SÁBADO

Educação

João Costa: ameaças por SMS depois de caso de Famalicão

- Por Sara Capelo

No início do verão, João Costa foi notícia por ter assinado um despacho que obrigava dois irmãos de Famalicão a recuarem dois anos no percurso escolar caso não cumprissem o plano de recuperaçã­o à disciplina de Cidadania e Desenvolvi­mento. Por ordem dos pais, ambos os alunos faltaram durante dois anos letivos à disciplina obrigatóri­a, por esta incluir temas como educação sexual e questões de género.

Todavia, não foi apenas nos títulos de jornais que o secretário de Estado Adjunto e da Educação esteve na linha de fogo nessas semanas. Tanto o governante como familiares receberam mensagens escritas com ameaças contra si e os seus devido à decisão que tomara. Não fez queixa. A SÁBADO perguntou porquê, mas o secretário de Estado declinou responder a essa ou a qualquer outra pergunta sobre um caso que, sabe a SÁBADO, foi entendido como muito sensível no ministério – e inédito: palavras de desdém contra os titulares da Educação nas redes sociais ou caixas de comentário­s dos jornais já haviam ocorrido. Já mensagens diretas, não se haviam até agora registado.

O pai dos dois alunos, Artur Mesquita Guimarães, diz desconhece­r quaisquer ameaças. Mas relata que também ele e a família foram expostos nas redes sociais: “Localizava­m a casa onde moramos, [com] referência­s do Google, e com a indicação de que era necessário retirarem-nos as crianças”, conta.

Há muito que o tema da educação sexual e das questões de género nas escolas gera repúdio público entre os grupos mais conservado­res – que terão estado na origem das mensagens enviadas a João Costa, um católico que fez o percurso completo do escutismo na região de Setúbal, onde cresceu. Já em 2009 a educação sexual polarizava a sociedade, recorda à SÁBADO o antigo secretário de Estado da Educação, Valter Lemos, que introduziu o tema

no currículo escolar há pouco mais de uma década.

E ameaças, houve? Apesar de aqueles serem tempos de “alguma agitação no campo educativo, não assisti a posições tão radicais como essas” das ameaças, refere Valter Lemos. “Houve setores mais conservado­res que se pronunciar­am contra”, mas tudo “dentro do padrão da normalidad­e democrátic­a” (com manifestaç­ões, petições e intervençõ­es na Assembleia da República). Artur Mesquita Guimarães foi um “pai do Minho”, como se apresentou aos deputados, que defendeu na Comissão Parlamenta­r de Educação a sua perspetiva contra a inclusão obrigatóri­a da disciplina. Já então tinha seis filhos.

O caso que agora envolve João Costa iniciou-se já no ano letivo de 2018/19, quando Mesquita Guimarães e a mulher alegaram por escrito à direção da EB 2+3 Júlio Brandão “objeção de consciênci­a” para que os filhos não assistisse­m à disciplina, que é obrigatóri­a nos 2º e 3º ciclos. Reportando-se a esse ano letivo, em janeiro último, a Direção-Geral dos Estabeleci­mentos Escolares decidiu que Tiago e Rafael não podiam transitar por terem excesso de faltas a uma disciplina. Como também não assistiram a Cidadania e Desenvolvi­mento em 2019/2020, o mesmo critério se aplicou este ano.

Contudo, dado o percurso com boas notas de ambos os alunos, João Costa decidiu que deveriam fazer um plano de recuperaçã­o (que incluiria a realização de trabalhos sobre a declaração universal dos Direitos do Homem ou apresentar­em o seu ponto de vista sobre igualdade de género). Caso cumprissem esse plano, poderiam transitar. A família recusou essa solução e interpôs uma providênci­a cautelar que aguarda ainda por “sentença final” no Tribunal Administra­tivo e Fiscal de Braga, refere Mesquita Guimarães.

Ministério­s mais expostos?

Na sequência deste episódio e das ameaças feitas por um movimento de extrema-direita a 10 ativistas, incluindo três deputadas (ver página 48), a SÁBADO perguntou também a outros ministério­s sensíveis, como Justiça, Administra­ção Interna ou Saúde, se os seus titulares já foram alvo de mensagens de ódio ou ameaças concretas. Nenhum respondeu à SÁBADO. Num passado recente, três figuras do PSD (dois ministros, Paula Teixeira da Cruz e Vítor Gaspar) e uma deputada foram alvo de ameaças (ver caixas ao lado).

Quanto à Polícia de Segurança Pública (PSP) recusou responder se recebeu alguma solicitaçã­o de reforço de segurança de qualquer governante por manter “reserva sobre a aplicação de medidas de proteção e na respetiva atribuição de equipas operaciona­is em missões de segurança pessoal”. W

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João Costa, 47 anos, é secretário de Estado Adjunto e da Educação. Está na equipa de Tiago Brandão Rodrigues desde o início
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