JUNTOS NA VIDA E NA POLÍTICA
Márcio Dinarte é presidente, Élia, a companheira, sua vice-presidente. Depois das eleições, ele promete que muda a situação – mas na verdade vão os dois na lista e vão continuar a coabitar no poder.
Em 2017, o CDS venceu as eleições autárquicas na câmara de Santana, na Madeira, mas, em 2019, o então presidente, Teófilo Cunha, saiu para o governo regional de coligação, PSD-CDS. E Márcio Dinarte Fernandes subiu a presidente. A número dois, Élia Gouveia, sua companheira, que já era vice-presidente, foi por ele reconduzida como vice-presidente.
O caso no entanto é polémico nos meios políticos locais. O PSD regional chegou a aprovar e a anunciar publicamente uma coligação com o CDS para as autárquicas, em que Dinarte seria o cabeça de lista; como número dois e como candidato à Assembleia Municipal avançariam militantes do PSD. Para a Assembleia Municipal, foi mesmo avançado o nome de Rui Abreu, ex-secretário-geral do PSD-Madeira e braço direito de Miguel Albuquerque. Ora, segundo fontes internas do PSD, a coligação acabou antes de começar, já que o presidente da autarquia fazia questão de manter Élia como número dois da lista.
Márcio Dinarte Fernandes desmente esta versão, em declarações à SÁBADO, assegura que nunca admitiu sequer uma coligação: “Sempre disse que onde um dos dois partidos, PSD ou CDS, já governa sozinho, não faz sentido irem coligados. Devem coligar-se onde estão na oposição.”
Quanto à nomeação de Élia, explica que “já era vice-presidente quando passei a presidente”, ou seja, não foi uma nomeação dele. No entanto, tecnicamente não é bem assim: os vice-presidentes só o são por delegação de poderes do presidente, e cada novo presidente faz nova delegação de poderes. Élia Gouveia continuou vice-presidente por despacho assinado por Dinarte Fernandes, datado de 8 de novembro de 2019 e publicado em Diário da República a 26 de dezembro. Mas há uma justificação política: “A experiência que a vereadora trazia era fundamental para manter a estabilidade na parte final do mandato.”
Não dá jeito nas viagens
Quanto ao futuro, as coisas poderão mudar, mas pouco. O presidente considera que a coabitação lhes traz até desvantagens como casal, já que quando há viagens oficiais, por exemplo, só um pode ir, para não descurar a frente doméstica. E por isso, caso ganhe as eleições, o novo mandato será diferente: “A pessoa que vai como vice-presidente é o vereador Gabriel Faria.” Élia Gouveia será apenas vereadora. Não concretiza lugares na lista – Élia será número 2? – na medida em que ainda falta a sua aprovação pelo partido.
O autarca centrista argumenta ainda que o caso, que será provavelmente inédito ao nível nacional, tem contudo um precedente regional: “O atual presidente do governo quando foi presidente da câmara do Funchal tinha como vereadora a sua (ex-)mulher, a arquiteta Elisabete [Andrade].”
Na verdade, o alegado precedente não é bem assim: Elisabete era vereadora da oposição (pelo PS), portanto sem assento no executivo autárquico nem pelouros, e renunciou ao mandato ainda antes de o caso ser conhecido. W
O PSD DIZ QUE A COLIGAÇÃO FALHOU PORQUE DINARTE QUIS IMPOR ÉLIA. ELE NEGA: SEMPRE DISSE QUE NÃO QUERIA COLIGAÇÃO