SÁBADO

“A gente reforma-se e quê, vai para casa?”

São os gestores há mais tempo a liderar uma empresa do PSI-20, a Ibersol. A SÁBADO apanhou-os (quase) despreveni­dos, numa conversa que foi dos tempos da Sonae aos desafios da pandemia – e que ainda passou pelo jornalismo.

- Por Filipa Teixeira (texto) e Ricardo Meireles (fotos) Alberto Teixeira

Em 1997, quando entrou em Bolsa, a Ibersol tinha 1.933 colaborado­res e o volume de negócios representa­va cerca de 40 milhões de euros. No fim de setembro do ano passado, com 10 mil colaborado­res a cargo, a empresa que representa marcas como a Pizza Hut, o Burger King ou o KFC registou um prejuízo de 36,9 milhões de euros. Os valores não são obviamente comparávei­s, mas dão para ter uma noção de como é que o grupo liderado por António Pinto de Sousa e Alberto Teixeira foi consolidan­do o seu cresciment­o desde a aquisição, em 1997, à Sonae, passando pela promoção ao PSI-20 em 2017, até aos dias de hoje. Com 68 e 73 anos, respetivam­ente, nenhum dos dois pensa retirar-se: “Quando as pessoas gostam do que fazem, vão vindo com gosto.”

Ainda vos dá gozo trabalhar no setor?

Alberto Teixeira (AT) – Eu divirto-me. Venho todos os dias com muito prazer.

António Pinto de Sousa (APS) –

É uma distração e uma forma de manter a cabeça a funcionar. É evidente que se vai perdendo algumas faculdades, mas quando as pessoas gostam do que fazem vão vindo com gosto.

Como é que se conheceram?

AT – Já há muitos anos, na Sonae. Embora estando em áreas distintas, fomo-nos conhecendo. Foi uma excelente experiênci­a, um período de muito trabalho e de muita dedicação. A Sonae ajudou-me imenso a formar-me como pessoa e como profission­al.

O António chegou a estar envolvido no projeto do Público, pouco depois da sua fundação. Como foi essa experiênci­a?

APS – Eu fui o primeiro advogado interno da Sonae. Depois fui fazendo outras funções dentro do grupo e a determinad­a altura tocou-me estar no Conselho Geral do Público. Quando lá cheguei, o Público já era um órgão conhecido e um projeto consolidad­o, do ponto de vista da tiragem. Agora: eu digo sempre do Público aquilo que digo quando me

“Viam o jornalismo um bocado como uma arte e quando se falava na produtivid­ade dos jornalista­s, caía o Carmo e a Trindade”

perguntam se gostava de gerir um clube de futebol: “Nem pensar!” [Risos]. E sabe porquê? O Público é um bocado como um clube de futebol, no sentido em que é um sítio onde temos estrelas que jogam no terreno da produção do jornal. Depois há a outra parte da empresa, a administra­tiva e a logística. Eu percebi que das duas uma: ou se sabe entrar na redação do jornal e conhecer os jornalista­s, ou então esqueça, não se é capaz de gerir um jornal! É uma das minhas lições de vida e estou vacinado.

Arrepende-se?

APS – Não. Foi uma experiênci­a engraçada e aprendi uma série de coisas. Agora, a minha preocupaçã­o era que o jornal fosse o mais rentável possível, sem estragar as suas caracterís­ticas. Mas as pessoas, naquela altura, tinham outras perspetiva­s: viam o jornalismo um bocado como uma arte e quando se falava na produtivid­ade dos jornalista­s, caía o Carmo e a Trindade! Porque é que um jornalista não há de ter a sua produtivid­ade medida?

Não foi muito depois que resolveram comprar a Ibersol à Sonae. Quem teve a iniciativa?

AT – Ui, já não me lembro… um dia pensámos, “se calhar isso era uma coisa que poderia fazer sentido”.

APS – A Sonae tinha um portefólio muito largo e periodicam­ente reestrutur­ava esse portefólio. Na altura havia uma tendência, que ainda hoje existe, de que as holdings tiravam valor à soma das partes. Então, para eliminar esse desconto do conglomera­do, partiu-se a Sonae: havia uma parte que era a Sonae Indústria e outra de outros negócios, que era a Pargeste, onde eu estava. O engenheiro Belmiro [de Azevedo] disse-nos: “Bom, agora vocês digam onde é que se sentem bem, onde é que acham que ficam melhor” e aquilo pareceu-nos ser uma oportunida­de de fazer outra coisa. Estávamos há 20 anos no grupo, já éramos veteranos e achámos que se calhar era a altura de comprar o negócio e ir em frente. Acabámos por encontrar esta solução de comprar a Ibersol. O engenheiro Belmiro deixava que as

“O engenheiro Belmiro deixava que as pessoas tivessem uma grande autonomia, incentivav­a isso”

 ??  ?? i António Pinto Sousa, de 68 anos, é licenciado em Direito, pela Faculdade de Direito da Universida­de de Coimbra, e tem o curso de Gestão da Universida­de Católica do Porto
i António Pinto Sousa, de 68 anos, é licenciado em Direito, pela Faculdade de Direito da Universida­de de Coimbra, e tem o curso de Gestão da Universida­de Católica do Porto
 ??  ?? Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia do Porto (FEP), em 1975. Trabalhou durante quase 20 anos na Sonae. Em 2019, recebeu o Prémio Carreira FEP
Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia do Porto (FEP), em 1975. Trabalhou durante quase 20 anos na Sonae. Em 2019, recebeu o Prémio Carreira FEP

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal