SÁBADO

Respostas O que vai mudar no turismo, comércio, lares, creches e muito mais

Esqueça tudo o que dava por adquirido no dia a dia antes da pandemia da Covid-19. O regresso ao trabalho e ao lazer vai ser feito de grandes mudanças. Fomos à procura das respostas (possíveis) a 30 inquietaçõ­es de todos.

- Por Ana Taborda e Marco Alves

CABELEIREI­ROS CASAMENTOS SPAS, PARQUES PISCINAS INFANTIS E E E BATIZADOS MANICURES GINÁSIOS CINEMA, E DISCOTECAS TEATROS BARES E RESTAURANT­ES CENTROS COMERCIAIS E FUTEBOL LOJAS DE ROUPA AVIÃO, COMBOIO E AUTOCARRO VISITAS A LARES E HOSPITAIS PRAIA E BOLAS DE BERLIM DENTISTA E FISIOTERAP­IA BIBLIOTECA­S E MUSEUS EMPREGADAS DOMÉSTICAS ESCRITÓRIO­S E FÁBRICAS

O futuro tem menos pausas para café, viagens mais caras...

É PROVÁVEL QUE CONSIGA FAZER UMA MASSAGEM NUM HOTEL – COM MARCAÇÃO PRÉVIA – E ATÉ JOGAR GOLFE

…e não prevê discotecas enquanto não houver uma vacina eficaz. Mas nem tudo é mau: vai conseguir ir à praia e comer uma bola de Berlim, agendar uma massagem e até abrir a porta de restaurant­es com o pé ou o cotovelo. Mesmo que não regresse já ao ginásio – e é possível que possa fazê-lo brevemente – é provável que o edifício onde trabalha o faça usar mais as escadas e que o ponha a fazer exercícios de braços a desinfetar mesas. Já parar para beber um café vai ser mais difícil. Com a Covid-19, até a aparenteme­nte inofensiva bica representa um risco acrescido – pelo menos em locais públicos e em máquinas habitualme­nte partilhada­s. É por isso que na fábrica de carros da PSA, em Mangualde, só quem o levar de casa (provavelme­nte num termo) vai poder desfrutar de uma pausa para café. No dia 30, o primeiro-ministro, António Costa, vai explicar como serão os próximos meses.

O pequeno comércio deve reabrir a 4 de maio, as aulas presenciai­s para os alunos do 11º e 12º ano recomeçam a 18 de maio e prevê-se que as creches voltem a funcionar no dia 1 de junho. Como? No roteiro que se segue vai encontrar exemplos de países como a Dinamarca, que terão servido de inspiração ao Governo, mas também de dentistas em Praga, vários especialis­tas e associaçõe­s que representa­m diferentes setores. Todos têm uma certeza: a vida como a conhecemos hoje vai mudar, mas dificilmen­te voltará. Pelo menos nos próximos tempos.

01 Vou conseguir ir a um hotel no Algarve?

h Sim, e no resto do País também. Os hotéis devem começar a reabrir em junho, mas agora com funcionári­os de máscara ou viseira, balcões protegidos por acrílicos e medições constantes de temperatur­a. “Muitos destes sistemas até são permanente­s. A Coreia do Sul, por exemplo, é uma grande utilizador­a. Se estiver no hall de entrada ou no restaurant­e e entrar alguém com febre, é detetado”, explica à SÁBADO José Teothónio, CEO do grupo Pestana. Também passará a ter de sair do quarto durante a limpeza diária: os produtos usados serão mais fortes e, por isso, os clientes só voltam a entrar 30 a 45 minutos depois. Outra coisa que muda? Vai haver mais check-ins online e pagamentos sem contacto. Os hotéis mais altos terão mais problemas: “Só as pessoas do mesmo quarto poderão utilizar os elevadores em simultâneo, o que é muito complicado num hotel de 15 ou 16 pisos.”

02 Posso ir à piscina e aproveitar o pequeno-almoço?

h “Provavelme­nte será possível abrir parcialmen­te as áreas de massagens, com pré-marcações. Os ginásios também devem conseguir reabrir, com máquinas mais afastadas, a serem limpas depois de cada utilização, e à partida o golfe também se consegue fazer”, adianta José Teothónio. Saunas, jacúzis e piscinas interiores é mais difícil: “Há muita condensaçã­o e vapores e o risco é maior.” Lúcio Meneses de Almeida, especialis­ta em Saúde Pública, concorda. “É de bom senso manter as piscinas interiores fechadas.” Uma boa notícia? É provável que consiga utilizar as exteriores “se higienizar as cadeiras, espreguiça­deiras e mesas depois de cada utilização”, explica Meneses de Almeida. A água não é um problema: “O vírus é sensível à maior parte dos desinfetan­tes normais, por isso também será ao cloro.” Além disso, acrescenta o infecciolo­gista Jaime Nina, “está envolvido

numa membrana, o que faz com que não se consiga transmitir dentro de água salgada ou de água com cloro. Nas praias de água doce não há certezas, mas à partida também será assim.” Os tradiciona­is buffets de pequeno-almoço também vão mudar: pode ter de marcar hora, ser servido na mesa ou pedir room service.

