Vaga de assaltos a restaurantes na Foz
Desde que foi decretado o estado de emergência houve mais de 10 assaltos a restaurantes da zona da Foz do Porto. Os proprietários queixam-se da impunidade dos ladrões enquanto a PSP diz estar a trabalhar sobre o assunto.
Manuel Tavares de Pina nem acredita no que lhe está a acontecer. “Andamos a lutar contra estas dificuldades todas [do estado de emergência] e isto ainda nos magoa mais.” Nas últimas três semanas, o seu restaurante Bocca, situado na Rua do Passeio Alegre, mesmo junto à marginal, foi assaltado quatro vezes e sempre pelo mesmo ladrão: “É um tipo que se chama Nuno e a alcunha dele é o Timorense. Vive numa casa abandonada perto da capelinha das piscinas do Fluvial [Capela do Senhor e Senhora da Ajuda]”, diz, ao mesmo tempo que garante que fez várias vezes queixa à polícia. “O problema – e eu nem culpo a Polícia Municipal nem a Polícia de Segurança Pública – é que eles não têm meios para o prender. Aqui e ali ainda conseguem apanhar estes tipos, mas a legislação desvaloriza o pequeno crime.”
Manuel não é o único a lamentar a situação. Há vários empresários e gerentes que, em declarações à SÁBADO, relatam episódios semelhantes, de assaltos reincidentes aos seus estabelecimentos, mas que preferiram não ser identificados com receio de represálias: “Temos famílias que andam aqui na Foz, graças a Deus ainda não nos aconteceu nada, mas temos medo.”
Um dos gerentes conta que sofreu três assaltos em dois dos seus restaurantes. Num deles, a polícia apareceu pouco tempo depois de o alarme tocar, por volta das 4h da manhã: “Pelo que me apercebi, estava a haver uma festa aqui numa igrejita onde os ressacas costumam estar todos a dormir. A polícia de choque andava a patrulhar e apareceu num instante. Eram duas carrinhas e umas sete motas, nunca vi tanta polícia junta como nesse dia!”
Fonte oficial da PSP do Porto confirmou à SÁBADO que na noite de 23 de abril intercetou
Segurança Os proprietários ponderam contratar um guarda-noturno privado para se protegerem dos assaltos
o assaltante que foi constituído arguido com termo de identidade e residência, tendo sido a informação remetida para o Ministério Público. “Temos recebido algumas participações, temos o suspeito identificado e estamos efetivamente a trabalhar no assunto.” Contudo, como não foi apresentada queixa no momento do assalto – processo que será oficializado dentro de dias, segundo o gerente – a PSP não pôde manter detido o suspeito que, no dia seguinte, fez um novo furto, no bar da praia do Homem do Leme.
“É o terceiro no espaço de uma semana”, reclama outro gerente que já contabiliza um prejuízo de mais de 5 mil euros. “No vídeo dá para ver a máscara que a polícia lhe tinha dado na noite anterior, quando foi apanhado”, diz, garantindo que é sempre o mesmo assaltante: “Todos sabem o nome dele, ele entra, está o tempo que quer, pinta a manta como quer e não acontece nada. Há até câmaras de restaurantes que o filmam a fazer tudo, inclusivamente a abrir garrafas de vinho.”
Manuel Tavares de Pina vai mais longe. “Estes assaltantes quando são apanhados sentem-se quase uns heróis e ainda passam na rua a gozar com os polícias! Sentem-se protegidos pela lei e deixam as próprias forças de segurança numa situação dramática de impotência. Há um regime de total impunidade por parte dos tribunais.”
Uma das soluções ponderadas pelo conjunto de empresários passa pela contratação de um guarda-noturno privado. “Teremos de nos substituir ao Estado e tratar nós da nossa segurança”, atira Manuel Tavares, decisão confirmada por Miguel Ferreira, gerente do bar Caipicompany da praia do Molhe, um dos últimos a ser assaltados. “Eu já tinha sido avisado, parece que os assaltos são em filinha. Neste momento devem faltar só dois restaurantes.”
Miguel Ferreira não conseguiu identificar o assaltante, que entrou no bar às 4h da manhã, porque os discos do sistema de vigilância estavam avariados, embora “tudo aponte para que seja o mesmo suspeito” pelo modo de atuar: “Parece-me que foi uma entrada e saída rápida porque o alarme só tocou uma vez. O assaltante deixou um rasto de garrafas pelo bar, que devem ter caído enquanto fugia, e até deixou lá o pé de cabra.” A queixa foi apresentada e o caso seguiu para tribunal, mas isso não descansa o dono do bar. “A orla marítima do Porto está completamente abandonada. Sem luz e sem policiamento fica muito fácil atacar na zona.”