SÁBADO

Vítor Matos, o português adjunto de Jürgen Klopp no Liverpool

Participa na organizaçã­o e planeament­o dos treinos com o técnico alemão – “são como uma masterclas­s” – e está atento aos miúdos da equipa sub-23. No clube desde 2019, já foi apelidado de “melhor contrataçã­o”.

- Por Pedro Ponte

Quando se fala de portuguese­s no Liverpool, muitas pessoas só se vão lembrar do avançado Diogo Jota. Mas há outro, nascido há 33 anos no Porto, que, apesar de estar mais na sombra, também desempenha um papel fundamenta­l na equipa inglesa. Chama-se Vítor Matos e é um dos adjuntos de Jürgen Klopp, o treinador alemão que foi eleito o melhor do mundo de 2020 pela FIFA e que em dois anos foi campeão europeu, vencedor da supertaça europeia e do Mundial de Clubes e campeão inglês – um título que fugia desde 1990.

“É um enorme orgulho fazer parte deste staff. Há uma grande relação profission­al e familiar que é incutida e fomentada pelo Jürgen. Tem essa preocupaçã­o e, numa sociedade como a nossa, em que cada vez mais as relações se baseiam num ‘gosto’ ou num ‘deixar de seguir’, isso é fundamenta­l”, explicou Vítor Matos à SÁBADO, via Zoom, desde Liverpool.

E como surgiu a oportunida­de de rumar a Anfield, em 2019, para trabalhar de perto com uma das mentes mais brilhantes do futebol mundial? “Surgiu em função de uma necessidad­e que o Jürgen e o Pepijn Lijnders [braço-direito de Klopp], assim como o clube, tinham de ter alguém na equipa técnica com funções mais específica­s e com um passado ligado ao futebol de formação”, referiu Vítor Matos, que, antes do Liverpool, trabalhou nos escalões jovens de Trofense, FC Porto e Shandong Luneng (China).

A sua experiênci­a na equipa B do FC Porto, por exemplo, revelou-se fundamenta­l para as ações que agora desempenha no Liverpool: “Há muita partilha e uma reflexão conjunta sobre o processo que pretendemo­s. Além de ajudar na organizaçã­o e no planeament­o dos treinos, estou mais focado no desenvolvi­mento dos jovens jogadores que, a curto ou a médio prazo, poderão ter valor para a equipa principal. Existe uma ligação com a equipa sub-23, que tem de ser o mais fluida possível, e cabe-me um pouco a mim a tarefa de guiar as coisas para que tudo se mantenha o mais semelhante possível. E, ao mesmo tempo, há maior preocupaçã­o com o desenvolvi­mento individual de cada um dos nossos jovens valores.”

Vítor Matos tem muitos diamantes para lapidar. “A dimensão do clube é de nível mundial, e, por isso, há sempre talento e qualidade na academia. Antes de eu chegar já havia um processo bem definido, com a preocupaçã­o de desenvolve­r os jogadores para a primeira equipa. O trabalho ficou muito facilitado para mim porque já apanho os jogadores numa fase de transição para o futebol profission­al.”

Klopp: um treinador autêntico

Quem vê um jogo do Liverpool pela televisão não fica indiferent­e à forma como Jürgen Klopp vive cada momento, cada lance. Vítor Matos acompanha tudo uns metros mais atrás, no banco de suplentes, e não tem dúvidas de que essa maneira de encarar o jogo diz tudo sobre quem é o treinador alemão: “Em contextos emocionais revelamos muito do que somos e o Jürgen não tem capas, é autêntico em tudo o que faz na vida diária e na profissão. Os princípios, os valores e o caráter são o que fazem dele uma pessoa especial.”

Jürgen Klopp fez questão de partilhar o prémio FIFA com os restantes elementos da equipa técnica, o que, como representa­nte português, deixou Vítor Matos orgulhoso: “Isso só mostra o tipo de pessoa que o Jürgen é. Não é aquele prémio que faz dele especial, mas sim o que ele representa para nós e para o Liverpool. Foi um reconhecim­ento individual, mas todos

VÍTOR MATOS: “HÁ UMA GRANDE RELAÇÃO PROFISSION­AL E FAMILIAR QUE É INCUTIDA PELO JÜRGEN KLOPP”

sabemos que é efémero e que o devemos encarar dessa forma. Mas, sem dúvida, essa atitude mostrou o tipo de pessoa que temos connosco e a forma como ele gosta de se preocupar com cada um de nós nos momentos mais importante­s.”

Klopp elogiou Vítor Matos na época da sua chegada ao clube (2019/20): “É um treinador fantástico, experiente e jovem. É inteligent­e, fala bem inglês e trabalhou em diferentes clubes, mas aprendeu no FC Porto, o que é bom para nós.” O mesmo fez Pepijn Lijnders: “Ele é a nossa melhor contrataçã­o desta temporada. É muito talentoso. Vimos o impacto que causou nos jovens e pode inspirar oito ou nove deles.”

Com apenas 33 anos, Vítor ainda tem uma longa carreira pela frente e, garante, esta experiênci­a ao lado do melhor treinador do mundo continua a entusiasmá-lo diariament­e. “Todos os treinos são como uma masterclas­s. Há sempre algo para aprender e todos os dias nos consegue surpreende­r com determinad­a solução para um problema ou com uma reflexão. É fantástico poder conviver com ele e partilhar estes momentos e a minha vida com alguém que tem uma preocupaçã­o tão grande com o detalhe, com as outras pessoas, que tem uma mente tão polimórfic­a, por conseguir relacionar diferentes assuntos sobre a mesma ideia e arranjar sempre soluções!”

Por trabalhar com um adjunto português, é natural que, ocasionalm­ente, haja conversas sobre o futebol português entre Klopp e Vítor, como agora, quando o FC Porto eliminou a Juventus nos oitavos de final da Liga dos Campeões. “Quando olhamos para a Champions e vemos uma equipa como o FC Porto fazer o que fez, claro que são questões que surgem.”

Vítor Matos desvendou ainda um pouco sobre a forma como ajudou na integração de Diogo Jota, que chegou ao Liverpool em setembro de 2020: “Ele adaptou-se muito bem, não só ao grupo como à ideia de jogo. Muito devido ao caráter, profission­alismo e talento que tem. A verdade é que também já está há alguns anos em Inglaterra e isso ajuda muito em termos culturais.” W

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