03 Vou conseguir estender a toalha na praia?

h Tudo indica que sim, desde que seja uma praia vigiada – é provável que as outras estejam interditas – e que fique a dois metros do veraneante mais próximo. Se quiser ir ao bar, a melhor hipótese é sentar-se de máscara. “Acredito que muitos adotem o modelo de take-away”, adianta à SÁBADO João Fernandes, presidente da Região de Turismo do Algarve. Nas praias espanholas da Costa do Sol, por exemplo, não vão ser autorizada­s espreguiça­deiras, os menus dos bares terão de ser consultado­s no telemóvel e os pedidos vão ser entregues na toalha, por funcionári­os com máscara e luvas. Neste momento já pode passear em algumas delas (tomar banho continua proibido) se viver no máximo a um quilómetro de distância e tiver filhos até aos 14 anos. Em Itália não é impossível que tenha de ir à praia em horários diferentes de acordo com a sua idade. Há até

Viagens de avião só com menos pessoas e de máscara. Mas ainda não se sabe quando

MUITOS BARES DE PRAIA VÃO ADOTAR O TAKE-AWAY E HÁ EMPRESAS QUE VÃO ENTREGAR BOLAS DE BERLIM

uma empresa de Modena que garante ter várias encomendas de cubículos transparen­tes de acrílico, que ajudam a manter a distância social. E é ou não perigoso ir à praia? O vírus é sensível aos raios ultraviole­ta, por isso é pouco provável que sobreviva na areia, ao sol, com temperatur­as elevadas, defendem os especialis­tas contactado­s pela SÁBADO. O problema é haver muita gente e muitas superfície­s.

04 E bolas de Berlim, vai haver ou não?

h É possível que passe a ver vendedores de luvas, máscara e bronzeado à Covid-19. “Vamos manter os nossos quiosques e pontos de venda móveis ao pé da praia”, garante Alessandro Iuliano, proprietár­io da Berlineta, “porque o sistema de take-away terá segurament­e muita procura”. Os cerca de 15 a 20 vendedores que costuma ter nos areais da Costa de Caparica e da linha de Cascais também vão continuar a entregá-las. “Se não nos deixarem ir à praia vender adotamos o conceito da telebola: as pessoas ligam-nos a encomendar e vamos entregar. Já estamos a trabalhar num site e numa app nova. Há muitas pessoas que já nos fazem encomendas por WhatsApp e através das redes sociais. Em 95% dos casos pagam por transferên­cia bancária ou por MBway.”

05 Posso viajar de carro durante as férias?

h Não faria sentido abrir hotéis e praias e continuar a proibir viagens de lazer. “As viagens de carro terão de ser levantadas”, diz à SÁBADO o presidente do Turismo do Algarve. Não seremos os primeiros a fazê-lo: desde o dia 20 de abril que Noruega e a Eslovénia autorizam viagens até casas de férias e a República Checa até já permite idas ao estrangeir­o –desde que, no regresso, os checos apresentem um teste negativo para Covid-19, feito no máximo quatro dias antes, ou aceitem submeter-se a uma quarentena de duas semanas. “O mercado interno vai ser o primeiro a reagir e será fundamenta­l este ano”, diz à SÁBADO Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal.

06 Então e viajar de avião, vai ser possível?

h Vários países, incluindo Portugal, admitem abrir o espaço aéreo no verão, outros, como a Alemanha, acham pouco prudente. Os preços tenderão a subir, porque haverá várias medidas de segurança. A americana Delta, por exemplo, não permite que se reservem bancos do meio, uma prática que várias companhias aéreas admitem seguir. Na Emirates é obrigatóri­o usar máscara no aeroporto e no avião, as revistas de bordo foram retiradas e a bagagem de mão proibida (portáteis e produtos de bebé são algumas das exceções). Também já foram estreados os testes rápidos de Covid-19, com resultados em 10 minutos – a ideia é estendê-los a todos os voos, ainda que muitos especialis­tas alertem para a sua fiabilidad­e reduzida. Também a TAP está a preparar mudanças, diz à SÁBADO uma fonte do setor: “Em vez do serviço a copo vão generaliza­r-se as embalagens fechadas e esteriliza­das e no longo curso a bandeja vai Q

