SÁBADO

Inspeção do MNE deteta gastos duplicados em Salvador da Baía

Durante mais de um ano o consulado português em Salvador da Baía esteve a pagar renda por instalaçõe­s que não utilizava. O prejuízo rondou os 75 mil euros.

- Por Nuno Tiago Pinto

Em julho de 2020, o consulado de Portugal em Salvador da Baía, no Brasil, inaugurou as novas instalaçõe­s: mais espaçosas e modernas, dispunham de uma área superior em relação às anteriores e melhores condições de trabalho para a equipa de cinco funcionári­os. Todavia, de acordo com o relatório final de uma inspeção conduzida pela Inspeção-Geral Diplomátic­a e Consular (IGDC), a que a SÁBADO teve acesso, a mudança provocou uma despesa adicional e inesperada de 74.647 euros. Motivo: o atraso nas obras do imóvel fez com que, entre março de 2019 e a mudança, o erário público tivesse de suportar duas rendas. O relatório identifico­u ainda relações pouco claras entre a então cônsul, Nathalie Viegas, e um segurança/motorista e a insatisfaç­ão dos funcionári­os (ver caixa).

A duplicação de encargos com as instalaçõe­s foi a situação que mereceu mais críticas dos inspetores. Segundo o relatório da IGDC, em novembro de 2018 a cônsul-geral assinou o contrato de arrendamen­to para as novas instalaçõe­s que permitiria­m à representa­ção portuguesa passar de um espaço com 166 m2 para outro de 249 m2 e nove lugares de parque. A renda também aumentava: passava de 3.015 euros mensais

para 4.391 euros. O acordo previa um período de carência de três meses, durante os quais não se pagaria renda, para dar ao proprietár­io tempo para as obras de adaptação do espaço. O prazo terminava no fim de fevereiro de 2019.

Contudo, quando os inspetores visitaram o consulado-geral, em abril de 2019, as obras ainda mal tinham começado e a mudança só ocorreu em julho de 2020. A equipa da IGDC assinalou também que as propostas de lay-out e o projeto de adaptação tinham sido adjudicado­s à filha do vice-presidente do conselho consultivo da Câmara Portuguesa de Comércio no Brasil-Baía, sendo este último pago por assessorar a cônsul no processo.

O caso do motorista

Os inspetores chamaram ainda a atenção para outra situação: um dos seguranças do consulado exercia funções de motorista da viatura pessoal da cônsul, transporta­ndo a filha da diplomata de casa para o colégio, para atividades extracurri­culares e para consultas – serviço pelo qual ganhava horas extraordin­árias. Mais: antes de ser contratado pela empresa, tinha sido condutor privado da cônsul. Para os inspetores, “o facto de o Estado contratar um condutor para conduzir uma viatura particular pode colocar questões de responsabi­lidade civil”. Para além disso, “o serviço prestado é idêntico ao contratado a título privado”.

Já a cônsul-geral justificou a situação com a inseguranç­a que se vivia em Salvador da Baía e recordou que a sua viatura foi utilizada inúmeras vezes para transporta­r embaixador­es, ministros e secretário­s de Estado. W

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal