Cinema O novo filme para adolescentes da Netflix, Na Mesma Onda
Descoberto há muito pelo cinema, o filão é inesgotável e está mais vibrante do que nunca na Netflix. Esta semana estreia mais um, apontado às férias da Páscoa: Na Mesma Onda.
DESTA VEZ o amor é em italiano. Massimiliano Camaiti, conhecido argumentista, estreia-se na realização com Na Mesma Onda, que chega à Netflix esta quinta-feira, 25 de março, mesmo a tempo das férias da Páscoa do seu público-alvo: adolescentes.
Romance de verão, sob o sol quente da Sicília, o filme começa ligeiro e avança para um intenso dramatismo: um segredo revelado vai obrigar o púbere par amoroso a tomar decisões difíceis, como se fosse gente crescida.
O êxito é garantido. Por um lado, há um amor idílico, ao estilo conto de fadas, mas embrulhado num ambiente moderno. Por outro, o sentimentalismo de fazer chorar as pedras da calçada e ainda aquele apelo das escolhas associadas à idade adulta, que quem já teve 16 anos conhece bem.
MELHORES ALTERNATIVAS
Também para esta faixa etária, a Netflix – que anda a dar cartas no cinema, até ao nível dos prestigiados Óscares – aponta à liderança. De cada vez que estreia mais um filme de adolescentes, rapidamente salta para o topo da lista dos mais vistos. Tem sido sempre assim – e com especial expressividade nas férias escolares, como é agora o caso.
Claro que o filão se estende também às séries: de Por 13 Razões a Riverdale, Sex Education, Eu Nunca…, Atypicall, Stranger Things ou Elite, nunca se sai do liceu. Contudo, nestas produções vai-se falando, pelo meio dos clichés, de questões prementes, da pedofilia ao racismo e à xenofobia, passando pela violência contra as mulheres, os distúrbios alimentares, a afirmação do eu ou as armadilhas do consumo de drogas e álcool. Têm um lado didático, pois, que se aplaude.
Nos filmes, esse é também o caso do recente Moxie, um retrato divertido mas pedagógico de uma rapariga que, confrontada com um arreigado sexismo na escola e inspirada pelo passado da mãe, ex-ativista dos direitos das mulheres, começa a publicar uma fanzine que expõe e satiriza o estado de coisas, abalando-o, conseguindo mobilizar um grupo para formar um movimento feminista.
É um excelente e pertinente filme de e para adolescentes, que escapa aos lugares-comuns dos contos de fadas, o que ainda é uma minoria na plataforma de streaming.
NADA COMO UM ROMANCE
Em maioria estão os dramas românticos com final feliz (alguns com toques de comédia ligeira), como a saga inspirada nos livros de Jenny Han, cujo terceiro capítulo – A Todos os Rapazes: Agora e para Sempre, que su
O filão estende-se às séries da Netflix: de Por 13 Razões a Riverdale, Atypicall ou Elite, nunca se sai do liceu
cede a A Todos os Rapazes: P.S. Ainda te Amo e ao original de 2018, A Todos os Rapazes que Amei – estreou em fevereiro.
Na mesma linha está A Banca dos Beijos, sobre o romance de uma rapariga com o irmão do melhor amigo (e o grande perigo de destruir a amizade), também já com sequela na Netflix (e um terceiro filme a caminho), ou títulos como Fala-me de um Dia Perfeito, A Garota Invisível, O Par Perfeito, Se Tu Soubesses… ou Ficas Comigo.
Cada um tem as suas nuances, mas as histórias pouco mudam: normalmente há uma miúda recatada e sem sex appeal, mas muito inteligente, que se apaixona pelo rapaz mais popular do liceu, campeão no desporto e sempre rodeado de jeitosas.
Esta tendência é herdeira de filmes dos anos 80 como O Clube e Footloose. Quatro décadas depois, não dá mostras de abrandar
Muitos desencontros e algumas situações embaraçosas (ou tristes) depois, acabam por ficar juntos e deixar o público-alvo a suspirar por uma paixão idêntica na vida real.
Há uma sensação de conforto nisto: no fundo, são só variações da Cinderela da Disney, com que todos crescemos, portanto as fórmulas estão mais que testadas… e funcionam.
Atualmente – até porque se há coisa que os adolescentes não toleram é o anacronismo: querem que tudo seja moderno, parecido com a sua própria vida, para poderem acreditar no enredo –, há também a variante dos grupos de amigos e seus rituais iniciáticos, uma espécie de adeus à juventude, vivido intensamente numas férias de verão – casos de SPF-18 e The Last Summer –, mas, bem espremidos, vão ter ao mesmo: são lições morais sobre a autodescoberta, rumo à desejada maturidade da idade adulta, e os caminhos tortuosos do amor.
Os clichés e estereótipos são bem conhecidos e, não por acaso, já foram alvo de sátira, numa famosa comédia de 2001,
Oh, Não! Outro Filme de Adolescentes – atualmente disponível na Apple TV – que os desconstruía com muita ironia ao transformar a marrona com óculos mais gozada da turma no amor de perdição do rapaz mais charmoso do liceu.
Será mesmo disto que os adolescentes gostam? As audiências da Netflix nas próximas duas semanas de férias da Páscoa confirmarão – ou não – esta tendência que começou nos anos 80 com filmes como
O Clube, St. Elmo’s Fire – O Primeiro Ano do Resto das Nossas Vidas, Pretty in Pink A Garota do Vestido Cor de Rosa, Negócio Arriscado (com a estrela em ascensão Tom Cruise), o atrevidote Porky’s (sucedâneo americano dos clássicos da saga germano-israelita Gelado de Limão) ou o musical Footloose, e não dá mostras de abrandar. W