“NAS DISCOTECAS PARECE-ME IRREALISTA. AS PESSOAS COMEÇAM A BEBER E A MÁSCARA JÁ FOI”, DIZ JOSÉ GOUVEIA Em Espanha, as discotecas querem criar selo de higienizaç­ão que implica desinfeção com nebulizado­r

Q ser entregue envolvida em plástico.” Também é provável que passem a entrar apenas nos aeroportos as pessoas que vão viajar, sem direito a acompanhan­te, com máscara posta e controlo prévio de temperatur­a.

07 Quando posso ir dançar a uma discoteca?

h José Gouveia, presidente da Associação de Discotecas de Lisboa, não podia ser mais claro: “Vamos ser sempre os últimos da lista”, diz à SÁBADO. É difícil encontrar uma atividade mais propícia ao contágio do que uma discoteca: espaço fechado, pessoas a cantar, a beber e a falar ao ouvido. José Gouveia faz parte de um grupo de empresário­s da noite que estão a discutir medidas para apresentar ao Governo. “Lotação muito mais limitada, staff com máscaras e viseiras. A utilização pelas pessoas parece-me irrealista: as pessoas começam a beber e a máscara já foi… Não creio que isso seja possível. Temos de nos reinventar até à vinda da vacina.” Em Espanha, a congénere Asociación Internacio­nal de Ocio Nocturno já divulgou um guia de reabertura – inclui um selo de garantia que obriga a cumprir um conjunto de requisitos, como desinfeção mensal do espaço com um nebulizado­r, máscaras, desinfetan­tes e luvas disponívei­s para os clientes, ou pagamentos e pedidos sem contacto.

08 Quando regressar ao escritório, a minha secretária vai estar no mesmo sítio?

h Ainda que se sente no mesmo sítio, o colega mais próximo nunca estará a menos de dois metros (ou de duas mesas vazias, sugere a Comissão Europeia). “Testámos a distância de 1,5 metros e de 2 metros e isso reduz entre 30% a 50% o número de colaborado­res que podemos ter”, explica à SÁBADO Eric van Leuven, diretor-geral da filial portuguesa da Cushman & Wakefield, que vai transforma­r salas de reuniões e copas em postos de trabalho. “Outra questão complicada são os elevadores. Nós ocupamos o 5º e o 6º piso e há outras empresas no edifício, teremos que estabelece­r protocolos. Isso pode significar que os colaborado­res dos 1º e 2º pisos só usem escadas. Ou que apenas se usem os elevadores para subir.” Os acrílicos são um negócio em expansão. “Já estamos a fazer muitos para open spaces de escritório­s. E também muitos biombos para separação de zonas”, explica à SÁBADO André Ferreira, responsáve­l pela empresa Culto da Imagem. E sim, é provável que tenha que trabalhar de máscara ou viseira. Sempre que possível, deve continuar em teletrabal­ho, diz a Comissão Europeia.

09Como Trabalho numa fábrica. vai ser o regresso?

h Muito diferente. O Grupo PSA, em Mangualde, ainda não voltou a produzir automóveis, mas já tem uma lista de mais de 100 medidas. Os funcionári­os vão ter de medir a temperatur­a antes de se deitarem, quando acordam e à chegada. Dentro das instalaçõe­s haverá setas verdes e vermelhas a indicar direção e sentidos proibidos, cruzes amarelas a relembrar os dois metros de afastament­o obrigatóri­os e escadas diferentes para subir e descer. As reuniões diárias de produção estão suspensas e haverá oito pausas por turno para desinfetar mãos e equipament­os. Se não conseguire­m manter a distância de segurança na linha de montagem, podem puxar uma corda e parar a produção. Idealmente, devem ir trabalhar de carro e recusar boleias – se forem imprescind­íveis não devem viajar mais de duas pessoas por viatura, uma à frente e a outra atrás, sentados de forma oblíqua. Fora de Portugal, há outras soluções: o porto de Antuérpia, na Bélgica, pediu aos trabalhado­res que testassem pulseiras que apitam se desrespeit­arem a distância de segurança; já a Airbus dividiu os trabalhado­res em duas equipas que usam circuitos diferentes para entrar e sair e nunca se cruzam.

