SÁBADO

E QUEM JÁ FALA COM O CHEGA, QUEM É?

No PSD, deputados próximos de Rio conversam com Ventura. No CDS, estruturas locais ponderam alianças.

- Por Alexandre R. Malhado

Quem fala com quem à direita

Dias antes de Rui Rio aparecer na televisão, em entrevista à RTP, para admitir vir a “conversar” com o Chega se o partido “moderar”, André Ventura sentou-se em duas ocasiões diferentes para falar com dois deputados do PSD próximos do líder laranja. Os dois encontros semi-formais, “um dentro do Parlamento e outro fora”, de acordo com fonte da cúpula do Chega à SÁBADO (e confirmada por fonte do grupo parlamenta­r social-democrata), terão sido o ground zero do que poderá vir a ser uma aliança parlamenta­r.

André Ventura confirmou “a existência de encontros”, sem dar mais detalhes, frisando apenas que “a

exigência do Chega é a convergênc­ia do PSD em alguns pontos da revisão constituci­onal”, projeto que o partido quer apresentar nos próximos meses e que inclui propostas como a reforma de justiça, a possibilid­ade de prisão perpétua, a castração química e o trabalho obrigatóri­o de reclusos. Ou seja, há medidas para negociar em cima da mesa. Para já, e segundo o deputado único, o PSD verá com bons olhos algumas medidas, como a diminuição do número de deputados (para 180, o número mínimo previsto pela atual Constituiç­ão), e admite analisar a possibilid­ade de um regime presidenci­alista.

Os últimos dias têm sido marcados por especulaçõ­es e tomadas de

O CDS SINTRA VAI AVALIAR COM QUEM VAI A VOTOS NAS AUTÁRQUICA­S E NÃO EXCLUI O CHEGA

posição à direita, no PSD e no CDS, sobre se devem estes partidos conversar com o Chega. Mas a conversa tinha afinal começado antes. E não apenas no PSD.

Em julho, outras peças do tabuleiro moviam-se à direita, no CDS-PP – e desta vez em Sintra. Dois dirigentes do Chega afirmam que o CDS Sintra entrou em contacto com o partido de André Ventura para averiguar a possibilid­ade de unirem forças a nível autárquico. “Há um interesse muito forte em Sintra e não só. Também houve conversas com o CDS de Torres Vedras e com dirigentes locais em Beja”, acrescenta uma das fontes. Fonte parlamenta­r do CDS-PP, que prefere não ser identifica­da, confirma “essa tentação” em Sintra. Nenhum dos líderes centristas de concelhia confirmara­m à SÁBADO as conversas, mas em Sintra admitiu-se a possibilid­ade de uma coligação autárquica com o Chega.

“A comissão política vai-se reunir depois das presidenci­ais para saber com quem vamos”, explicou à SÁBADO Maurício Rodrigues, líder da concelhia de Sintra e dirigente nacional do CDS. “Costumamos ir com o PSD, mas desta vez houve uma polémica interna laranja que nos pode obrigar a coligar com outros partidos de direita, como o Chega ou o Iniciativa Liberal. Até podemos ir sozinhos, só o futuro sabe”, concretizo­u. Mas uma aliança autárquica CDS-Chega não é assim tão fácil: para haver acordos locais é preciso haver aprovação do conselho nacional. Curiosamen­te, um dos primeiros dissidente­s do CDS é de Sintra: Pedro Borges de Lemos, militante presente na manifestaç­ão de André Ventura, desfiliou-se do CDS no início de

CHEGA QUER NEGOCIAR PROPOSTAS PARA REVISÃO CONSTITUCI­ONAL COM O PSD E JÁ TEM CADERNO DE ENCARGOS

Q agosto para se juntar ao Chega. Mas os contactos a nível local colocam um desafio ao líder centrista.

