“A gente reforma-se e quê, vai para casa?”
São os gestores há mais tempo a liderar uma empresa do PSI-20, a Ibersol. A SÁBADO apanhou-os (quase) desprevenidos, numa conversa que foi dos tempos da Sonae aos desafios da pandemia – e que ainda passou pelo jornalismo.
Em 1997, quando entrou em Bolsa, a Ibersol tinha 1.933 colaboradores e o volume de negócios representava cerca de 40 milhões de euros. No fim de setembro do ano passado, com 10 mil colaboradores a cargo, a empresa que representa marcas como a Pizza Hut, o Burger King ou o KFC registou um prejuízo de 36,9 milhões de euros. Os valores não são obviamente comparáveis, mas dão para ter uma noção de como é que o grupo liderado por António Pinto de Sousa e Alberto Teixeira foi consolidando o seu crescimento desde a aquisição, em 1997, à Sonae, passando pela promoção ao PSI-20 em 2017, até aos dias de hoje. Com 68 e 73 anos, respetivamente, nenhum dos dois pensa retirar-se: “Quando as pessoas gostam do que fazem, vão vindo com gosto.”
Ainda vos dá gozo trabalhar no setor?
Alberto Teixeira (AT) – Eu divirto-me. Venho todos os dias com muito prazer.
António Pinto de Sousa (APS) –
É uma distração e uma forma de manter a cabeça a funcionar. É evidente que se vai perdendo algumas faculdades, mas quando as pessoas gostam do que fazem vão vindo com gosto.
Como é que se conheceram?
AT – Já há muitos anos, na Sonae. Embora estando em áreas distintas, fomo-nos conhecendo. Foi uma excelente experiência, um período de muito trabalho e de muita dedicação. A Sonae ajudou-me imenso a formar-me como pessoa e como profissional.
O António chegou a estar envolvido no projeto do Público, pouco depois da sua fundação. Como foi essa experiência?
APS – Eu fui o primeiro advogado interno da Sonae. Depois fui fazendo outras funções dentro do grupo e a determinada altura tocou-me estar no Conselho Geral do Público. Quando lá cheguei, o Público já era um órgão conhecido e um projeto consolidado, do ponto de vista da tiragem. Agora: eu digo sempre do Público aquilo que digo quando me
“Viam o jornalismo um bocado como uma arte e quando se falava na produtividade dos jornalistas, caía o Carmo e a Trindade”
perguntam se gostava de gerir um clube de futebol: “Nem pensar!” [Risos]. E sabe porquê? O Público é um bocado como um clube de futebol, no sentido em que é um sítio onde temos estrelas que jogam no terreno da produção do jornal. Depois há a outra parte da empresa, a administrativa e a logística. Eu percebi que das duas uma: ou se sabe entrar na redação do jornal e conhecer os jornalistas, ou então esqueça, não se é capaz de gerir um jornal! É uma das minhas lições de vida e estou vacinado.
Arrepende-se?
APS – Não. Foi uma experiência engraçada e aprendi uma série de coisas. Agora, a minha preocupação era que o jornal fosse o mais rentável possível, sem estragar as suas características. Mas as pessoas, naquela altura, tinham outras perspetivas: viam o jornalismo um bocado como uma arte e quando se falava na produtividade dos jornalistas, caía o Carmo e a Trindade! Porque é que um jornalista não há de ter a sua produtividade medida?
Não foi muito depois que resolveram comprar a Ibersol à Sonae. Quem teve a iniciativa?
AT – Ui, já não me lembro… um dia pensámos, “se calhar isso era uma coisa que poderia fazer sentido”.
APS – A Sonae tinha um portefólio muito largo e periodicamente reestruturava esse portefólio. Na altura havia uma tendência, que ainda hoje existe, de que as holdings tiravam valor à soma das partes. Então, para eliminar esse desconto do conglomerado, partiu-se a Sonae: havia uma parte que era a Sonae Indústria e outra de outros negócios, que era a Pargeste, onde eu estava. O engenheiro Belmiro [de Azevedo] disse-nos: “Bom, agora vocês digam onde é que se sentem bem, onde é que acham que ficam melhor” e aquilo pareceu-nos ser uma oportunidade de fazer outra coisa. Estávamos há 20 anos no grupo, já éramos veteranos e achámos que se calhar era a altura de comprar o negócio e ir em frente. Acabámos por encontrar esta solução de comprar a Ibersol. O engenheiro Belmiro deixava que as
“O engenheiro Belmiro deixava que as pessoas tivessem uma grande autonomia, incentivava isso”