SÁBADO

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Joana, 43 anos, enviou no início de abril à Segurança Social o pedido para o apoio criado já na pandemia para quem tem de ficar com filhos com menos de 12 anos em casa, devido ao fecho das escolas. “Até hoje não obtive uma resposta”, conta à SÁBADO. “Ligo diariament­e para lá. Ou desligam automatica­mente ou dizem que vão passar a alguém: já estive mais de uma hora à espera para depois desligarem”, explica Joana, que preferiu não referir o nome verdadeiro. Através da aplicação online para marcar o atendiment­o presencial conseguiu uma data para tentar perceber o que se passa: 26 de maio.

Para Joana o tempo conta muito. É trabalhado­ra independen­te e o que conseguia fazer com limpezas em apartament­os em alojamento local caiu a pique. “Março já foi fraco e abril praticamen­te zero”, diz. Vive no Porto com cinco filhos, dois dos quais abaixo dos 12 anos: um rapaz com 11 anos e uma filha com 7. Depois do primeiro apoio pedido em abril, pediu outro antes do prazo de dia 20 para trabalhado­res a recibo verde com quebra de atividade. Mas continua completame­nte no escuro sobre o apoio que poderá vir a receber. “Vou lá no dia 26, mas espero que me consigam responder”, diz, com receio. “Tenho ouvido relatos de pessoas a quem dizem no atendiment­o que não podem dar informaçõe­s porque aquele não é o serviço certo e que devem contactar a Segurança Social Direta – só que aí nunca respondem”, relembra.

Maria, 45 anos, vive também no Porto e conta uma história diferente. Trabalha num stand de automóveis e no dia 8 de abril pediu, com ajuda de um contabilis­ta que tratou do processo, o apoio público para ficar em casa com a filha de 7 anos. Recebeu-o exatamente um mês depois, a 8 de maio. O concession­ário para o qual Maria trabalha, que ficou sem clientes da noite para o dia, enviou a 14 de abril um pedido de apoio para lay-off, que permite ao empregador pagar apenas 35% de 66% do salário bruto de cada trabalhado­r que vai para casa. O pagamento estava previsto para 12 de abril – não é o dia 28 que o Governo tinha dado como garantia quando a empresa pediu o apoio, mas ainda assim o pagamento chegará em menos de um mês. Quando começou a falar com a SÁBADO, Maria – que preferiu também não revelar o seu nome verdadeiro – estava convencida de que era um caso ilustrativ­o de atraso e só quando revisitou as datas é que confirmou que não é bem assim. “Ajudou-me a perceber que não correu mal”, brincou.

Se a resposta pública à crise de saúde motivada pelo novo coronavíru­s coloca o Serviço Nacional de Saúde no centro da ação, na crise económica é a Segurança Social a principal rede pública de apoio. Até ao dia 11 de maio já tinham sido pagos 370 milhões de euros em apoios a mais de um milhão de pessoas e 262 milhões a empresas que empregam mais de 623 mil trabalhado­res, segundo dados fornecidos pelo gabinete do secretário de Estado da Segurança Social. Os casos de Joana e de Maria ilustram como a máquina burocrátic­a da Segurança Social pode cumprir e pode falhar. As falhas, num momento de crise violenta, estão longe de ser raras.

h Confrontad­a com uma avalanche de milhares de pedidos, a máquina burocrátic­a da Segurança

Antes da pandemia, Maria Lúcia Amaral pôs a Provedoria de Justiça em cima da Segurança Social, cujas reclamaçõe­s representa­m mais de 27% das queixas recebidas da Silva fez ajustes na máquina que tinha sido dizimada pela crise, mas não resolveu os problemas de fundo

JOANA, CINCO FILHOS E DOIS COM MENOS DE 12 ANOS, CONTINUA À ESPERA DE RESPOSTA AO PEDIDO DE APOIO

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