Quinta da Marinha
Ronaldo vai ser o próximo inquilino deste refúgio de elites
Tem mar à frente, lagos, hotéis, campos de golfe e de ténis. É como viver num resort. O preço médio de cada moradia ronda os 3 milhões de euros. Há quase 100 anos um refúgio de famílias tradicionais, atrai agora milionários – o mais recente é Cristiano Ronaldo.
Daquela estrutura metálica e envidraçada, a esplanada Verbasco de apoio ao golfe, avista-se o mais famoso lote da Quinta da Marinha, em Cascais. Dentro de quatro anos – o prazo estimado para o final da obra –, o espaço ficará ocupado por uma mansão ainda maior do que as restantes. O primeiro andar terá vista frontal de mar, com desníveis e zonas mais ou menos recuadas. Os tons terra e os terraços envidraçados vão jogar com a paisagem, em modo minimalista. Mas por enquanto é só areia, numa área de 8.991 m2. Os trabalhos decorrem lentamente, com a limpeza e escavação de um buraco para a garagem, constatou a SÁBADO ao longo das últimas semanas, a escassos metros da vedação de chapa verde que delimita o terreno. O dono tem 35 anos e origens humildes na Madeira, contrastantes com o tamanho da casa: chama-se Cristiano Ronaldo.
O jogador da Juventus e capitão da seleção nacional é a mais recente celebridade a comprar um lote na Quinta da Marinha. Há muito conhecido como um refúgio dos ricos e poderosos, começou como um sonho de Carlos Champalimaud e foi durante anos habitado por um grupo restrito de famílias. Nas últimas décadas, a área urbanizada cresceu e foi sendo ocupada por milionários que ali procuram um refúgio em moradias de sonho, com o mar do Guincho à frente, a serra de Sintra à direita, e comodidades só acessíveis aos residentes como hipódromo e campos de ténis.
O lote do futebolista está registado em nome de uma sociedade (Sessenta e Cinco Lote S.A.). No papel, estava planeado um restaurante de piso e meio com 899 m2 acima do solo. Na prática, era um terreno por urbanizar. Até à transação com o jogador, a sociedade pertencia à empresa de gestão de participações sociais Quinta da Marinha SGPS (liderada por Miguel Champalimaud). No decorrer do processo de compra e venda – e para viabilizá-lo –, o uso do lote passou para habitação. Tal mudança implicou um pedido à Câmara de Cascais, por parte da referida sociedade, que foi aprovado a 3 de dezembro de 2019. Ainda nesse mês fechou-se o negócio – bastante abaixo dos 8 milhões de euros noticiados, segundo apurou a SÁBADO. Formalizou-se, entretanto, a alteração societária. O irmão do craque (Hugo Dinarte Santos Aveiro) assumiu o cargo de presidente do conselho de administração da Sessenta e Cinco Lote S.A. e dois amigos passaram a vogais.
A vizinhança comenta a proximidade do lote à esplanada. Isto quando a opção de Ronaldo pela Quinta da Marinha se deveu ao isolamento,
CRISTIANO RONALDO PODE CONSTRUIR ATÉ 899 M2 ACIMA DO SOLO. O PRIMEIRO PISO TERÁ VISTA DE MAR
dizem à SÁBADO fontes próximas do clã Aveiro. Mas pensando à escala do internacional português, acrescentam que “faz sentido ali.” Tem permissão da câmara para uma moradia com 10% do tamanho do lote, até 899 m2 de área acima do solo – sem incluir a área da cave, conforme consta do projeto. Em suma, terá o dobro da construção média dos lotes vizinhos.
Vítor Vitorino é o arquiteto de 43 anos escolhido por Ronaldo para desenhar a propriedade, e terá de pensar em arranjos paisagísticos para ele não ser visto. É incerto se viverá ali, na Madeira ou ou no bairro madrileno La Finca. Mas acompanha a obra. Num dia de folga dos treinos, a 8 de junho passado, o próprio foi ver a futura mansão acompanhado por Georgina Rodríguez, que não resistiu a publicar uma fotografia nas redes sociais – olhando para o infinito, com um pinheiro ao lado.
Aos poucos, a Quinta da Marinha torna-se destino dos craques. Caso de José Fonte, defesa de 36 anos, do Lille, que tenciona viver ali. Por ora, só lá vai nas férias. A moradia branca com mármore cinza dista três rotundas do lote de Cristiano Ronaldo, a 1,5 km. Está a ser remodelada pelo mesmo arquiteto de
A PROPRIEDADE TEM 800 HECTARES. O PREÇO MÉDIO DAS MANSÕES RONDA OS 3 MILHÕES DE EUROS
CR7, Vitor Vitorino, de forma a enquadrar-se melhor na paisagem.
Na gigantesca propriedade de 800 hectares – equivalente a igual número de campos de futebol – há mais construções de raiz além da que se ergue no lote 65. Neste refúgio de elites, antes exclusivo dos
Champalimaud e de umas quantas famílias – Azevedo Gomes, Celestino da Costa, Simões de Almeida, Presas, Pinto Coelho, Trocado, Button, Torres Pereira, Mello –, já muito foi urbanizado desde os finais da década de 30. E continua a ser. Mas mudam-se os donos, de famílias tradicionais para milionários estrangeiros, nacionais estrangeirados (que retornam após uma carreira de sucesso lá fora), ou emergentes (por exemplo, construtores civis, advogados e CEO’s bem-sucedidos).
As mordomias dos ricos
Desde então, nasceram aldeamentos turísticos, condomínios fechados, quatro hotéis (Onyria, Martinhal, Oitavos, Sheraton) e spas. Há espaço de sobra para as modalidades: como o golfe, em dois campos, num total de 70 hectares (Onyria Golfe Resorts e Oitavos Dunes) e com cinco lagos que asseguram a rega; hipismo (no centro hípico com cerca de 170 cavalos e 20 instrutores); ténis e padel (16 courts, oito para cada, no Health And Racket Club); fitness, num ginásio com luz natural; natação e hidroginástica em duas piscinas aquecidas. Tudo isto é pontuado por verde, não só dos jardins privativos, como dos arruamentos preservados pelos condomínios.
Mordomias para ricos, que agora têm de conviver com o ruído das betoneiras de três empreendimentos em construção: Bloom Marinha, Marinha Garden e Marinha Prime, num total de 154 imóveis, entre moradias e frações de T1 a T4, de 580 mil euros até 3,7 milhões. Uma nuvem de poeira paira sobre a zona, sujando os terraços e jardins murados. Sendo uma área ventosa, as partículas dissipam-se – o que é positivo em termos de contenção da pandemia. Os moradores resignam-se, sabem que tudo isto é passageiro.
As casas de vários estilos e tamanhos, a partir de T1, fazem-se valer nos preços. As mais baratas custam meio milhão de euros, as de preço médio 3 milhões e as de topo chegam aos 30 milhões (mansões que, além da piscina e court de ténis, incluem spa, elevador e garrafeira). Em contraponto às mais discre- Q