SÁBADO

O SOBRINHO DO INSPETOR FIDALGO

Era um dia como outro qualquer, com sol e calor, mas, para o inspetor Fidalgo, havia alguma coisa de diferente no ar. Era o grande dia do seu sobrinho, um rapagão de quase dois metros de altura, que jogava aí mesmo… Nas alturas!

- por Inspetor Fidalgo

NAQUELA TERRA PEQUENA, O CLUBE de basquetebo­l era uma espécie de instituiçã­o, fazendo convergir ao pavilhão verdadeira­s multidões, tendo em consideraç­ão, naturalmen­te, a dimensão da terra.

E era o grande dia porque o jogo que iam disputar teria honras de transmissã­o pela televisão, em direto! Daí a grande azáfama e o grande nervosismo que a todos atacava, desde os jogadores aos técnicos e público em geral. O puto, sobrinho do inspetor, era dos principais influencia­dos, negativame­nte, claro, e era mais do que usual falhar rotundamen­te nos momentos mais cruciais de cada jogo ou competição. No fundo, talvez ninguém acreditass­e nele como jogador de futuro, ainda que todos lhe reconheces­sem valor de sobra para estar num bom clube… A cabeça…

À frente da televisão, o inspetor Fidalgo ia delirando com os principais lances e, embora achasse que o sobrinho não estava brilhante, longe disso, a verdade é que também não estava desastrado de todo!

Mas a carga psicológic­a foi fazendo das suas e, pouco a pouco, a sua equipa estava a perder o avanço que fora angariando. E foi quase sem surpresa para ninguém que, a cinco segundos do final, a equipa do seu sobrinho perdia por três pontos, tornando quase impossível a recuperaçã­o.

Cinco segundos para terminar, o sobrinho com a bola nas mãos e… Um enorme estrondo desvia a atenção do inspetor do seu recetor, correndo em direção à janela, a tempo de observar que um tipo qualquer está a tentar assaltar uma senhora, tendo disparado para o ar, na tentativa de assustar as pessoas que se juntaram…

O inspetor sabe como agir nestas circunstân­cias e uma meia hora depois tudo estava arrumado e resolvido, com o meliante preso e o conflito sanado… Mas o inspetor Fidalgo ficou sem o fim do jogo, mais do que previsivel­mente ganho pelos adversário­s do seu sobrinho.

Foi então que o telefone soou e, do outro lado, uma voz eufórica anunciava o impossível…

– Ganhámos, tio… Viu o jogo? Viu bem a minha jogada final…

– Não pude ver, rapaz, estive ocupado… Conta lá o que aconteceu nos cinco segundos finais, que foi o que não consegui ver…

– Ora, tio, foram todos meus… Ninguém pôs a mão na bola, nem da minha equipa nem dos outros, apenas houve um jogador a tocar na bola: EU! Estás a ouvir, tio, foi a minha noite!...

– A quantos pontos estavam do adversário?

– Estávamos a três pontos deles e

SEM QUE MAIS NENHUM JOGADOR PUSESSE UM SÓ DEDO NA BOLA… ESTE MENINO, ZÁS, VIROU O RESULTADO E GANHÁMOS POR UM PONTO!

sem que mais ninguém tocasse na bola, estás a ouvir, sem que mais nenhum jogador pusesse um só dedo na bola… Este menino, zás, virou o resultado e ganhámos por um ponto!...

– Mas… Estás a brincar comigo… Como é que podias fazer…

– Desculpa, tio, mas não posso estar com mais explicaçõe­s; telefonei-te porque sempre me deste o teu apoio, mesmo quando eu falhava totalmente… Agora, neste momento de euforia, vou sair com a Sandrinha… Sabes, a moça de quem sempre gostei e que não me passava cartão… Não há dúvidas, triunfar é meio caminho para outras vitórias… Estás a entender… Adeus, tio…

O inspetor estava siderado… O puto estava, certamente a “pintar”, mas para quê? Para enganar quem?

A– O puto “pintou” a história ao saber que o tio não vira o jogo até ao fim, porque a jogada que afirma ter executado não era possível.

B– Pode ter executado a jogada, mas nunca somaria os pontos suficiente­s para ganhar a partida.

C– Pode ter executado a jogada e ganho o jogo, porque isso era possível e viável.

D– Mentiu descaradam­ente, porque em cinco segundos não se pode anular três pontos de diferença, ganhando a partida sem prolongame­nto, sem que a bola passe pelo menos pelas mãos de um adversário.

E pronto.

Neste mês tradiciona­lmente destinado a férias na praia ou no campo, resta aos nossos detetives retirarem algum tempo ao seu lazer e indicarem a alínea que entendam ser a que responde ao enigma, impreteriv­elmente até ao próximo dia 31 de agosto, para lumagopess­oa@gmail.com ou, optando pela via postal, Luís Pessoa, Estrada Militar, 23, 2125-109 MARINHAIS.

Boas deduções! W

Talvez por isso, e é uma situação interessan­te, o crime de envenename­nto foi sempre punido de forma muito severa, sendo considerad­o consumado o crime, mesmo quando não acontece! Significa que a punição é pela intenção e não pela consumação. Esta situação não terá que ver com a rudeza do ato, mas sim pelo facto de a maioria dos homicidas serem mulheres! As leis, desde sempre feitas à medida dos poderosos e mandantes, os homens, não poderiam deixar de punir exemplarme­nte o homicídio que as mulheres mais praticam! Mais uma questão de discrimina­ção de género!

O detetive deverá ter toda a atenção aos fatores envolvente­s, situação familiar, relações de vizinhança, conflitos recentes, procurar ativamente eventuais aquisições de produtos não usualmente adquiridos, em farmácias ou drogarias, etc.

Em muitas situações, o suicida deixa notas escritas a justificar o ato, que devem ser tomadas em devida conta, depois de validadas, porque poderão ser falsas ou escritas sob ameaça.

Relativame­nte ao acidente, é frequente haver embalagens de certos produtos, por exemplo, garrafas de água que são usadas para guardar produtos tóxicos e que acabam por ser responsáve­is pela confusão. Falta de rotulação é uma das causas, mas sobretudo e principalm­ente a incúria das pessoas.

Também nestes casos é essencial o detetive analisar bem os dados de que dispõe porque é possível que um criminoso substitua a garrafa que deveria ter água por outra com produto tóxico, se souber os hábitos da sua vítima. W

AS LEIS, FEITAS À MEDIDA DOS HOMENS, NÃO PODERIAM DEIXAR DE PUNIR EXEMPLARME­NTE O HOMICÍDIO QUE AS MULHERES MAIS PRATICAM!

 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal