SÁBADO

Texto Direito de resposta de Miguel Sousa Tavares

Recurso de Miguel Andersen de Sousa Tavares contra a revista SÁBADO por denegação do exercício do direito de resposta

- Miguel Sousa Tavares

Na edição do dia 30.01.20 desta revista, na página 58 e sob o título “Milhão por casa do Novo Banco”, vem contada uma história toda ela destinada a insinuar que a casa onde actualment­e resido terá sido, de facto, comprada, não ao Novo Banco, mas sim ao extinto BES, e por um preço de favor devido ao facto de o então seu presidente ser o meu “compadre Ricardo Salgado”. De facto, parece que, há uns anos atrás terei cometido o crime de não ter tentado impedir que a minha filha se casasse com um filho de Ricardo Salgado, crime esse de que não me arrependo, pois nesse “negócio” ganhei um genro por quem tenho uma imensa estima

NUNCA TIVE COM O BES OU O GRUPO GES UM NEGÓCIO DE QUALQUER NATUREZA: NUNCA LHES PEDI UM EURO

e admiração, quer profission­al, quer, sobretudo, pessoal. Porém, e por muito que isto custe a aceitar pela maledicênc­ia alheia, sucede que em todos os anos em que o meu “compadre” foi, como diziam, o Dono Disto Tudo, perante quem tantos se curvavam e mendigavam favores e benesses, eu nunca tive com o BES ou o grupo GES um negócio de qualquer natureza: nunca lhes vendi ou comprei o que quer que fosse, nunca participei em sociedades deles ou tive cargos nelas, nunca tive produtos financeiro­s deles, nunca lhes pedi 1 euro emprestado. Agradecia que no futuro passassem a provar o contrário, antes de o insinuarem.

Quanto à casa onde moro, tal como expliquei ao vosso jornalista (depois de ter sido intimado para tal em termos policiais), encontrei-a à venda através da Internet, ao fim de meses a procurar e a visitar dezenas de casas. Inicialmen­te, ia comprar um apartament­o a um particular no mesmo prédio, mas surgiu outro comprador que me passou à frente e virei-me então para outra fracção do prédio, de várias que estavam livres e que pertenciam todas ao Novo Banco. Chegados a acordo sobre o preço, fomos directamen­te para a escritura, sem fazer contrato-promessa. Já não havia BES desde o ano anterior, já não havia DDT e, quanto ao preço, como o vosso próprio artigo reconhece, outros compraram depois de mim mais barato. E para maior esclarecim­ento ou satisfação do vosso jornalista, também expliquei que paguei esta casa com o dinheiro da venda de outra, onde vivi durante 20 anos, e a qual, por sua vez, fui pagando com um empréstimo concedido por esse prazo pelo BCP. Isto esclarecid­o, julgava eu que não havia notícia – pelo menos, na minha concepção de jornalismo. Mas, de facto, eu sabia que, para vocês, haveria sempre notícia. Se não havia factos, podia haver suposições; se não havia acusações sustentáve­is, podia haver suspeições. Ricardo Salgado já não era o DDT mas continuava a ser o “compadre” do MST, crime insanável; o NB não era o BES, mas por pouco; o preço não tinha sido de favor, mas podia ter sido. Qualquer coisa podia-se sempre atirar para o ar para ser devorado, com deleite, pela habitual canalha delinquent­e das redes sociais (até houve um, no vosso site, que concluiu, com imensa esperteza, que eu comprei a minha casa com dinheiro dos contribuin­tes...).

Dou-vos os meus parabéns, sem mais comentário­s, que seriam inúteis. Se algum escrúpulo vos resta, alguma leve sombra de mal-estar, espero, ao menos, que publiquem isto, sem mais.

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Miguel Sousa Tavares, jornalista

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