Revelada a identidade de jihadista português
André Cabral partiu no fim de 2014 para a Síria. É o terceiro jihadista português – além de Nero Saraiva e Steve Duarte – referido por Helena Fazenda no parlamento como tendo sobrevivido à queda do Estado Islâmico.
Quando foi ouvida na Comissão de Assuntos Constitucionais, no Parlamento, a 18 de março, sobre o plano de ação para a prevenção da radicalização, de extremismos violentos e do recrutamento do terrorismo, a secretária-geral do Sistema de Segurança Interna, Helena Fazenda fez uma revelação de que poucos estavam à espera. Para além de Nero Saraiva e de Steve Duarte, dois jihadistas que depois de capturados na Síria já chegaram a dar entrevistas, há um terceiro terrorista português que terá sobrevivido à queda do autoproclamado Estado Islâmico. A sua identidade tem sido, até agora, mantida em segredo pelas autoridades, mas a SÁBADO está em condições de revelar que se trata de André Cabral, um português de 25 anos que partiu para a Síria no fim de 2014 e sob o qual está pendente um mandado de captura internacional.
A inconfidência da procuradora surpreendeu as várias fontes que acompanham o fenómeno terrorista contactadas pela SÁBADO. Apesar de ter sido ouvida à porta fechada – a seu pedido – a secretária-geral do SSI acabou por revelar mais do que o esperado. Perante os deputados da Comissão de Assuntos Constitucionais, Helena Fazenda concretizou que as autoridades tinham registo de 14 portugueses que lutaram ao grupo terrorista Estado Islâmico e que desses 11 morreram em combate.
Dos três sobreviventes, um, disse a procuradora, está detido no Iraque. Tal como a SÁBADO noticiou em julho de 2020, trata-se de Nero Saraiva, que no início desse ano foi transferido pelas forças curdas para a custódia da coligação internacional que combate o Estado Islâmico. Para as autoridades norte-americanas, Nero Saraiva poderá ter informações sobre a execução de reféns norte-americanos por parte do grupo terrorista.
Dos outros dois sobreviventes, um será Steve Duarte Amieiro, um português radicado no Luxemburgo que em setembro de 2014 partiu para a Síria onde se juntou ao departamento de comunicação do Estado Islâmico. As autoridades suspeitam que será ele um dos elementos que surge mascarado num vídeo de execução a proferir ameaças contra Espanha e Portugal – a que chama de Al Andaluz.
Português criado em França
Sobre o terceiro elemento detido nada se sabia até ao momento. A sua existência vinha sendo mantida em segredo pelas autoridades. Mas depois de a magistrada ter revelado que está vivo e a sua situação a ser acompanhada pelas autoridades, a SÁBADO pode revelar que se trata de André Cabral.
Nascido em Portugal em 1996, o português emigrou ainda jovem com a família para França, onde cresceu na zona de Lyon. Foi aí que no fim da adolescência se converteu ao Islão e acabou por se radicalizar. Em novembro de 2014, quatro meses depois de o Estado Islâmico proclamar a existência de um califado no território entre a Síria e o Iraque, André Cabral decidiu seguir os milhares de europeus que se juntaram ao grupo terrorista. Tinha então 18 anos.
Uma vez que partiu de França para a Síria coube às autoridades francesas a emissão de um mandado de captura internacional em seu nome. Ao contrário de uma boa parte dos restantes portugueses que se juntaram ao Estado Islâmico, André Cabral não era ativo nas redes sociais e a partir do momento em que atravessou a fronteira da Turquia com a Síria tornou-se muito mais difícil seguir os seus movimentos. Ao que a SÁBADO conseguiu apurar, nos últimos anos as informações recolhidas pelas autoridades foram escassas ou mesmo nulas. “A certa altura desapareceu. Tornou-se um autêntico mistério”, confidencia uma fonte conhecedora do caso.
Mulheres e crianças
Com a indicação por parte de Helena Fazenda de que está vivo, resta saber se se encontra em parte incerta ou detido pelas forças curdas no Norte da Síria. No caso de se encontrar em liberdade, a principal preocupação das autoridades é um eventual regresso à Europa utilizando as redes de tráfico de pessoas ou mesmo através do uso de documentação falsa.
Na mesma audiência, a secretária-geral do Sistema de Segurança Interna revelou ainda que as autoridades têm registo de 16 mulheres e 27 crianças de jihadistas portugueses. Apesar de Helena Fazenda ter dito que elas estão em campos de detenção na Síria, a verdade é que várias já escaparam.
Duas delas, pelo menos, voltaram à Europa. Uma, a finlandesa Heidi Puurula regressou ao seu país natal com os três filhos de Nero Saraiva e vive em liberdade a aguardar o desenrolar do processo judicial. Outra, a lusodescendente Ângela Barreto, voltou à Holanda com um filho a 7 de janeiro, como a SÁBADO noticiou em exclusivo na edição online. Está desde então em prisão preventiva a aguardar o julgamento. W