Policiário
DIZIAM-LHE OS AMIGOS PARA TER O CUIDADO
de nunca aparecer quando os nevoeiros tapassem a planície, pois poderia acabar em rei… sem trono! Sebastião não era rei de coisa nenhuma.
Filho de um modesto caseiro de uma propriedade abastada, teve a sorte de vir ao mundo com dois palmos de cara e assim conquistar a filha do senhor das terras, algo que não era, como é óbvio, muito bem recebido por este.
Daí que estivesse proibido de aparecer na parte da casa dos senhores, o que não impedia, ao que se dizia, alguns encontros furtivos.
Naquela manhã, Alarcão, proprietário e pai de Carolina, levantou-se cedo, cerca das 7 horas e, como declarou mais tarde à polícia, não viu nada, porque o nevoeiro ali é mesmo cerrado e também não ouviu nada estranho, nem os cães deram sinal, pelo que foi logo fazer aquilo que mais gostava, ou seja, tratar dos seus cães, mas muito rapidamente porque ainda era muito cedo e o vento forte e gelado cortava a cara.
O casarão ficava na parte da frente do terreno, ainda a considerável distância da estrada e era vedado em todo o seu perímetro por muros altos. Na parte de trás do terreno, fora dos muros, estava a casa do caseiro, onde vivia Sebastião.
Todo o terreno estava isolado de outros, uma vez que havia pinhais em toda a volta, exceto na frente, onde passava a estrada. Do lado direito, havia um caminho que dava acesso à casa do caseiro, ao longo do muro compacto, de mais de 100 metros, apenas interrompido, quase no seu extremo, por um portão que era usado por todos os que da casa do caseiro iam ou vinham para a casa de Alarcão. Foi por volta das 8 horas que a mãe do moço deu com ele sem vida, quando o foi chamar para o pequeno-almoço.
Os pais de Sebastião não deram por nada, segundo declararam, o mesmo acontecendo com os moradores da casa de Alarcão. Os vizinhos mais próximos, do outro lado do pinhal, disseram que apenas ouviram os cães em grande algazarra, por volta das 7 e meia, como sempre faziam, quando o seu dono regressava a casa depois de alguma ausência e o vento estava de feição.
O padeiro da aldeia, que circulava por ali, como sempre fazia por volta daquela hora, na faina de levar o pão de porta em porta, declarou que não deu nota de nada e que só viu, ao olhar da estrada, o senhor Alarcão a caminhar em direção a sua casa, vindo dos lados da casa do caseiro, ainda não eram 8 horas.
A polícia interrogou o padeiro durante algum tempo. Sabia-se que Sebastião namorara com a filha dele durante muito tempo e que chegaram a ter data marcada para o casamento, mas a chegada da filha de Alarcão fez cair por terra todos os planos. Mas o interrogatório não revelou muito mais.
A filha do padeiro, por seu lado, declarou não saber nada sobre o assunto, já que nessa madrugada e manhã
estivera com a mãe a fazer o pão que o pai levava a casa das pessoas, o que se confirmou.
Alarcão manteve a sua história e mostrou-se muito ofendido por alguém alimentar sequer a suspeita de que ele seria capaz de fazer tal atrocidade ao moço, mesmo querendo, como ele queria, que ele largasse a sua filha, de vez.
O Inspetor Fidalgo não precisou de muito tempo para descobrir que alguém não dizia toda a verdade nesta história e que, apesar do Sebastião jamais poder surgir do nevoeiro, esse alguém também não o poderia fazer durante muito, muito tempo…
Elabore um relatório, sem se esquecer que não basta dizer só quem mente. É preciso justificar, apresentando provas.
E pronto.
A partir daqui é o tempo dos detetives que se inicia. Impreterivelmente até ao dia 31 de maio devem enviar as conclusões para lumagopessoa@gmail.com ou, optando pela via postal, Luís Pessoa, Estrada Militar, 23, 2125-109 MARINHAIS.
Boas deduções! W
DICAS PARA UMA INVESTIGAÇÃO
Naturalmente que ninguém nasce ensinado, todos tivemos de ir à escola e mesmo quem não teve essa oportunidade – e ainda há muitas pessoas nessas condições – aprendeu com a vida e vendo os outros. Praticamente tudo o que sabemos, foi-nos transmitido por alguém.
No Policiário, passa-se o mesmo. Quando não houve a possibilidade de ler os bons livros policiais, dos melhores autores, ou não se teve uma orientação para entender melhor os casos que vão sendo relatados, entenda-se, analisar o crime de uma forma crítica, torna-se um pouco mais difícil decifrar os enigmas propostos.
Isso foi bastante evidente em algumas respostas, quase sempre telegráficas e sem o aprofundamento mínimo que se exige a detetives que vão ser essenciais para obtenção de provas que podem ilibar ou acusar pessoas. É bom recordar que o investigador real é peça essencial para obter as provas que vão permitir ao Ministério Público fazer as acusações e um simples pormenor mal investigado pode deitar por terra uma acusação, fazendo libertar um criminoso. Da mesma forma e ainda mais grave, poderá conduzir à acusação de um inocente! Na verdade, é esse o exercício que praticamos, usando a ficção para investigar casos, como se fossem reais. Agora, imaginemos que éramos nós os suspeitos e o detetive nos acusava em duas linhas, com o argumento do “porque sim”!
Em traços gerais e numa primeira análise, é necessário ler muito bem o texto, situar a cena, tendo em linha de conta os diversos fatores que o autor vai fornecendo, nomeadamente:
– Espaço temporal e condições climatéricas: É de dia ou de noite? Está a chover ou faz sol? Está enevoado, há nevoeiro? Há vento e de onde sopra? A que horas se passa a ação? etc.;
– Personagens e sua colocação na cena: Quantos intervenientes há? Onde estão e o que fazem? Que intervenção têm na ação?
– Local e suas características: Onde se passa a ação? Em local de fácil acesso ou difícil? Há obstáculos a vencer em certas condições, por exemplo em caso de chuva, de neve, etc.? – Fatores externos: Há animais que possam dar alarme? Há sistemas de segurança elétricos ou eletrónicos que apenas possam ser iludidos por quem os conheça?
– Testemunhas visuais, auditivas ou outras: Quem esteve no local que possa fornecer elementos? Quem estava suficientemente perto para ouvir sons que se possam relacionar com o que está na cena?
– Oportunidades: Quem teve oportunidade de praticar o ato, que encontros e desencontros teria de haver para correr bem a ação a cada um deles?
- Beneficiários: A quem aproveita o crime? Há seguros de vida ou outros, alguém lucra com a situação?
Um caderno e um lápis serão bons auxiliares, pois ir tirando apontamentos à medida que se vai avançando no texto é, quase sempre, meio caminho andado para uma solução de sucesso!
Resta desejar aos detetives: Boas deduções! W
UM SIMPLES PORMENOR MAL INVESTIGADO PODE DEITAR POR TERRA UMA ACUSAÇÃO, FAZENDO LIBERTAR UM CRIMINOSO