O EXEMPLO DE CONSTANTINO
– Ora essa? Quem é você? O que é que tem com isso?
A atitude mudou quando o inspetor se identificou.
– Desculpe, não sabia… Eu sou vigilante noturno. Tenho aquela viatura distribuída pela empresa, tenho uma série de firmas para visitar durante a noite… Compreende, tenho de fazer a minha ronda… Mas não percebo por que me está a perguntar essas coisas. Aconteceu alguma coisa à minha mulher? Assaltaram-me a casa? Que se passa?
– Tenha calma… Estou a tentar estabelecer alguma relação entre você e a sua vizinha dos cães…
– O raio da mulher fez queixa de mim, não foi? Pois claro que tinha de ser… Então não é que o raio de um cão que ela lá tem me tentou atacar ontem, quando saí para a ronda…
– O Meco…
– Sim, é o maldito Meco… Claro que lhe mandei um valente pontapé, mas o “gajo” é forte como o raio e vi-me às aranhas… Mandei umas “bocas”, mas longe de mim fazer mal à velha… Que diabo, eu também sou uma espécie de agente da autoridade, de certa forma, compreende… Já se adivinhava que um dia ia haver problemas… As escadas não são para brincadeiras… Mas, enfim, coisas que acontecem…
O Meco não ia ver mais a sua “dona”, nem teria de se preocupar mais com a sua segurança…
A – O responsável foi o Ambrósio, que mentiu descaradamente porque não deu nenhum pontapé no Meco, senão tinha de ter marcas de mordeduras.
B – O culpado foi o Filipe, e por isso é que o cão lhe deu a mordidela na perna.
C – O culpado foi o Ambrósio, que não deve ter feito só a ronda, nessa noite, pelas declarações que produziu.
D – O responsável foi o Filipe que não deve ter sido tão “santinho” como pretende parecer, pelas declarações que fez.
E pronto.
Resta aos detetives escolherem a hipótese que é verdadeira e fazerem-na chegar, impreterivelmente até ao dia 31 de Maio, para o endereço de email lumagopessoa@gmail.com ou, optando pela via postal, para Luís Pessoa, Estrada Militar, 23, 2125-109 MARINHAIS.
Boas deduções! W
M. Constantino é um dos nossos “heróis policiários”. Desaparecido do nosso convívio há poucos meses, no dia 30 de Novembro de 2019, saudamos o “mestre” que desenvolveu trabalho importante ao longo de muitas décadas, em prol do Policiário, como seu estudioso, sendo autor de muitos ensaios sobre a Literatura Policial e sobre a nossa atividade, n’O Grande Livro da Problemística Policiária, e um divulgador importante de uma das nossas facetas menos utilizadas, mais concretamente a técnica de investigação, que usou em muitos dos seus inúmeros problemas.
Possuidor de vastos conhecimentos na área da técnica de Investigação Criminal e Polícia Científica, M. Constantino foi passando alguns conhecimentos, sobre armas, sobre venenos, etc., tornando os problemas bem mais verosímeis e próximos da realidade criminal que pretendia transmitir.
De uma das suas muitas obras, precisamente o Manual da Enigmística Policiária, uma edição da Associação Policiária Portuguesa, de 1995, deixamos um dos seus textos mais significativos, sobre aquilo que ele entendia ser a relação entre o homem e o apelo pela resolução do enigma:
“O homem encontra no enigmático algo que lhe excita o espírito e lhe motiva a curiosidade.
Posto perante um mistério, todas as faculdades se lhe alertam e, atentas, se debruçam em torno do problema.
Sente prazer íntimo em seguir passo a passo todas as pistas até alcançar o objetivo.
Satisfaz-se ao conseguir rodear as dificuldades, tanto como vencer obstáculos que se apresentam intransponíveis.
E quanto mais a precisão dos factos não se permite que se vislumbre sombra de uma estrada, maior é o apego e o desenvolvimento do cérebro, maior é a satisfação da vitória. (…)”
M. Constantino foi um criador de enigmas policiários, trabalhador da mente, desafiador dos leitores, mesmo para além das nove décadas de existência e mais de sete de policiário, prova absoluta de que não há idade limite para imaginar, pensar, desenvolver ideias e pôr os outros a pensar e a resolver problemas e enigmas complexos, mas sempre lógicos. W
Para os dias de quarentena, a republica em várias partes os problemas da autoria de Manuela Vidal, Manuel Domingos e José Ribeiro Gonçalves