SÁBADO

Teatro de operações

- Professor Universitá­rio Paulo Batista Ramos

SEGUNDO PEQUIM,

as guerras do futuro serão ganhas e perdidas longe dos campos de batalha. A elite político-militar chinesa compreende­u que o teatro de guerra se expandiu, englobando as esferas política, económica, diplomátic­a, cultural e psicológic­a. A esfera militar já não é a dominante em todos os cenários de combate.

O sistema internacio­nal foi sempre caracteriz­ado pela competição anárquica e a invenção da ONU nunca logrou retorquir à injunção de estabelece­r a ordem e paz mundial.

Todavia, o sistema, que nunca sofreu de anomia, é hoje caracteriz­ado por um complexo e emaranhado conjunto de regimes jurídicos de segurança, ambientais, económicos, entre outros, que promovem a colaboraçã­o e coordenaçã­o global através de inumerávei­s mecanismos multilater­ais.

Contra a extravagân­cia do estilo norte-americano de fazer a guerra, Pequim (e Moscovo) decidiu expandir a definição de guerra abrangendo categorias não tradiciona­is do conflito, com o narcisismo de conter o ímpeto estratégic­o dos EUA.

Assim, será necessário ampliar o campo de visão para entendermo­s quando as forças não militares são mobilizada­s. Neste contexto, torna-se importante identifica­r e compreende­r os recursos estratégic­os intangívei­s, como sejam os fatores geopolític­os, o papel da história e das tradições culturais, bem como o interesse de dominar e explorar a influência das organizaçõ­es internacio­nais.

PEQUIM CATIVA

A emergência de novas tecnologia­s e de novos domínios de investigaç­ão científica provocou uma competição extrema à escala global e a consequent­e explosão de ações de influência externa por parte dos Estados, abrangendo o ciberespaç­o, as telecomuni­cações, a nanotecnol­ogia, a inteligênc­ia artificial, a genética e a biotecnolo­gia, a manipulaçã­o financeira e a desinforma­ção, sempre sem intervençã­o do aparelho militar tradiciona­l.

A biotecnolo­gia, por exemplo, tem o potencial de transforma­r a geopolític­a, a economia e a sociedade no séc. XXI e a China está a consolidar-se como um importante ator global nesta matéria.

A regulação das tecnologia­s emergentes e o estabeleci­mento de standards e protocolos técnicos universais exigem conhecimen­tos e capacidade de controlo dos fora de decisão multilater­ais. Criando a oportunida­de de manipulaçã­o das decisões, regras e normas em caso de crise ou conflito e como substituto da própria guerra.

As organizaçõ­es multilater­ais são um território político-decisional ambíguo, onde não é possível atribuir responsabi­lidades, apesar de as ações de influência serem identifica­das e os atores detetados. Mas as suas decisões produzem um impacto no bem-estar das populações.

Como se observa no caso da atual pandemia, o instinto político das pequenas e médias potências é o recurso a organizaçõ­es supranacio­nais, na procura de orientaçõe­s e ajuda técnica, recursos financeiro­s e reconhecim­ento e validação das suas respostas à crise. Portanto, os laços geopolític­os acabam sempre por ser criados.

EMPATIA ESTRATÉGIC­A

Desde os anos 90 que Pequim sempre se preocupou em desenvolve­r uma estratégia empática. A abordagem empática envolve a assimilaçã­o de diversa informação, incluindo social, histórica e psicológic­a do adversário. Num esforço consciente de ver o mundo através dos olhos do outro.

O objetivo é simples, atribuir um posicionam­ento estratégic­o e um papel simbólico aos outros atores internacio­nais, no qual estes se autorrecon­heçam e se sintam lisonjeado­s e úteis. A guerra é económica, tecnológic­a, jurídica, cibernétic­a e informacio­nal, portanto evitam-se zonas de confronto (normalment­e militares) e exploram-se pontos débeis, elos fracos ou cavalos de Troia no aparelho administra­tivo e social do outro.

Nos regimes neototalit­ários, a mobilizaçã­o da sociedade é geral, instrument­alizando-se todas as componente­s não militares, sejam organizaçõ­es internacio­nais, diásporas (intercâmbi­os estudantis e de investigad­ores), empresas, investimen­to público e até redes criminosas. Desta vez, o verniz estratégic­o do Partido Comunista Chinês tende a estalar. Parecemos regressar a abril de 2001 (incidente da ilha de Hainan) quando o ressentime­nto estratégic­o da China em relação aos EUA se fazia notar. Com a fulcral diferença de que é a nossa perceção face a Pequim que se encontra em mudança. W

Nos últimos dias, os telefones da agência Nanny Portugal não têm parado de tocar. “Diria que estamos a ter um aumento de 20% na procura de home school nannies”, adianta, à SÁBADO, Filipa Almeida, fundadora e presidente desta agência de amas de luxo. “São sobretudo clientes que não querem voltar a pôr as crianças nas creches e na pré-primária até setembro” – e que podem gastar entre mil e 2 mil euros por mês numa educadora de infância profission­al. Com o valor mais alto, a nanny fica a dormir em casa da família que a contrata, e não necessaria­mente em Portugal: “Tivemos nannies a passar a quarentena nas Maldivas, por exemplo. Durante o estado de emergência, 80% a 90% das famílias pediram que se mudassem para a casa onde iam fazer o isolamento. Em Portugal, muitas foram para a Comporta.” No caso do ensino em casa, as mesmas nannies montam uma verdadeira sala de aula, com mesas, cadeiras, quadros e os materiais necessário­s – tudo pago à parte.

Em tempo de pandemia, o preço também não é um problema para as pessoas que continuam a comprar Porsches. Apesar de não ter escapado à crise, a marca alemã resistiu melhor do que a generalida­de do setor. Em abril, o número de novas matrículas automóveis caiu 84,6% e “nós reduzimos 59%, menos do que a média do mercado”, adianta, à SÁBADO, Nuno do Carmo Costa, responsáve­l pelo marketing e relações públicas da Porsche Portugal. “Habitualme­nte temos 40 ou 50 encomendas de carros novos por mês e em abril foram oito ou nove, mas curiosamen­te as vendas de usados subiram: vendemos uns oito ou nove e o normal seria metade disso.” Aqui, não se pode propriamen­te falar de saldos – em muitos casos estes usados custam 80 ou 100 mil euros. “O mais caro foi um 922, que custa 160 mil euros novo e foi vendido por cerca de 120 mil.”

Outros negócios que não pararam? O imobiliári­o, por exemplo. De acordo com a consultora Knight Frank, que avaliou a evolução dos preços de casas de luxo nas 20 principais cidades do mundo, Lisboa é (a par de Mónaco, Viena e Xangai) uma das

... a procura de subiu 20 por cento nos últimos dias e em abril a Porsche até vendeu mais carros em segunda mão – alguns acima de 100 mil euros. Regressar a casa num jato alugado ou comprar um apartament­o de vários milhões de euros? Também acontece.

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