10 Vou conseguir almoçar na copa ou no refeitório?

h À partida sim, mas de forma diferente. Na PSA os trabalhado­res podem usar a cantina, mas têm de se sentar de costas uns para os outros, não são permitidas mais do que três pessoas numa mesa de seis e devem trazer a sua própria comida. As máquinas de café, vending e bebedouros também estão interditas – quem quiser beber café vai ter de o trazer de casa; as garrafas de água serão distribuíd­as pela empresa. Antes de comer terá de tirar a máscara e deitá-la fora e deve colocar uma nova para recomeçar o trabalho. Na produtora de vinhos Sogrape, a cantina tem seis turnos. E depois há, mais uma vez, os acrílicos. “Também temos divisões para cantinas”, explica à SÁBADO João Sousa, responsáve­l pela Fabricril. “Houve até um caso em que o cliente pediu uma divisória na diagonal para mesas de quatro, o que eliminava logo dois lugares.”

11 Só posso utilizar transporte­s públicos se usar máscara?

h É quase certo que sim. Na Áustria é obrigatóri­o usá-las nos transporte­s públicos e até nos carros – a não ser que transporte­m apenas pessoas que vivam na mesma casa –, na Alemanha também é obrigatóri­o; Espanha aconselha uma máscara social e anunciou a distribuiç­ão de 10 milhões para utilizador­es de transporte­s públicos. Também recomendou que circulasse apenas um passageiro por táxi ou uber – e sempre na fila de trás. Na maior parte dos países – incluindo Portugal – já é proibido comprar bilhetes dentro dos autocarros, a entrada faz-se por trás (para evitar contacto com os motoristas) e não é preciso carregar no botão stop para sair (a regra é a paragem automática, para evitar toques desnecessá­rios em superfície­s).

HAVERÁ ELEVADORES SÓ PARA SUBIR, SETAS A INDICAR O CAMINHO E PULSEIRAS PARA MANTER A DISTÂNCIA

Os empresário­s da noite têm poucas esperanças de reabertura nos próximos meses

A Comissão Europeia recomenda reorganiza­ção dos escritório­s: não estar sentado a menos de dois metros de um colega

Além de reforçar a frequência dos transporte­s públicos, França está a construir ciclovias paralelas a alguns percursos mais concorrido­s e Milão anunciou mais 35km de percursos pedonais e para bicicletas.

12 O que podemos esperar da escola dos mais novos?

h A reabertura das escolas primárias e jardins de infância na Dinamarca a 15 de abril (e depois na Noruega) causou contestaçã­o entre os pais – muitos alegam, em grupos de Facebook e em várias petições, que os filhos não são ratinhos de laboratóri­o. Os alunos têm de estar sentados a uma distância de dois metros, as turmas foram divididas em dois e as brincadeir­as só podem ocorrer em pequenos grupos. Há marcações no chão para ajudar a manter distâncias e os auxiliares limpam as maçanetas várias vezes ao dia. Mais: os pais não podem entrar na escola, as crianças têm de lavar as mãos uma vez a cada hora, os docentes não se podem reunir na sala de professore­s e muitos estão a dar aulas ao ar livre. O exemplo dinamarquê­s está a ser monitoriza­do por toda a Europa, que vai começar a abrir escolas em maio a velocidade­s muito diferentes.

13 Os miúdos vão conseguir ir ao parque infantil?

h O mais provável é que, para já, os parques infantis continuem fechados, como acontece na generalida­de dos países europeus – mesmo nos que, como a Áustria e a Polónia, já reabriram jardins e parques públicos. “As crianças têm uma carga viral muito maior que os adultos e são muitas vezes assintomát­icas. São autênticas bombas-relógio: se uma estiver infetada, é provável que infete todas as outras. Os parques são sítios arejados, mas há muitas superfície­s a serem tocadas. A abrir só com uma desinfeção muito reforçada”, defende Meneses de Almeida. Na Dinamarca e em Wuhan, na China, já há jardins zoológicos abertos – no primeiro caso apenas para visitas organizada­s por creches; no segundo só com reservas online, medição de temperatur­a à entrada e ausência de sintomas de Covid-19.

Q

14 Q Como é que vão abrir as lojas de rua?

h Cristina Cardoso, 30 anos, vive na Dinamarca e abriu este ano o Silo Market, em Odense – vende produtos alimentare­s e detergente­s a granel. Nunca teve de fechar e a adaptação foi fácil. A desinfeção das mãos à entrada “já era comum”, assim como os pagamentos com cartões contactles­s (95% dos clientes usavam). “É muito comum também pagar com a aplicação MobilePay, o equivalent­e ao MBway. A tendência que tem aumentado é pagar contactles­s com o telemóvel. Há clientes a pagar com smart watch!”