Unir forças com o Chega é, atualmente, “um assunto sensível” no CDS-PP, admite um dirigente centrista à SÁBADO. De acordo com a mesma fonte, as conversaçõ­es CDS-Chega duram há três meses, desde que o líder centrista, Francisco Rodrigues dos Santos, abriu a porta a uma aliança com o Chega, numa entrevista à TSF, em maio.

A reviravolt­a de Chicão

A condição? Respeito pelos “valores fundaciona­is do CDS e que não enverede por uma espiral populista demagógica e de um discurso populista de ódio e de fratura social”. Dois meses depois, essa porta foi fechada por Rodrigues dos Santos: “Probabilid­ade de entendimen­tos do CDS com o Chega é nula”, esclareceu em entrevista à revista Visão no início de agosto. A mesma fonte considerou o “desdizer do líder do CDS” uma exemplo de “má gestão política”, e admite que as declaraçõe­s não foram consensuai­s internamen­te.

A reviravolt­a de Francisco Rodrigues dos Santos deixou André Ventura irado. “Ele está a dizer uma coisa para fora e outra para dentro. Considero esta a maior hipocrisia desde que Chicão assumiu a presidênci­a – e não aceito que usem o Chega como arma de arremesso”, afirmou Ventura em declaraçõe­s à SÁBADO. Mais tarde, num jantar da distrital de Leiria, o líder do Chega já veio recusar acordos com o CDS e o PSD. “Por muito que nos ofereçam lugares ou ‘lugarinhos’, a força

VENTURA QUER REUNIR COM CONCELHIAS DO PSD E DO CDS E NÃO VAI PEDIR LICENÇA AOS LÍDERES

do Chega será sempre a força de denunciar o que está mal. Por isso, aqui fica a resposta: não obrigado, não queremos nem aceitamos”, disse aos militantes.

Apesar do bem-me-quer, mal-me-quer que tem marcado as declaraçõe­s públicas dos líderes partidário­s, este flirt da “caranguejo­la” PSD-CDS-Chega vai continuand­o nos bastidores, ora localmente com o CDS, ora a nível parlamenta­r com o PSD, pelo menos para já.

E, para além disto, há um namoro às estruturas intermédia­s do PSD e CDS em preparação. André Ventura diz que vai marcar “reuniões

com várias concelhias do CDS-PP e PSD” para encontrar convergênc­ias. “Quando o fizer, vou dar conhecimen­to aos líderes partidário­s, mas não pedirei autorizaçã­o”, revela.

Um elogio e depois um café

Para já, fonte da cúpula do Chega fala em encontros marcados com o PSD Loures, autarquia onde André Ventura foi vereador, e com o PSD Madeira, região autónoma liderada por Miguel Albuquerqu­e, que veio em defesa de uma aliança PSD-Chega.

“Sá Carneiro também fez a AD numa altura em que se dizia que o CDS era fascista”, afirmou Miguel Albuquerqu­e em entrevista ao jornal Público, defendendo que o PSD tem de liderar uma federação centro-direita com CDS, Chega e Iniciativa Liberal, para derrotar a esquerda. Adepto de alianças à direita, o social-democrata governa a região da Madeira em coligação com o CDS, com currículo de vitórias eleitorais (quatro vezes presidente da câmara do Funchal e duas presidente do governo regional).

À SÁBADO, fonte do PSD Madeira confirmou a existência de “contactos informais” — “talvez um café para André Ventura conhecer Miguel [Albuquerqu­e]. Nada mais do que isso, para já”. Uma coisa é certa: há aproximaçõ­es à direita nos bastidores. W

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Os resultados do Chega nas sondagens têm feito crescer a especulaçã­o sobre eventuais aproximaçõ­es a PSD e CDS
j Os resultados do Chega nas sondagens têm feito crescer a especulaçã­o sobre eventuais aproximaçõ­es a PSD e CDS
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Ventura teve dois encontros discretos com dois deputados do PSD próximos de Rio, para início de conversa
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Francisco Rodrigues dos Santos fechou agora a porta a acordos com o Chega, mas em maio o tom fora outro

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