UM HOSPITAL À BEIRA DO PRECIPÍCIO
Prejuízo histórico, acusações de prepotência e má gestão, e agora dúvidas sobre salários. A saída pode ser a venda.
No meio dos corredores do Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa (HCVP), um confronto pessoal chamou a atenção de todos. Era Francisco George, presidente da Cruz Vermelha Portuguesa, presidente do conselho de administração e administrador não executivo do HCVP, exaltado com um profissional da unidade cardiovascular. “Ele foi muito agressivo. Do nada, por uma simples divergência de opinião, esse colega do Heart Center foi despedido”, conta um membro do
“POR UMA SIMPLES DIVERGÊNCIA DE OPINIÃO, ESSE COLEGA FOI DESPEDIDO”, APONTA UM ELEMENTO DO CORPO CLÍNICO
corpo clínico, que pediu anonimato.
Má gestão, mentiras, despedimentos impulsivos, ameaças de redução de salários de médicos do hospital e negócios duvidosos estão entre as críticas feitas por funcionários da Cruz Vermelha, que se têm queixado por carta às três principais figuras de Estado desde o dia 6 de abril. A primeira, assinada por mais de metade dos cerca de 600 funcionários e prestadores de serviço do HCVP, desde seguranças a cirurgiões, começa sem papas na língua: “O dr. Francisco George está a pôr em risco a sobrevivência clínica e económica do nosso hospital”, lê-se no documento. Mas o corpo clínico já vinha a acumular críticas à gestão de Francisco George desde que este assumiu a liderança da instituição.
A começar pelos números. Em 2019, o HCVP teve o pior prejuízo da sua história: quase 4 milhões de euros, de acordo com o Relatório de Contas da Parpública, a holding tutelada pelo Ministério das Finanças que detém 45% do hospital. No mesmo documento, a empresa do Estado alerta para a “total ausência de orientação estratégica” e a “expressiva degradação das condições operacionais com reflexo direto na rentabilidade do negócio”.
Francisco George não quis prestar declarações. Fonte oficial da Parpública não prestou à SÁBADO “mais esclarecimentos além dos alertas dados no relatório”, mas um membro do corpo clínico do hospital dá três exemplos de más decisões estratégicas da atual direção: as alterações impostas ao call center, a gestão do património imobiliário da sociedade de gestão hospitalar e a insistência em tornar o HCVP num hospital Covid-19. “Antes tínhamos um sistema de call center muito próximo do doente: havia uma secretária por cada departamento com um telefone individual, que conhecia a sua área o suficiente para encaminhar o doente para o lugar certo”, recorda a mesma