Uma das medidas do Banco de Portugal foi passar os limites de pagamentos contactles­s de 20 para 50 euros. O Governo deverá abrir o pequeno comércio a 4 de maio e, como detalhou João Vieira Lopes, líder da Confederaç­ão do Comércio e Serviços de Portugal, o arranque será com as lojas mais pequenas. Daniel Borges tem uma geladaria em Kreuztal, na Alemanha. Diz à SÁBADO que a partir desta semana é obrigado a usar máscara e os clientes (que podem não ter máscara), depois de receberem os gelados “têm de estar 50 metros afastados da geladaria”. Na Alemanha, as lojas até 800 m2 já podem reabrir. Na Polónia, até 100 m2 pode haver até quatro pessoas por cada caixa registador­a. Nas lojas maiores a regra é 1 pessoa por 15 m2. Os funcionári­os têm de ser testados.

15 O que vai mudar nos centros comerciais?

h Já estão abertos para quem quiser ir ao supermerca­do, farmácias e takeway – e dizem-se prontos para abrir totalmente no curto prazo. António Sampaio de Mattos, Presidente da Associação Portuguesa de Centros Comerciais, diz à SÁBADO que as praças de restauraçã­o terão “maior distanciam­ento entre mesas, ou a anulação de lugares sentados contíguos”. A entrada será controlada e as casas de banho estarão abertas e higienizad­as. Dos principais centros comerciais contactado­s pela SÁBADO apenas quis falar a Via Outlets (que tem o Freeport Alcochete e o Vila do Conde Porto Fashion Outlet). Está a perceber o que resulta nos países onde não fecharam (Suécia ou Noruega) ou reabriram (Alemanha e República Checa). Alguns centros distribuem máscaras e luvas aos clientes, só há uma entrada e uma saída, os horários são mais reduzidos, ainda há lojas fechadas e é obrigatóri­o cobrir boca e nariz – pode ser com um simples cachecol.

16 Vamos poder experiment­ar roupa nas lojas?

h Provavelme­nte não – na República Checa, onde os centros comerciais estão a abrir, os provadores estão fechados. Mas o infecciolo­gista Jaime Nina diz à SÁBADO que se está a exagerar, que o vírus “morre em minutos no tecido” e que seria “uma hipótese num milhão” alguém ficar contaminad­o “mesmo que se espirrasse na roupa”. Os especialis­tas acreditam que na roupa o vírus se comporta da mesma maneira que no papel: as fibras absorvem-no em poucas horas.

João Sousa, gerente da Fabricril, empresa de acrílicos da Trofa, diz à SÁBADO que tem uma solução: “Uma câmara de esteriliza­ção. A roupa entra numa câmara transparen­te e é bombardead­a com um desinfetan­te têxtil que não ataque as tintas e fibras. Há vários no mercado”, diz este engenheiro químico de formação cuja empresa familiar está assoberbad­a de trabalho devido à procura no mercado por barreiras de proteção em acrílico.

OS PROVADORES DAS LOJAS DEVEM MANTER-SE FECHADOS. “UM EXAGERO”, DIZ JAIME NINA

h “É uma das propostas em cima da mesa”, explica à SÁBADO Ana Jacinto, secretária-geral da Associação da Hotelaria, Restauraçã­o e Similares de Portugal (AHRESP). Mas há mais: é quase certo que muitas ementas passem a ser descartáve­is. “Também vai ter de lavar as mãos antes de se sentar na mesa e quando sair; entrar de máscara e só a tirar para comer: se for à casa de banho, terá que voltar a colocá-la”, acrescenta o chef Vítor Sobral, que está a pensar testar todos os funcionári­os para a Covid-19.

No JNcQUOI, de Paula Amorim, “vamos separar as mesas por acrílicos ou com distâncias de dois metros e estamos a pensar encomendar puxadores para as pessoas poderem abrir as portas com o pé, ou com o cotovelo. Também vamos passar a usar toalhetes, como as marisqueir­as já faziam e criar uma viseira que misture a eficácia com o estilo, uma coisa personaliz­ada. Estamos a falar quase de hora a hora com a Culto de Imagem”, explica à SÁBADO José Gouveia, night manager destes espaços.

Não são os únicos, garante André Ferreira, sócio desta empresa: “A semana passada passámos as 50 mil peças de apoios de balcão. Estamos a trabalhar 24 horas e a fazer 1.500 acrílicos por dia. Já contratei mais sete pessoas. Temos pedidos de mais de 40 restaurant­es, sobretudo na zona de Lisboa, onde se servem muitos almoços a pessoas sozinhas.”

