A Bíblia de Frederico Lourenço
Ninguém imagina que eu me interesse pela Patrística, mas estão enganados. Nem sequer vou explicar, nem justificar, porque cada palavra nesta matéria parece sempre snobeira intelectual, do modo como o mundo está. Mas porque me interesso tenho especial interesse e prazer em poder ler, aqui uma parte, ali outra, a tradução que Frederico Lourenço está a fazer da Bíblia. Nem todos os livros da Bíblia, em particular o Antigo Testamento, têm directamente a ver com a Patrística, a não ser pelas fontes e pelas versões nas mais variadas línguas e a sua fixação como canónicos ou apócrifos, matéria que, essa sim, agora para o Novo Testamento, é relevante.
Mas não se pode deixar de admirar como um único homem se abalança, com saber e erudição, para nos dar em português textos que hoje são pouco conhecidos. É verdade que traduções em português já existiam, mas essencialmente para servir a Teologia, a Pedagogia religiosa e o culto. Estas traduções que abrangem já quase uma dezena de volumes – e volumes com volume – são uma das grandes obras intelectuais dos nossos dias, e isto numa altura em que tudo o que lá está é desvalorizado, e ainda mais o esforço da tradução.
Os que no passado fizeram estes trabalhos foram santos ou hereges de vulto, mas influenciaram milhões, provocaram guerras, dividiram o mundo desde a ortodoxia à Reforma, mas nos nossos dias o impacto não será religioso, mas cultural. Na verdade, grande cultura é isto mesmo. W