E QUEM JÁ FALA COM O CHEGA, QUEM É?
No PSD, deputados próximos de Rio conversam com Ventura. No CDS, estruturas locais ponderam alianças.
Quem fala com quem à direita
Dias antes de Rui Rio aparecer na televisão, em entrevista à RTP, para admitir vir a “conversar” com o Chega se o partido “moderar”, André Ventura sentou-se em duas ocasiões diferentes para falar com dois deputados do PSD próximos do líder laranja. Os dois encontros semi-formais, “um dentro do Parlamento e outro fora”, de acordo com fonte da cúpula do Chega à SÁBADO (e confirmada por fonte do grupo parlamentar social-democrata), terão sido o ground zero do que poderá vir a ser uma aliança parlamentar.
André Ventura confirmou “a existência de encontros”, sem dar mais detalhes, frisando apenas que “a
exigência do Chega é a convergência do PSD em alguns pontos da revisão constitucional”, projeto que o partido quer apresentar nos próximos meses e que inclui propostas como a reforma de justiça, a possibilidade de prisão perpétua, a castração química e o trabalho obrigatório de reclusos. Ou seja, há medidas para negociar em cima da mesa. Para já, e segundo o deputado único, o PSD verá com bons olhos algumas medidas, como a diminuição do número de deputados (para 180, o número mínimo previsto pela atual Constituição), e admite analisar a possibilidade de um regime presidencialista.
Os últimos dias têm sido marcados por especulações e tomadas de
O CDS SINTRA VAI AVALIAR COM QUEM VAI A VOTOS NAS AUTÁRQUICAS E NÃO EXCLUI O CHEGA
posição à direita, no PSD e no CDS, sobre se devem estes partidos conversar com o Chega. Mas a conversa tinha afinal começado antes. E não apenas no PSD.
Em julho, outras peças do tabuleiro moviam-se à direita, no CDS-PP – e desta vez em Sintra. Dois dirigentes do Chega afirmam que o CDS Sintra entrou em contacto com o partido de André Ventura para averiguar a possibilidade de unirem forças a nível autárquico. “Há um interesse muito forte em Sintra e não só. Também houve conversas com o CDS de Torres Vedras e com dirigentes locais em Beja”, acrescenta uma das fontes. Fonte parlamentar do CDS-PP, que prefere não ser identificada, confirma “essa tentação” em Sintra. Nenhum dos líderes centristas de concelhia confirmaram à SÁBADO as conversas, mas em Sintra admitiu-se a possibilidade de uma coligação autárquica com o Chega.
“A comissão política vai-se reunir depois das presidenciais para saber com quem vamos”, explicou à SÁBADO Maurício Rodrigues, líder da concelhia de Sintra e dirigente nacional do CDS. “Costumamos ir com o PSD, mas desta vez houve uma polémica interna laranja que nos pode obrigar a coligar com outros partidos de direita, como o Chega ou o Iniciativa Liberal. Até podemos ir sozinhos, só o futuro sabe”, concretizou. Mas uma aliança autárquica CDS-Chega não é assim tão fácil: para haver acordos locais é preciso haver aprovação do conselho nacional. Curiosamente, um dos primeiros dissidentes do CDS é de Sintra: Pedro Borges de Lemos, militante presente na manifestação de André Ventura, desfiliou-se do CDS no início de
CHEGA QUER NEGOCIAR PROPOSTAS PARA REVISÃO CONSTITUCIONAL COM O PSD E JÁ TEM CADERNO DE ENCARGOS
Q agosto para se juntar ao Chega. Mas os contactos a nível local colocam um desafio ao líder centrista.
Unir forças com o Chega é, atualmente, “um assunto sensível” no CDS-PP, admite um dirigente centrista à SÁBADO. De acordo com a mesma fonte, as conversações CDS-Chega duram há três meses, desde que o líder centrista, Francisco Rodrigues dos Santos, abriu a porta a uma aliança com o Chega, numa entrevista à TSF, em maio.
A reviravolta de Chicão
A condição? Respeito pelos “valores fundacionais do CDS e que não enverede por uma espiral populista demagógica e de um discurso populista de ódio e de fratura social”. Dois meses depois, essa porta foi fechada por Rodrigues dos Santos: “Probabilidade de entendimentos do CDS com o Chega é nula”, esclareceu em entrevista à revista Visão no início de agosto. A mesma fonte considerou o “desdizer do líder do CDS” uma exemplo de “má gestão política”, e admite que as declarações não foram consensuais internamente.
A reviravolta de Francisco Rodrigues dos Santos deixou André Ventura irado. “Ele está a dizer uma coisa para fora e outra para dentro. Considero esta a maior hipocrisia desde que Chicão assumiu a presidência – e não aceito que usem o Chega como arma de arremesso”, afirmou Ventura em declarações à SÁBADO. Mais tarde, num jantar da distrital de Leiria, o líder do Chega já veio recusar acordos com o CDS e o PSD. “Por muito que nos ofereçam lugares ou ‘lugarinhos’, a força
VENTURA QUER REUNIR COM CONCELHIAS DO PSD E DO CDS E NÃO VAI PEDIR LICENÇA AOS LÍDERES
do Chega será sempre a força de denunciar o que está mal. Por isso, aqui fica a resposta: não obrigado, não queremos nem aceitamos”, disse aos militantes.
Apesar do bem-me-quer, mal-me-quer que tem marcado as declarações públicas dos líderes partidários, este flirt da “caranguejola” PSD-CDS-Chega vai continuando nos bastidores, ora localmente com o CDS, ora a nível parlamentar com o PSD, pelo menos para já.
E, para além disto, há um namoro às estruturas intermédias do PSD e CDS em preparação. André Ventura diz que vai marcar “reuniões
com várias concelhias do CDS-PP e PSD” para encontrar convergências. “Quando o fizer, vou dar conhecimento aos líderes partidários, mas não pedirei autorização”, revela.
Um elogio e depois um café
Para já, fonte da cúpula do Chega fala em encontros marcados com o PSD Loures, autarquia onde André Ventura foi vereador, e com o PSD Madeira, região autónoma liderada por Miguel Albuquerque, que veio em defesa de uma aliança PSD-Chega.
“Sá Carneiro também fez a AD numa altura em que se dizia que o CDS era fascista”, afirmou Miguel Albuquerque em entrevista ao jornal Público, defendendo que o PSD tem de liderar uma federação centro-direita com CDS, Chega e Iniciativa Liberal, para derrotar a esquerda. Adepto de alianças à direita, o social-democrata governa a região da Madeira em coligação com o CDS, com currículo de vitórias eleitorais (quatro vezes presidente da câmara do Funchal e duas presidente do governo regional).
À SÁBADO, fonte do PSD Madeira confirmou a existência de “contactos informais” — “talvez um café para André Ventura conhecer Miguel [Albuquerque]. Nada mais do que isso, para já”. Uma coisa é certa: há aproximações à direita nos bastidores. W