SÁBADO

Suspensão dos contratos públicos

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O estado de emergência parece ter suspendido o código dos contratos públicos. Compreende-se a urgência de comprar milhões de máscaras, álcool-gel ou ventilador­es para o Serviço Nacional de Saúde e que essa necessidad­e não seria compatível com a morosidade da realização de concursos públicos. Como todos os outros países europeus, Portugal não estava preparado para a rapidez de propagação do vírus nem para as suas consequênc­ias. Mas isso não pode significar que a opacidade e a ausência de escrutínio passem a ser regra. O local ideal para debater a forma como foram gastos esses muitos milhões e com que empresas será o parlamento. Espera-se que a oposição seja capaz de retomar as suas funções vitais, depois da hibernação que fez em nome da pátria. Mas isso é também uma obrigação do jornalismo, como a SÁBADO fez na edição anterior e continuará a fazer. Mesmo que isso continue a incomodar as muitas vozes que por aí andam, desde logo entre antigos responsáve­is da Saúde, como Correia de Campos e outros, que acusam os jornalista­s de fazerem perguntas “muito agressivas” ao primeiro-ministro, à ministra da Saúde e à diretora-geral da Saúde. Que se incomodam mais com Rodrigo Guedes de Carvalho a cumprir o papel que é próprio de um profission­al do que com o escrutínio político e legal da governação, absolutame­nte essencial em democracia. Na verdade, estes democratas não estão muito longe do capataz de fabriqueta Rui Rio. E é por causa deles, também, que a necessidad­e do jornalismo jamais será comparável a uma fábrica de sapatos ou de fraldas. W

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