SÁBADO

Naquele dia de puro inverno, o Inspetor Fidalgo brincava com um colar de clipes que se entretiver­a a encadear diligentem­ente, como fazia muitas das vezes em que estava aborrecido.

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– Isso já não sei, agora que ali o sr. Filipe e o Ambrósio se fartaram de ameaçar, isso é verdade.

O inspetor foi falar com o Filipe… – Esta gente é doida… Alguma vez eu era capaz de matar uma pessoa por causa de barulho ou de animais… Francament­e, o que aconteceu deve ter sido ela que se desequilib­rou e caiu pelas escadas abaixo… Não consigo imaginar de outra forma… Sim, é verdade que ameacei e muitas vezes quase perdi a paciência, mas daí a tentar matar… – Não ouviu nada de anormal? – De que género? – Sei lá, gritos, latidos, sei lá… – Bem, os cães que ela tinha em casa fartaram-se de ladrar, mas faziam isso todas as noites… Não foi muito diferente… – O que é que tem na perna? – Eu… Bem, eu fui mordido por um desses rafeiros, mas não foi agora, já foi ontem… Não fui ao médico, fiz eu o curativo… Foi o cão castanho, a que ela chamava Meco…

Na verdade, como contaram as vizinhas, o cão fartou-se de lhe ladrar quando o levaram, quase arrastando o homem que o conduzia pela trela. Mas logo concluíram que o cão ladrava assim a quase toda a gente, só respeitava a velha e até já evitara uma vez que ela fosse assaltada.

Estava o inspetor a passarinha­r pela casa quando uma das alcoviteir­as o foi chamar:

– Está a chegar o Ambrósio… O inspetor mediu o homem e perante a sua surpresa, pelo menos aparente, perguntou-lhe o que fizera durante a noite…

MANDEI UMAS “BOCAS”, MAS LONGE DE MIM FAZER MAL À VELHA. QUE DIABO, EU TAMBÉM SOU UMA ESPÉCIE DE AGENTE DA AUTORIDADE

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