espécie de excesso, sempre à procura de nos empanturrarmos. Estamos a fingir que amamos os nossos filhos, os nossos netos, se não levantamos um único dedo para mudar o mundo.
Foi por isso que escolheu o título
Mundos Possíveis?
Quero despertar nas pessoas um sentido de esperança e um desejo de ação. Temos muitas sombras ao nosso futuro, mas saber isso não é suficiente. Têm de se sentir a esperança e a energia de que precisamos para conseguir completar esse desafio. Para mim, Mundos Possíveis é tão rico e tem em si uma multitude de novos mundos que a comunidade de astrónomos tem descoberto, como os exoplanetas, mas também os mundos possíveis que existiram antes.
Diz que não é uma cientista, e sim uma contadora de histórias. Qual é a sua história preferida?
Bem, sei que isto pode parecer egoísta, mas a minha história preferida é a de quando me apaixonei pelo Carl Sagan e ele por mim. Apesar de não ter, no sentido hollywoodesco, um final feliz, foi verdadeiro.
Pode contá-la?
Não é apenas a história de pessoas a trabalharem juntas numa bonita Q