SÁBADO

Confissão

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Q nham os sistemas atualizado­s.”

Essa é aliás uma crítica acompanhad­a pelo STOP: “Muitos professore­s investiram muito dinheiro. O teletrabal­ho está previsto no Código do Trabalho, mas é a entidade patronal que tem de fornecer”, diz André Pestana. Não foi. Outro exemplo identifica­do pela RTP: uma professora da Maia só encontra rede a dois quilómetro­s de casa e é ali que dá aulas todo o dia, no porta-bagagens do carro agora transforma­do em sala de aula improvisad­a. h Também os estudantes têm inúmeras dificuldad­es para aceder às aulas. “No outro dia, uma aluna não podia fazer nada porque tinha sido dada prioridade ao irmão que estava noutra aula”, descreve Paulo Guinote. Outros estão agora a viver com os avós e só com os telemóveis à disposição, como a filha de uma colega professora que tem dificuldad­es respiratór­ias: “Está num sítio sem rede de banda larga de nenhuma operadora, só telefona da linha fixa ou tem de ir à aldeia mais próxima”, diz.

Na escola do autor do blogue O Meu Quintal, estão-se a privilegia­r as aulas assíncrona­s, isto é “acedem quando podem”. E a taxa de retorno dos trabalhos estava, no fim de abril, pelos 50%. Quando coloca questionár­ios, Guinote consegue ver a que horas respondera­m: “Há três ou quatro alunos que estão logo em cima e outros só conseguem às 23h30, meia-noite. Ou porque ficam acordados até muito tarde ou porque só àquela hora é que funciona a Internet”. “No 3º período podemos dizer que está a ser feito tudo o que é possível, mas estamos a fingir que está tudo mais ou menos e não está”, diz Paulo Guinote, que tem turmas onde 70% dos alunos estão a assistir ou a enviar trabalhos e outras onde só 25% o fazem.

Ana Mesquita (PCP) disse ao ministro na AR que “não foi possível” fazer os exercícios de educação física no espaço que que tem em casa

EM ALCANENA, QUANDO UM ALUNO FICA UM PAR DE DIAS SEM DIZER NADA, SÃO ATIVADAS AS AUTORIDADE­S

para a ausência dos alunos. “Os conflitos deslocaram-se da escola para casa.” Sabe de um aluno retirado à mãe e que está com os avós.

No Agrupament­o de Escolas de Alcanena, conta Ana Cláudia Cohen, sempre que um aluno fica um par de dias sem dar notícias e os pais também não respondem, é ativada a Escola Segura. “Não podemos ter alunos em idade de ensino obrigatóri­o em risco de abandono da escola. Pode ser por violência ou doença [que estão ausentes], mas temos de saber”, diz a diretora, que reconhece que a escola era “um refúgio” para muitas crianças que agora estão a tempo inteiro com o agressor.

A SÁBADO pediu números sobre a intervençã­o nesta fase de confinamen­to à Comissão Nacional de Proteção de Crianças e Jovens, que ainda não tem as “estatístic­as devidament­e estáveis”, mas reconheceu que “nesta situação de confinamen­to há desafios acrescidos”.

Na Escola Secundária do Vale da Amoreira, o diretor José Lourenço conhece bem esses desafios: há adolescent­es institucio­nalizados, que não vivem com as famílias, e o número de alunos a solicitar refeições está a aumentar, o que indica que o desemprego em casa (onde havia muitos precários nas limpezas ou na restauraçã­o) também cresceu. Mais de uma dúzia de alunos vai à portaria levantar os materiais de estudo, que são entregues em envelopes.

E esses são os que foi possível contactar. Muitos vão trocando de números quando as operadoras oferecem melhores condições ou os dados se esgotam. E sem irem à escola é agora difícil encontrá-los. A assistente social, a psicóloga ou os diretores de turma tentam por vizinhos, tios, pelo Facebook ou Instagram.

“É a rede que os mantém ligados à escola. Mas vai acabando o dinheiro dos dados móveis e o nosso medo é que deixamos de conseguir comuni

Por si só não basta para que os docentes sejam de risco

Cerca de 12,2% dos professore­s do ensino secundário tinham, em 2018, entre 60 e 65 anos. E se não regressass­em as escolas ficariam desfalcada­s para preparar os alunos para os exames. E voltam? Esse é o problema. No Liceu Camões, disse o diretor à já começaram na semana passada a chegar os atestados.

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Escritório improvisad­o na casa da sogra: Catarina Ortigão tenta entreter André enquanto Pedro assiste às aulas

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