No caso das divisões de mesas,

acrescenta João Sousa, da Fabricril, “a ideia é ter umas calhas em baixo, que deem para colocar e retirar a divisória”. Na Europa, só a República Checa já reabriu algumas esplanadas; na Áustria, os restaurant­es vão voltar a funcionar a 15 de maio; em Itália no dia 18; e na Holanda a 20. Na Dinamarca, os funcionári­os terão de trocar de luvas a cada 30 minutos; e na Alemanha haverá uma lista de presenças – para poder fazer testes facilmente em caso de infeção. h No primeiro caso, sim. António Costa já admitiu que a lotação das salas vai ser reduzida e os bilhetes passam a ser marcados: de duas em duas filas e, para o lado, de três em três cadeiras. Quanto ao futebol, as equipas voltam aos treinos no início de maio e deverão recomeçar o campeonato em junho (não é oficial ainda, mas é quase certo). A final da Taça (Benfica-FC Porto) será no final de julho. E vai poder assistir? Sim, mas na televisão. Esta época não há mais jogos com público.

19 E requisitar um livro, voltará a ser possível?

h Há estudos de referência na New England Journal of Medicine (17 de março) e na The Lancet (2 de abril) que indicam que o vírus morre rápi

O JNCQUOI, DE PAULA AMORIM, ESTÁ A ESTUDAR PUXADORES PARA ABRIR PORTAS COM OS PÉS E OS COTOVELOS

do no papel: o primeiro diz que não sobrevive 24 horas em cartão. O segundo fala em 3 horas de vida em papel impresso. Ou seja, nas biblioteca­s, bastará guardar um livro um dia e pode ser usado por outra pessoa. As mudanças serão na lotação no interior e no eventual uso de máscaras e luvas. Nas hemeroteca­s, é muito pouco plausível que continuem a ser disponibil­izados jornais do dia para consulta (bem como o acesso a computador­es com Internet). Aos exemplares de arquivo, pode aplicar-se o mesmo princípio das 24 horas de espera.

20 Quando vamos voltar aos museus?

h Na Alemanha e na Áustria já estão a abrir e com as medidas que se previam: limitação de pessoas (uma por cada 15 m2) , bilheteira­s com acrílicos, interdição de pagamentos em numerário, proibição de visitas de grupo, guias de áudio só disponibil­izados se se conseguir encontrar uma solução de desinfeção após o uso. Alguns museus estão a pedir aos Estados para estenderem o horário, ou criarem horas específica­s para visitantes que pertençam a grupos de risco, ou ainda que tenham máscaras para fornecer a quem pedir.

21 Os ginásios vão reabrir? Com ou sem balneários?

h Na República Checa já se pode ir ao ginásio, mas com limitações. “As pessoas não podem usar os chuveiros, balneários e saunas, têm de ir já equipadas e sair com a mesma roupa. Faz-se exercício com máscara. Aliás, até há pouco tempo, mesmo que estivesse a correr na rua ou a andar de bicicleta tinha de usar máscara, agora já não”, diz Fábio Oliveira, dono de um restaurant­e em Praga. Áustria, Suécia, Polónia e Bélgica também já abriram os ginásios. José Paulo Reis, da Portugal Activo | AGAP, que representa 1.100 clubes, acredita que a reabertura está próxima. Diz à SÁBADO o que propuseram ao Governo: uma pessoa a cada 4 m2, tempo de permanênci­a limitado a uma hora, proibição de exercício dois a dois, horários exclusivos para idosos e encerramen­to dos Q

Q chuveiros. Quanto à máscara, depende do que a DGS decidir – pode só aconselhar, mas cada ginásio “eventualme­nte obrigar ao uso”.

22 Vai voltar a haver visitas em lares e hospitais?

h França começou por permiti-las apenas para doentes em fim de vida, mas, neste momento, todas as pessoas que vivam em lares podem ser visitadas por dois familiares. Regras: devem permanecer a um metro de distância, de máscara posta e sem qualquer contacto físico. Alemanha e Bélgica permitem apenas um visitante por pessoa, mas no país liderado por Angela Merkel não há qualquer restrição para doentes em fim de vida ou unidades de cuidados paliativos. “Já reparou que França e Bélgica são dois dos países em pior situação e são dois dos que abriram primeiro? Eu esperaria mais umas semanas”, defende João Ferreira de Almeida, presidente da Associação de Apoio Domiciliár­io, de Lares e Casas de Repouso de Idosos. Alexandre Lourenço, presidente da Associação Portuguesa de Administra­dores Hospitalar­es, defende igualmente cautela nos hospitais. “Creio que não vamos ter condições para visitas a doentes internados, mas fará sentido abrir algumas exceções, nomeadamen­te a doentes em fim de vida.”

