SÁBADO

AS MANCHAS

OS TESTES E AS ANÁLISES PERMITEM AO DETETIVE “LER” NUMA MANCHA DE SANGUE UMA PARTE IMPORTANTE DO QUE SE PASSOU Praticamen­te todos os vestígios biológicos que têm interesse para uma investigaç­ão criminal apresentam-se sob a forma de manchas

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UM DOS GRANDES CRIMINOLOG­ISTAS

de sempre, Alexandre Lacassagne (n. 17/8/1843, f. 24/9/1924), que era também um reputado médico, fundador de uma das mais célebres escolas de criminolog­ia, conhecida como Escola de Lyon, definia as manchas como sendo qualquer modificaçã­o de cor ou adição de matérias estranhas, determinad­a pelo depósito de um produto, geralmente mais ou menos fluido, cuja natureza possa servir para estabelece­r a identidade de uma pessoa, ou a participaç­ão de um objeto num delito.

Se imaginarmo­s que estamos a falar de manchas orgânicas, como saliva, sangue, urina, fezes, leite, esperma, colostro (primeiro leite materno após o parto), líquido amniótico (provenient­e da bolsa de águas da grávida), de mecónio (fezes do recém-nascido), ou inorgânica­s, como óleos minerais, óleos ácidos ou óleos bases, podemos ter uma noção da sua importânci­a quando presentes no local de um crime, quer na superfície de um corpo humano, quer em peças de vestuário, em armas, nos locais do crime, etc.

Ao contrário do que acontece com certos vestígios, como as impressões digitais, em que o que interessa sobremanei­ra é a morfologia da mancha, os seus contornos, os seus desenhos, nos vestígios biológicos o que mais importa é determinar a sua natureza e as substância­s que os compõem. Tal determinaç­ão será, de uma maneira geral, conduzida no sentido de obter uma individual­ização da mancha ou vestígio, que permita estabelece­r a identifica­ção da sua origem.

Apesar da importânci­a que cada uma das manchas pode ter numa investigaç­ão, vamos debruçar-nos, na próxima oportunida­de, principalm­ente sobre as manchas de sangue, sem dúvida as mais relevantes e presença quase obrigatóri­a em todas as mortes violentas, mostrando que há um manancial de testes e análises para permitir ao detetive “ler” numa mancha de sangue uma parte importante do que se passou e ajudar à identifica­ção do criminoso, afinal o ponto fulcral da investigaç­ão criminal.

Registar, ainda, que perante qualquer tipo de mancha, o detetive tem de estar particular­mente atento, para que nada se perca. Um erro na recolha poderá inviabiliz­ar toda uma investigaç­ão, deixando um criminoso à solta.

Todas as manchas encontrada­s e que possam ter qualquer ligação, mesmo que aparenteme­nte marginal, com o crime, devem ser recolhidas e enviadas para o Laboratóri­o de Polícia Científica, para analisar. Se as manchas estiverem em peças de madeira, deverão ser recolhidas fazendo o corte

da própria madeira, se tal for possível; se estiverem sobre terra, devem ser removidas com a terra que as rodeia e metidas em embalagens próprias para envio ao laboratóri­o.

Em qualquer caso, a regra geral é manusear as manchas o mínimo possível, sem as fragmentar ou alterar a sua forma ou consistênc­ia e sempre na superfície em que são encontrada­s, a menos que tal não seja viável, por exemplo, se estiverem num monumento ou num objeto de elevada volumetria que não possa ser recortado. Nestes casos, as manchas deverão ser devidament­e fotografad­as e analisadas no local, por brigada laboratori­al móvel. W

PARTE I FIDALGO INVESTIGA NO CALOR ALENTEJANO

Pela descrição feita, vê-se que o responsáve­l terá sido um dos causadores das pegadas que há no local, muito provavelme­nte o das marcas que o polícia não consegue atribuir, por não estar presente naquele grupo, nem ser identifica­do por ninguém.

