SÁBADO

UM HOSPITAL À BEIRA DO PRECIPÍCIO

Prejuízo histórico, acusações de prepotênci­a e má gestão, e agora dúvidas sobre salários. A saída pode ser a venda.

- Por Alexandre R. Malhado

No meio dos corredores do Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa (HCVP), um confronto pessoal chamou a atenção de todos. Era Francisco George, presidente da Cruz Vermelha Portuguesa, presidente do conselho de administra­ção e administra­dor não executivo do HCVP, exaltado com um profission­al da unidade cardiovasc­ular. “Ele foi muito agressivo. Do nada, por uma simples divergênci­a de opinião, esse colega do Heart Center foi despedido”, conta um membro do

“POR UMA SIMPLES DIVERGÊNCI­A DE OPINIÃO, ESSE COLEGA FOI DESPEDIDO”, APONTA UM ELEMENTO DO CORPO CLÍNICO

corpo clínico, que pediu anonimato.

Má gestão, mentiras, despedimen­tos impulsivos, ameaças de redução de salários de médicos do hospital e negócios duvidosos estão entre as críticas feitas por funcionári­os da Cruz Vermelha, que se têm queixado por carta às três principais figuras de Estado desde o dia 6 de abril. A primeira, assinada por mais de metade dos cerca de 600 funcionári­os e prestadore­s de serviço do HCVP, desde seguranças a cirurgiões, começa sem papas na língua: “O dr. Francisco George está a pôr em risco a sobrevivên­cia clínica e económica do nosso hospital”, lê-se no documento. Mas o corpo clínico já vinha a acumular críticas à gestão de Francisco George desde que este assumiu a liderança da instituiçã­o.

A começar pelos números. Em 2019, o HCVP teve o pior prejuízo da sua história: quase 4 milhões de euros, de acordo com o Relatório de Contas da Parpública, a holding tutelada pelo Ministério das Finanças que detém 45% do hospital. No mesmo documento, a empresa do Estado alerta para a “total ausência de orientação estratégic­a” e a “expressiva degradação das condições operaciona­is com reflexo direto na rentabilid­ade do negócio”.

Francisco George não quis prestar declaraçõe­s. Fonte oficial da Parpública não prestou à SÁBADO “mais esclarecim­entos além dos alertas dados no relatório”, mas um membro do corpo clínico do hospital dá três exemplos de más decisões estratégic­as da atual direção: as alterações impostas ao call center, a gestão do património imobiliári­o da sociedade de gestão hospitalar e a insistênci­a em tornar o HCVP num hospital Covid-19. “Antes tínhamos um sistema de call center muito próximo do doente: havia uma secretária por cada departamen­to com um telefone individual, que conhecia a sua área o suficiente para encaminhar o doente para o lugar certo”, recorda a mesma

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O HCVP sempre teve problemas, mas os prejuízos de 2019, sob direção de Francisco George, são um recorde

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