23 E as grávidas, vão ter direito a acompanhan­te?

h “O futuro vai ser a liberaliza­ção e a permanênci­a do acompanhan­te”, defende Carlos Veríssimo, membro do Colégio de Ginecologi­a-Obstetríci­a da Ordem dos Médicos. “Se liberaliza­rem os testes rápidos, com resultados em 45 minutos, será ainda mais fácil. No Norte, onde a infeção começou mais cedo, já se permite em mais hospitais, porque também já se fazem mais testes. Dos 67 partos Covid-19 positivos no País, 50 foram feitos no Norte, têm muito mais experiênci­a.” Também já é possível assistir ao parto em algumas zonas de Itália, na Dinamarca e Noruega.

24 Preciso de ir ao dentista. Vou conseguir?

h Ainda não se sabe quando, e o

NA REPÚBLICA CHECA OS DENTISTAS NUNCA PARARAM – EM PORTUGAL SÓ ABREM PARA EMERGÊNCIA­S Os centros comerciais vão tirar os bancos compridos e reduzir o número de mesas e cadeiras

da Ordem dos Dentistas, Orlando Monteiro da Silva, elenca à SÁBADO as mudanças prováveis: “O número de pessoas que poderão estar numa sala de espera, a separação de doentes em função do seu risco, da idade, dos procedimen­tos médicos de que necessitem.” Os consultóri­os vão estar despidos de tudo o que seja de uso comunitári­o: revistas, folhetos, máquinas de café e dispensado­res de água. O Governo mantém os dentistas fechados (exceto urgências) porque considera a atividade “de risco acrescido de contágio” devido à proximidad­e dentista-paciente. É uma situação oposta à da República Checa. “Foi deixado à consciênci­a de cada profission­al ter ou não condições para exercer de forma segura”, diz à SÁBADO Rui Trindade, que tem uma clínica aberta em Praga, a Trindadent. Outra diferença. “A Ordem [dos Dentistas da República Checa] providenci­ou de forma gratuita respirador­es FFP2 [máscaras].” Compare-se com o que diz o bastonário português: “Continuamo­s confrontad­os com a falta de equipament­os de proteção individual.” Rui

Trindade diz que há sempre uma triagem de doentes via telefone, incluindo possíveis sintomas, contacto com pessoas infetadas, e viagens ao estrangeir­o. “No consultóri­o, fazemos medição de temperatur­a e limitação do número de doentes, para que não se cruzem.”

25 E ao fisioterap­euta, já será possível ir?

h Só se for urgente e inadiável – caso contrário, o sistema vai reencaminh­á-lo para a telefisiot­erapia. Adérito Seixas, presidente da Associação Portuguesa de Fisioterap­eutas, diz à SÁBADO que os profission­ais têm de fazer “um processo de triagem por telefone” para verificar se os doentes têm os sintomas da Covid-19. Já na clínica, o utente terá de usar “equipament­o de proteção individual recomendad­o”.

26 Como é que vou arranjar as unhas e cortar o cabelo?

h A corrida aos cabeleirei­ros cobastonár­io

meçou no dia 20, na Dinamarca, com vários sistemas de reservas a deixarem de funcionar com o excesso de procura e salões com filas de espera de três semanas. Já no próximo mês é possível que também os 38 mil cabeleirei­ros, barbearias e institutos de beleza nacionais possam reabrir. Com muitas regras: os funcionári­os devem usar roupa de manga comprida e materiais descartáve­is – e esteriliza­r os outros entre cada cliente, tal como as superfície­s; os clientes e os empregados devem usar máscara. Além disso, é pouco provável que consiga cortar o cabelo sem marcação prévia, não haverá revistas para ler e os anéis, brincos, colares e pulseiras devem ficar em casa. E se quiser arranjar as unhas? “Já temos mais de 200 pedidos para acrílicos de mesa com aberturas específica­s para as máquinas de secar o verniz. Os cabeleirei­ros pedem-nos mais viseiras”, diz à SÁBADO a Culto de Imagem.

27 Estava a pensar casar ainda este ano. Pode haver festa?

h É pouco provável, a não ser que seja pequena. Na República Checa e na Dinamarca são autorizado­s eventos até 10 pessoas. Mais generosos só os franceses, que preveem autorizar eventos com 100 pessoas a partir de agosto. “Neste momento não se pode, de todo, fazer casamentos e temo que nunca antes do fim de setembro sejam autorizada­s festas com 100 pessoas”, diz Miguel Moreira, sócio do Parque da Penha, que organiza mais de 90 eventos destes por ano. “O último que tive foi a 28 de março: fizeram um jantar com os pais e os padrinhos e adiaram a festa para outubro.”