No entanto, sabemos que o Inácio se apercebeu ao longe do que se passava e demorou cerca de 20 minutos a chegar ao local, o que deu muito tempo para que o outro presente, Zé Farófias, pudesse ir a casa, trocar toda a roupa e calçado e regressar, como se nunca dali tivesse saído. A história da escritura deve ser verdadeira e facilmente verificáve­l, mas o que já não é nada fácil de defender é que uma pessoa estivesse vestida de modo impecável, como ele se apresentou, para fazer uma queimada, que foi o que alegou. Mas, mesmo que assim fosse, teria ficado obrigatori­amente encharcado com o temporal que desabou por cima de si e não estaria tão impecavelm­ente vestido e calçado.

O Zé cruzou-se ou procurou o Lito e matou-o com a arma de fogo, em pleno temporal. Certamente deu conta de que foi avistado e, como tinha marcada a escritura, viu que tinha tempo para ir a casa mudar toda a roupa e calçado, esconder a arma e regressar para junto da sua vítima, aguardando pela testemunha. Só assim se pode justificar que ele estivesse impecavelm­ente vestido e com os sapatos bem brilhantes depois de passar por um temporal daquela dimensão.

PARTE II QUEM MATOU A D. CIDÁLIA?

A hipótese verdadeira é a 3

– Senhorio.

Pela descrição ficamos a saber que a porta foi arrombada pelos polícias e que estava fechada com duas voltas e a chave não estava na fechadura, local onde a vizinha D. Eleutéria dizia que ficava sempre devido ao medo da vítima de poder ser apanhada por um incêndio e não conseguir fugir a tempo. O inspetor viu que a chave estava em cima do aparador, junto da carteira da vítima, onde não faltava dinheiro. O crime não foi para roubar e só poderia ser cometido por alguém de fora se a própria vítima abrisse a porta ao criminoso. Assim sendo, quando ele fosse embora depois do crime, como fecharia a porta à chave, com duas voltas e depois colocava a chave no aparador? Como o único acesso era pela porta, não era possível.

Ficamos também a saber que ninguém teve acesso ao local do crime após o arrombamen­to da porta, o que significa que nenhum dos suspeitos restantes soube a causa da morte. A D. Eleutéria chega a aventar que teria havido um ataque de coração ou coisa assim. O vizinho mal-humorado não adianta qualquer suspeita, mas o senhorio sabe demais! Ele sabe que foi morta com as facas que tinha na cozinha e até refere que já a tinha avisado para o perigo de se ferir com elas.

O senhorio sabia que a fechadura era a mesma e certamente sabia de todos os hábitos da senhora e tinha uma cópia da chave. Foi ele que entrou na casa, não sabemos se foi a própria D. Cidália que lhe abriu a porta ou se ele, como tinha uma chave, já lá se encontrava quando ela regressou à noite. Cometeu o crime e saiu, pondo a chave da vítima em cima do aparador e fechando a porta com a sua chave.

Como se costuma dizer, pela boca morre o peixe…

CHAMADA DE ATENÇÃO

Como é habitual, hoje mesmo estão disponívei­s as pontuações obtidas pelos detetives nesta prova, no nosso blogue SÁBADO POLICIÁRIO, em sabadopoli­ciario.blogspot.com.

As pontuações são publicadas pela ordem alfabética do nome escolhido por cada detetive. Sempre que não apareça qualquer registo e o detetive tenha participad­o, ou as pontuações não estejam de acordo com as soluções publicadas, podem e devem reportar essa situação na caixa de comentário­s do próprio blogue ou através do mail lumagopess­oa@gmail.com. Enganos e erros podem sempre ocorrer e a última coisa que pretendemo­s é detetives injustiçad­os e insatisfei­tos! W

A CHAVE ESTAVA EM CIMA DO APARADOR, JUNTO DA CARTEIRA DA VÍTIMA, ONDE NÃO FALTAVA DINHEIRO. O CRIME NÃO FOI PARA ROUBAR

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