Teatro de operações
SEGUNDO PEQUIM,
as guerras do futuro serão ganhas e perdidas longe dos campos de batalha. A elite político-militar chinesa compreendeu que o teatro de guerra se expandiu, englobando as esferas política, económica, diplomática, cultural e psicológica. A esfera militar já não é a dominante em todos os cenários de combate.
O sistema internacional foi sempre caracterizado pela competição anárquica e a invenção da ONU nunca logrou retorquir à injunção de estabelecer a ordem e paz mundial.
Todavia, o sistema, que nunca sofreu de anomia, é hoje caracterizado por um complexo e emaranhado conjunto de regimes jurídicos de segurança, ambientais, económicos, entre outros, que promovem a colaboração e coordenação global através de inumeráveis mecanismos multilaterais.
Contra a extravagância do estilo norte-americano de fazer a guerra, Pequim (e Moscovo) decidiu expandir a definição de guerra abrangendo categorias não tradicionais do conflito, com o narcisismo de conter o ímpeto estratégico dos EUA.
Assim, será necessário ampliar o campo de visão para entendermos quando as forças não militares são mobilizadas. Neste contexto, torna-se importante identificar e compreender os recursos estratégicos intangíveis, como sejam os fatores geopolíticos, o papel da história e das tradições culturais, bem como o interesse de dominar e explorar a influência das organizações internacionais.
PEQUIM CATIVA
A emergência de novas tecnologias e de novos domínios de investigação científica provocou uma competição extrema à escala global e a consequente explosão de ações de influência externa por parte dos Estados, abrangendo o ciberespaço, as telecomunicações, a nanotecnologia, a inteligência artificial, a genética e a biotecnologia, a manipulação financeira e a desinformação, sempre sem intervenção do aparelho militar tradicional.
A biotecnologia, por exemplo, tem o potencial de transformar a geopolítica, a economia e a sociedade no séc. XXI e a China está a consolidar-se como um importante ator global nesta matéria.
A regulação das tecnologias emergentes e o estabelecimento de standards e protocolos técnicos universais exigem conhecimentos e capacidade de controlo dos fora de decisão multilaterais. Criando a oportunidade de manipulação das decisões, regras e normas em caso de crise ou conflito e como substituto da própria guerra.
As organizações multilaterais são um território político-decisional ambíguo, onde não é possível atribuir responsabilidades, apesar de as ações de influência serem identificadas e os atores detetados. Mas as suas decisões produzem um impacto no bem-estar das populações.
Como se observa no caso da atual pandemia, o instinto político das pequenas e médias potências é o recurso a organizações supranacionais, na procura de orientações e ajuda técnica, recursos financeiros e reconhecimento e validação das suas respostas à crise. Portanto, os laços geopolíticos acabam sempre por ser criados.
EMPATIA ESTRATÉGICA
Desde os anos 90 que Pequim sempre se preocupou em desenvolver uma estratégia empática. A abordagem empática envolve a assimilação de diversa informação, incluindo social, histórica e psicológica do adversário. Num esforço consciente de ver o mundo através dos olhos do outro.
O objetivo é simples, atribuir um posicionamento estratégico e um papel simbólico aos outros atores internacionais, no qual estes se autorreconheçam e se sintam lisonjeados e úteis. A guerra é económica, tecnológica, jurídica, cibernética e informacional, portanto evitam-se zonas de confronto (normalmente militares) e exploram-se pontos débeis, elos fracos ou cavalos de Troia no aparelho administrativo e social do outro.
Nos regimes neototalitários, a mobilização da sociedade é geral, instrumentalizando-se todas as componentes não militares, sejam organizações internacionais, diásporas (intercâmbios estudantis e de investigadores), empresas, investimento público e até redes criminosas. Desta vez, o verniz estratégico do Partido Comunista Chinês tende a estalar. Parecemos regressar a abril de 2001 (incidente da ilha de Hainan) quando o ressentimento estratégico da China em relação aos EUA se fazia notar. Com a fulcral diferença de que é a nossa perceção face a Pequim que se encontra em mudança. W
Nos últimos dias, os telefones da agência Nanny Portugal não têm parado de tocar. “Diria que estamos a ter um aumento de 20% na procura de home school nannies”, adianta, à SÁBADO, Filipa Almeida, fundadora e presidente desta agência de amas de luxo. “São sobretudo clientes que não querem voltar a pôr as crianças nas creches e na pré-primária até setembro” – e que podem gastar entre mil e 2 mil euros por mês numa educadora de infância profissional. Com o valor mais alto, a nanny fica a dormir em casa da família que a contrata, e não necessariamente em Portugal: “Tivemos nannies a passar a quarentena nas Maldivas, por exemplo. Durante o estado de emergência, 80% a 90% das famílias pediram que se mudassem para a casa onde iam fazer o isolamento. Em Portugal, muitas foram para a Comporta.” No caso do ensino em casa, as mesmas nannies montam uma verdadeira sala de aula, com mesas, cadeiras, quadros e os materiais necessários – tudo pago à parte.
Em tempo de pandemia, o preço também não é um problema para as pessoas que continuam a comprar Porsches. Apesar de não ter escapado à crise, a marca alemã resistiu melhor do que a generalidade do setor. Em abril, o número de novas matrículas automóveis caiu 84,6% e “nós reduzimos 59%, menos do que a média do mercado”, adianta, à SÁBADO, Nuno do Carmo Costa, responsável pelo marketing e relações públicas da Porsche Portugal. “Habitualmente temos 40 ou 50 encomendas de carros novos por mês e em abril foram oito ou nove, mas curiosamente as vendas de usados subiram: vendemos uns oito ou nove e o normal seria metade disso.” Aqui, não se pode propriamente falar de saldos – em muitos casos estes usados custam 80 ou 100 mil euros. “O mais caro foi um 922, que custa 160 mil euros novo e foi vendido por cerca de 120 mil.”
Outros negócios que não pararam? O imobiliário, por exemplo. De acordo com a consultora Knight Frank, que avaliou a evolução dos preços de casas de luxo nas 20 principais cidades do mundo, Lisboa é (a par de Mónaco, Viena e Xangai) uma das
... a procura de subiu 20 por cento nos últimos dias e em abril a Porsche até vendeu mais carros em segunda mão – alguns acima de 100 mil euros. Regressar a casa num jato alugado ou comprar um apartamento de vários milhões de euros? Também acontece.