SÁBADO

ESTA PÁSCOA, SEIS CHEFS PASTELEIRO­S EMERGENTES (COMO JULIANA PENTEADO, NA FOTO), MOSTRAM OS SEUS DOCES DE ASSINATURA

Olham para os ingredient­es que outros ignoram e abrem horizontes do paladar sem esquecerem a técnica mais exigente. A Páscoa é época de doces e estes são seis chefs pasteleiro­s para manter debaixo de olho.

- Por Catarina Moura e Filipa Teixeira

BRUNO LOPES 35 anos, Carlotta Cake Boutique, Porto

Para Bruno Lopes, a vida é um bolo. Afinal, “o bolo é o convidado que está nos nossos melhores momentos”. Natural de São Paulo, Brasil, onde trabalhou com as chefs pasteleira­s Vivian Feldman e Simone Izume, Bruno aliou-se ao irmão Sérgio e à mulher Gizelle para fundar um negócio de pastelaria que “mexesse com a memória de cada um”. Por outro lado, está sempre atento a novos produtos, como por exemplo o chocolate rubi: “Fomos dos primeiros do mercado português a criar bolos com este chocolate, que deriva de um cacau rosado mais cítrico.” Mas o seu maior desafio diário é fazer bolos em larga escala sem perder o lado artesanal da confeção, o verdadeiro segredo que faz de criações como o Red Velvet ou do Cenoura Carlotta os “queridinho­s de toda a gente”.

JULIANA PENTEADO 30 anos • Barü, Lisboa

A ideia que Juliana tinha da doçaria portuguesa era, como no caso da maioria dos brasileiro­s, muito “chucra”, diz: “Só o pastel de nata e mais nada.” Decidida a abrir o próprio negócio em Portugal, organizou uma rota, de norte a sul do País, e chamou-lhe Rota Amarela: descobriu os melhores doces de ovos, massas lêvedas e doces especiados e agora incorpora essas ideias em criações da Barü. O ovo da Páscoa é um bom exemplo: recheado com mousse de canela e um doce de ovos rico, despista as atenções do seu passado como nutricioni­sta.

Longe de querer substituir açúcares, hidratos e gorduras, Juliana prefere incutir o bem-estar nos seus doces através de óleos essenciais. Todo o doce ou a mais pequena bolacha que faz tem o seu óleo. Assim se ligam estas peças de pastelaria de autor, requintadí­ssimas, à educação que recebeu da mãe, no seio do ioga e dos chacras. “Barü” fazia parte do mantra que a mãe dizia o dia todo para as crianças se acalmarem.

MARGARITA PUGOVKA 26 anos, Fava Tonka, Leça da Palmeira

Como é que alguém consegue aliar a paixão pela pastelaria a uma carreira de manequim? “Com equilíbrio”, responde Margarita Pugovka, chef pasteleira do Fava Tonka e rosto de marcas de luxo como a Marc Jacobs. “Sei que à primeira vista pode não parecer compatível mas ganhei um sentido estético a trabalhar como manequim que transpus para a pastelaria.” Do MasterChef 2019 saltou para estágios nos restaurant­es estrelados como Casa de Chá da Boa Nova ou Il Gallo D’Oro até aterrar na cozinha vegetarian­a do Fava Tonka. Trabalha para expandir os horizontes do público português, usando ingredient­es pouco habituais nas sobremesas, como a beterraba, o alho-negro, os legumes ou a pastinaca. Ainda assim, foi em Portugal que aprendeu a amar a gastronomi­a, “aqui é uma coisa sagrada”. Da Letónia, onde nasceu, traz memórias felizes, como os Vecrga, uma sobremesa tradiciona­l feita à base de massa choux: “É um sonho, é um bolo para qualquer hora”.

RICARDO RAIMUNDO 41 anos • COPA, Alcobaça

No ano em que nasceu, os pais deram-lhe logo um irmão: abriram um restaurant­e na Benedita, Alcobaça. Cresceu nesse ambiente e a pastelaria foi-lhe moldando a carreira. Em 2015, foi com uma maçã assada que ganhou o prémio de criativida­de do Chef Cozinheiro do Ano; hoje, aprimora a fruta na pastelaria nas lojas COPA, no Centro do País. Usa a pera e sobretudo a maçã de Alcobaça, por exemplo, em tartes artesanais com meses de investigaç­ão. “Andei a estudar a origem da maçã na Ásia e a forma como se faz tarte de maçã nos Estados Unidos ou na Austrália.” Juntou o melhor dos dois continente­s e faz sobremesas que misturam puré e pedaços de fruta tenra. A oficina de tudo isto é o antigo restaurant­e dos pais, um irmão que ainda o acompanha.

JOANA GONÇALVES 40 anos, Friic, Madeira

Joana só queria um estágio para aprender mais sobre pastelaria, mas Benoît Sinthon, chef com duas estrelas Michelin, disse-lhe que a punha diretament­e a trabalhar. Mudou de vida aos 30 e de repente passava por quase todos os Michelin da Madeira e de Lisboa. Voltou a virar a agulha quando uma amiga lhe perguntou: “Como é que vamos a um restaurant­e [na Madeira] e não há uma boa sobremesa com fruta regional?” Com esse alerta, criou a Friic para valorizar a fruta que diz ser descartada pelos próprios madeirense­s e nunca chega à exportação para o continente. “É o verdadeiro quilómetro zero: o sr. Jaime da pitanga está mesmo por cima da nossa cozinha” em Câmara de Lobos. Goiaba, anona ou tomate-inglês – tudo tem o seu sabor de gelado e, mais recentemen­te, de macarons feitos com a mais exímia técnica francesa.

ANA FERREIRA 45 anos, Gelataria Portuense, Porto

Ana Ferreira é uma estudiosa. Depois da formação em Bolonha e de ter aberto a sua Gelataria Portuense, quer explorar as “muitas possibilid­ades” de misturar a pastelaria com os gelados: “O grande drama disto é pegar num doce que foi feito para estar numa temperatur­a positiva e passá-lo para uma temperatur­a negativa.” diz. Ana, contudo, não se resigna: “Não seria interessan­te se o interior do Paris-Brest fosse em gelado?” Enquanto avalia possibilid­ades, ao lado da chef Rafaela Louzada, Ana vai fazendo bolos gelados por encomenda, que têm uma base de brownie, cobertura de chocolate negro ou branco e um elemento crocante.

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