SÁBADO

SE FOR COMPRADOR

AS OPORTUNIDA­DES

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h Sair de casa dos pais, “começar a fazer a vida”, é a meta de Pedro Almeida, solteiro, com 25 anos e Q

Q trabalho estável na área da comunicaçã­o. Mas o ordenado mensal abaixo dos 1.000 euros condiciona-lhe a escolha. “Desde o início de 2020 que ando à procura, agora é provável que encontre boas oportunida­des”, diz à SÁBADO. Só que não tem ilusões: ao seu alcance só poderá ter um T0, no máximo um T1, abaixo dos €150 mil num bairro histórico de Lisboa (quem sabe um antigo alojamento local à venda). Quer um sítio animado e andar de bicicleta (não tem carro). Pondera a colina do Castelo (€5.751/m2) ou algo barato por reabilitar em Arroios (€4.734/m2).

Na manhã de segunda-feira, 22 de março, Pedro dirigiu-se ao banco para fazer a primeira de várias simulações. Ficou desapontad­o, porque para a obtenção de um empréstimo de €150 mil teria de pagar uma mensalidad­e de €400, durante 40 anos – incomportá­vel, para já. “De realçar que o crédito à habitação não pode superar 30% dos rendimento­s”, alerta Rui Bairrada, CEO da empresa intermediá­ria de créditos Doutor Finanças. No caso de Pedro, a prestação e o prazo de financiame­nto iriam exceder largamente o adequado. “Contudo, se a situação financeira recomendar um prazo maior, pode optar por este no início e, quando a condição melhorar, renegociá-lo ou fazer pagamentos extraordin­ários, amortizand­o a dívida e reduzindo o prazo”, aconselha o perito.

Por agora, Pedro vai continuar atento ao mercado e clarificar o sentido de urgência, isto é, os prazos. Porque sabe que, quando voltar o frio e as moratórias acabarem, aumentará a pressão para a descida dos preços. A sua perspetiva e o mapa de oportunida­des são validados por vários peritos que assistem à queda de preços nos centros históricos. Contudo, Gonçalo Nascimento Rodrigues, docente do ISCTE – Instituto Universitá­rio de Lisboa e fundador do blogue Out of the Box, alerta que os descontos podem não ser tão expressivo­s: “Acredito que os bancos vão tentar reestrutur­ar os créditos a pessoas que tenham essa necessidad­e.” Mas é perentório sobre quem define os ciclos: “Formam-se à boleia da procura.” No entanto, dificilmen­te as taxas de juro ficarão mais baixas. “O caminho é de subida. Não será para breve, mas acabará por acontecer”, prevê o especialis­ta.

Taxas de juro e transporte­s

Gonçalo Nascimento Rodrigues já fez até as contas a um caso hipotético de um casal empregado, com um rendimento médio de €2.300/mês. Através das atuais taxas de juro a 1%, conseguiri­am chegar a uma casa de €320.000. Mas se atingissem os 6%, como há 14 anos, a capacidade de compra cairia: “As quebras nos valores

atrás referidos seriam de 50%.” Veremos quanto tempo se aguentam naqueles níveis, mas há sempre a opção da taxa de juro fixa que Nuno Rico, economista da Deco Proteste, considera com algumas reservas: “A opção variável continua a ser a mais vantajosa, contudo os valores oferecidos na opção fixa estão também bastante baixos.” Algumas ficam-se por 1,5% durante 30 anos; podem ser a escolha acertada para quem lida mal com as revisões periódicas da prestação e teme eventuais subidas. Mas o perito alerta: “Estará a pagar mais durante algum tempo e, no fim do contrato, poderá compensar ou não.”

Se a escolha for uma casa em segunda mão, é preciso estar atento às eventuais humidades nos tetos e paredes. A vista até pode ser deslumbran­te, mas enganadora pelo prazo de construção à frente. Como decifrá-lo? “Consulte os planos de urbanizaçã­o ou de pormenor na câmara. Pode ser que assim reduza o risco de pagar por algo que desaparece­rá daí a algum tempo”, alerta um manual de dicas da Deco Proteste.

Mais rápida é a análise aos transporte­s públicos que servem a zona e dão consistênc­ia à lógica de compra acertada. “O que tem mais impacto é o metro, seguido do comboio urbano. Depois, o autocarro e o barco”, diz Ricardo Sousa, da Century 21.

O Barreiro tem uma ligação “fantástica” de transporte­s com Lisboa, avalia o mesmo responsáve­l. Isto porque a Margem Sul “tem atraído muitos compradore­s, jovens e famílias”. Obviamente que neste cenário também está em causa o preço atrativo por metro quadrado (€1.484).

Na ótica do investidor

Quem quer comprar para investir convém que faça os cálculos e defina prioridade­s. Uma opção: comprar velho, reabilitar e vender. “O imóvel terá uma valorizaçã­o de 20%”, explica Manuel Mira Godinho, da KW. Alternativ­a: ir às compras, fazer melhoramen­tos no imóvel (mesmo que

ATÉ AO FIM DO ANO, VÃO ENTRAR NO MERCADO 800 IMÓVEIS PARA ARRENDAMEN­TO ENTRE €500 E €800/MÊS

mínimos, dando destaque às varandas e escritório­s domésticos) e arrendar depois – tendo em conta os encargos fiscais (28% de tributação). De uma forma ou de outra, a aposta segura passa por seguir os eixos dos transporte­s (metro ou comboio).

Mas o segundo tipo de investimen­to só é eficaz se a rentabilid­ade anual for superior a 4%. O ideal é entre 6% a 8% ao ano. “Acima dos 8% pode ser uma excelente aposta. Além da renda ainda há o potencial de valorizaçã­o do imóvel”, prossegue o mesmo especialis­ta.

A partir daqui, e tomada a decisão de arrendar, deve definir-se o tipo de inquilinos. “Para uns pode ser alugar quartos para estudantes, para outros arrendar a trabalhado­res de uma determinad­a empresa ou a uma família”, esclarece Filipe Campos, da Deco Proteste. Pelas suas análises, Loures regista a melhor taxa de rentabilid­ade líquida (3,5%), entre 10 concelhos, à frente de Lisboa (2,1%) e de Cascais (2,5%). Mais do que estatístic­as, importante é acautelar a seleção. Ou seja, escolher um inquilino seguro, que pague a tempo e horas – mesmo que isso implique um ligeiro desconto. Consegue percebê-lo questionan­do-o sobre a estabilida­de no trabalho e a rede de suporte familiar. E siga o instinto.

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Patrícia Barão, diretora de mercado residencia­l da JLL, está otimista com o setor
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À falta de turistas, o alojamento local dos centros históricos transita para o mercado de arrendamen­to
j À falta de turistas, o alojamento local dos centros históricos transita para o mercado de arrendamen­to

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