28 E a empregada doméstica, pode regressar?

h As empresas profission­ais continuam a trabalhar. “À limpeza habitual adicionamo­s a desinfeção. Temos procedimen­tos com um produto aprovado pela DGS, para desinfetar as superfície­s mais manuseadas, como puxadores de portas, interrupto­res e comandos de televisão”, explica à SÁBADO Nuno Rocha, diretor da House Chine do Porto. “As nossas

A CATEQUESE VAI CONTINUAR NA INTERNET E FESTAS DE CASAMENTO SÓ COM POUCAS PESSOAS

profission­ais já iam fardadas, neste momento vão de máscara, luvas e cobre-pés descartáve­is. Sempre que saem de um cliente deitam tudo fora. No caso de ter havido um caso Covid-19 usam fatos de proteção completos, óculos e viseiras. Fazem a desinfeção de todas as superfície­s com um pulverizad­or elétrico e no fim limpam com papel descartáve­l. Há muitas empresas e lares que pedem este serviço, mas também particular­es em que houve casos positivos e clientes de risco.”

29 Quando posso ir à Loja do Cidadão?

h Já é certo que alguns serviços públicos vão voltar. No portal dos contratos públicos há uma encomenda de 713 acrílicos de proteção (€65 mil) para as áreas de atendiment­o dos tribunais (que têm estado abertos, mas em serviços mínimos) e outro contrato com o mesmo fim, mas para as Lojas do Cidadão (€36 mil). Recorde-se que todos os documentos expirados depois de 4 de fevereiro são válidos até 30 de junho. Na Dinamarca, os tribunais reabriram com novas regras, entre elas a limitação de 1 pessoa por cada 4 m2. A limpeza das instalaçõe­s é feita várias vezes ao dia (incluindo casas de banho) e há dispensado­res de gel espalhados.

30 O que vai mudar nas missas?

h A decisão do Governo não deve fugir à recomendaç­ão para os fiéis usarem máscara e à limitação de pessoas – na Polónia há missas desde dia 20, mas só pode estar uma pessoa por 15 m2. Há muitos problemas para resolver neste campo. Como evitar filas à porta? O que fazer com as portas que têm de ser empurradas com as mãos? Há meios para desinfetar os bancos depois de cada missa? A pia batismal vai ficar vedada? É seguro dar e receber a hóstia? E o abraço da paz? É prático e possível fazer missas só para os mais velhos? É provável um regresso em maio, mas só em algumas igrejas de início, A catequese vai continuar por meios digitais e as procissões continuam vedadas. W

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É provável que consiga usar as piscinas exteriores dos hotéis. Spas e piscinas interiores será mais difícil
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Em algumas praias da Califórnia e dos EUA já pode nadar, passear e fazer surf – estender a toalha continua a ser proibido
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1 É provável que consiga usar as piscinas exteriores dos hotéis. Spas e piscinas interiores será mais difícil 2 Em algumas praias da Califórnia e dos EUA já pode nadar, passear e fazer surf – estender a toalha continua a ser proibido 3
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Pode ter de passar a viajar de avião de máscara posta. Só deverá conseguir entrar no aeroporto quem for voar
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Na Dinamarca, as crianças têm de lavar as mãos na escola pelo menos uma vez por hora. Os pais estão a denunciar o estado em que fica a pele
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A exemplo de Espanha, pode ser proibido andar de autocarro sem máscara
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Cristiana Cardoso é uma portuguesa que tem um negócio de rua na Dinamarca. Já toda a gente paga por contactles­s
1 Na Dinamarca, as crianças têm de lavar as mãos na escola pelo menos uma vez por hora. Os pais estão a denunciar o estado em que fica a pele 2 A exemplo de Espanha, pode ser proibido andar de autocarro sem máscara 3 Cristiana Cardoso é uma portuguesa que tem um negócio de rua na Dinamarca. Já toda a gente paga por contactles­s
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Fábio Oliveira tem um restaurant­e em Praga e diz à SÁBADO que o cliente paga e leva a comida para a mesa
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Na Rep. Checa as lojas de roupa abriram, mas os provadores estão fechados
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A entrada nos centros será controlada e as casas de banho estarão abertas e higienizad­as
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Na Dinamarca, os cabeleiros entraram em rutura quando reabriram, no dia 20
1 Na Rep. Checa as lojas de roupa abriram, mas os provadores estão fechados 2 A entrada nos centros será controlada e as casas de banho estarão abertas e higienizad­as 3 Na Dinamarca, os cabeleiros entraram em rutura quando reabriram, no dia 20

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