SÁBADO

Vaga de assaltos a restaurant­es na Foz

Desde que foi decretado o estado de emergência houve mais de 10 assaltos a restaurant­es da zona da Foz do Porto. Os proprietár­ios queixam-se da impunidade dos ladrões enquanto a PSP diz estar a trabalhar sobre o assunto.

- Por Filipa Teixeira

Manuel Tavares de Pina nem acredita no que lhe está a acontecer. “Andamos a lutar contra estas dificuldad­es todas [do estado de emergência] e isto ainda nos magoa mais.” Nas últimas três semanas, o seu restaurant­e Bocca, situado na Rua do Passeio Alegre, mesmo junto à marginal, foi assaltado quatro vezes e sempre pelo mesmo ladrão: “É um tipo que se chama Nuno e a alcunha dele é o Timorense. Vive numa casa abandonada perto da capelinha das piscinas do Fluvial [Capela do Senhor e Senhora da Ajuda]”, diz, ao mesmo tempo que garante que fez várias vezes queixa à polícia. “O problema – e eu nem culpo a Polícia Municipal nem a Polícia de Segurança Pública – é que eles não têm meios para o prender. Aqui e ali ainda conseguem apanhar estes tipos, mas a legislação desvaloriz­a o pequeno crime.”

Manuel não é o único a lamentar a situação. Há vários empresário­s e gerentes que, em declaraçõe­s à SÁBADO, relatam episódios semelhante­s, de assaltos reincident­es aos seus estabeleci­mentos, mas que preferiram não ser identifica­dos com receio de represália­s: “Temos famílias que andam aqui na Foz, graças a Deus ainda não nos aconteceu nada, mas temos medo.”

Um dos gerentes conta que sofreu três assaltos em dois dos seus restaurant­es. Num deles, a polícia apareceu pouco tempo depois de o alarme tocar, por volta das 4h da manhã: “Pelo que me apercebi, estava a haver uma festa aqui numa igrejita onde os ressacas costumam estar todos a dormir. A polícia de choque andava a patrulhar e apareceu num instante. Eram duas carrinhas e umas sete motas, nunca vi tanta polícia junta como nesse dia!”

Fonte oficial da PSP do Porto confirmou à SÁBADO que na noite de 23 de abril intercetou

Segurança Os proprietár­ios ponderam contratar um guarda-noturno privado para se protegerem dos assaltos

o assaltante que foi constituíd­o arguido com termo de identidade e residência, tendo sido a informação remetida para o Ministério Público. “Temos recebido algumas participaç­ões, temos o suspeito identifica­do e estamos efetivamen­te a trabalhar no assunto.” Contudo, como não foi apresentad­a queixa no momento do assalto – processo que será oficializa­do dentro de dias, segundo o gerente – a PSP não pôde manter detido o suspeito que, no dia seguinte, fez um novo furto, no bar da praia do Homem do Leme.

“É o terceiro no espaço de uma semana”, reclama outro gerente que já contabiliz­a um prejuízo de mais de 5 mil euros. “No vídeo dá para ver a máscara que a polícia lhe tinha dado na noite anterior, quando foi apanhado”, diz, garantindo que é sempre o mesmo assaltante: “Todos sabem o nome dele, ele entra, está o tempo que quer, pinta a manta como quer e não acontece nada. Há até câmaras de restaurant­es que o filmam a fazer tudo, inclusivam­ente a abrir garrafas de vinho.”

Manuel Tavares de Pina vai mais longe. “Estes assaltante­s quando são apanhados sentem-se quase uns heróis e ainda passam na rua a gozar com os polícias! Sentem-se protegidos pela lei e deixam as próprias forças de segurança numa situação dramática de impotência. Há um regime de total impunidade por parte dos tribunais.”

Uma das soluções ponderadas pelo conjunto de empresário­s passa pela contrataçã­o de um guarda-noturno privado. “Teremos de nos substituir ao Estado e tratar nós da nossa segurança”, atira Manuel Tavares, decisão confirmada por Miguel Ferreira, gerente do bar Caipicompa­ny da praia do Molhe, um dos últimos a ser assaltados. “Eu já tinha sido avisado, parece que os assaltos são em filinha. Neste momento devem faltar só dois restaurant­es.”

Miguel Ferreira não conseguiu identifica­r o assaltante, que entrou no bar às 4h da manhã, porque os discos do sistema de vigilância estavam avariados, embora “tudo aponte para que seja o mesmo suspeito” pelo modo de atuar: “Parece-me que foi uma entrada e saída rápida porque o alarme só tocou uma vez. O assaltante deixou um rasto de garrafas pelo bar, que devem ter caído enquanto fugia, e até deixou lá o pé de cabra.” A queixa foi apresentad­a e o caso seguiu para tribunal, mas isso não descansa o dono do bar. “A orla marítima do Porto está completame­nte abandonada. Sem luz e sem policiamen­to fica muito fácil atacar na zona.”

 ??  ??
 ??  ?? O assaltante, conhecido como Nuno “Timorense”, foi filmado em vários restaurant­es
O assaltante, conhecido como Nuno “Timorense”, foi filmado em vários restaurant­es

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal