SÁBADO

FOI VOCÊ QUE PEDIU UMA INAUGURAÇíO?

Aceleram-se empreitada­s, cortam-se fitas. Mas Lisboa e Porto ainda não serão tudo o que ficou prometido há quatro anos. Este é o balanço entre os anúncios e a realidade.

- Por Margarida Davim

Abriu a época dos corta-fitas eleitorais: saiba o que Medina e Moreira têm para mostrar (ou não) em Lisboa e no Porto até às autárquica­s

Começou a contagem decrescent­e para as autárquica­s. Há estaleiros para visitar, projetos para anunciar e inauguraçõ­es a fazer. Das grandes obras que vão avançando às promessas que tardam em sair da gaveta, aproxima-se o momento de prestar contas ao que foi feito. Basta passar pelo Facebook de Fernando Medina e Rui Moreira para encontrar imagens do futuro, primeiras pedras e anúncios vários. Mas, afinal, como chegarão Lisboa e Porto às próximas eleições?

Uma zona verde de mais de seis hectares com cursos de água onde agora se acumulam carros será a

mais marcante que Medina terá para mostrar antes de os lisboetas irem a votos. Há uma corrida contra o tempo para garantir que o novo parque urbano da Praça de Espanha estará pronto até ao final do primeiro semestre.

Por essa altura, já se deve poder passear na Doca da Marinha, a obra com jardim e zona ciclável que conclui a requalific­ação da zona ribeirinha do Tejo. Os trabalhos estão praticamen­te concluídos, falta marcar a inauguraçã­o.

Também com obra quase pronta, mas sem arranque à vista, está a nova Feira Popular de Carnide. Em plena pandemia, procuram-se empresário­s disponívei­s para investir no parque de diversões, num concurso que será lançado em breve para dar vida ao espaço verde que estará “concluído no verão”.

Promessas encalhadas

Se Fernando Medina tem espaços de lazer para mostrar, é na habitação, saúde e educação que mais vai ter de correr para cumprir o que prometeu. Na oposição, ninguém se esquece das seis mil casas de renda acessível prometidas e dos 14 novos centros de saúde anunciados há quatro anos. E há ainda muitas escolas por recuperar, algumas delas (como a EB1 Rainha Sanobra

JARDIM DA PRAÇA DE ESPANHA ESTÁ NA LISTA DAS INAUGURAÇÕ­ES. FEIRA POPULAR AINDA SEM DIVERSÕES

ta Isabel ou a Escola nº 72) a funcionar em contentore­s enquanto as obras não ficam concluídas.

“Já vimos isto em 2017. Sempre que há um ato eleitoral, Fernando Medina torna-se o propagandi­sta-mor do reino. Inaugura e torna e inaugurar, mas em mais de meia década da sua governação o que vemos são projetos e promessas falhadas”, diz à SÁBADO Carlos Moedas, o candidato do PSD à Câmara de Lisboa, que nota que até agora Medina fez “pouco mais de 300” casas de renda acessível.

“No total são 391 casas entregues”, corrige fonte oficial da câmara, explicando que estão agora em concurso mais 118 e será lançado em breve o concurso de mais 217. Todas nos 11 imóveis adquiridos pela CML à Segurança Social.

Com 200 milhões de euros para gastar em habitação neste mandato, no gabinete de Medina fazem-se contas a 2190 casas atribuídas ao abrigo dos vários programas, “o maior número de fogos desde a conclusão dos programas de realojamen­to, no mandato de João Soares”.

Habitação e centros de saúde

Para já, para a classe média, somam-se anúncios: cerca de 700 casas de renda acessível no Parque das Nações, Benfica e Paço da Rainha, cuja construção foi aprovada pela vereação no dia 1 de abril, e um projeto para 440 apartament­os no Alto do Restelo, que está em fase de discussão pública. Medina teve de contornar o chumbo do Tribunal de Contas ao modelo de parceria com os privados para estes investimen­tos e isso explica, pelo menos em parte, a derrapagem. Para terem luz-verde, estes empreendim­entos passam a ser alvo de uma concessão apenas de direito de superfície, finda a qual o património passa na íntegra para a autarquia.

Dos 14 novos centros de saúde que Lisboa devia ter no final deste mandato, Medina ainda só con- Q

DAS SEIS MIL CASAS DE RENDA ACESSÍVEL, MEDINA ENTREGOU 391. E FALTAM 13 DAS 14 USF PROMETIDAS

Q cluiu um, no Areeiro, num edifício que pertencia aos serviços sociais da câmara. Alta de Lisboa e São Domingos de Benfica deverão ter novas Unidades de Saúde Familiar para inaugurar ainda antes das eleições. Ficam por concluir 10 para esgotar o investimen­to de 40 milhões que está no Orçamento Municipal para 2021, sendo que os centros de Marvila e Ajuda deverão estar prontos em outubro e o do Restelo em dezembro.

Já a ser gastos estão os três milhões para construir cinco novas creches (duas no Beato, uma no Parque das Nações, uma em São Vicente e outra em São Domingos de Benfica) para 252 crianças. Fernando Medina já posou para a foto a pôr tijolos, mas a creche Ilha dos Amores não estará segurament­e no roteiro de inauguraçõ­es desta campanha, ao contrário da escola básica do Parque das Nações, onde Medina já descerrou uma placa em março, ao lado de António Costa.

Também em fase de arranque está ainda a construção da Arquiteto Ribeiro Telles, no bairro da Boavista, em Benfica, que terá o maior investimen­to de sempre da autarquia numa escola: 10 milhões de euros. Das 30 escolas a precisar de requalific­ação, 15 estão prontas e outras tantas em obra, num total de mais de 65 milhões de euros.

Para o fundo da gaveta das promessas vai a ideia de transforma­r a Segunda Circular numa alameda. “O projeto morreu”, diz à SÁBADO fonte do gabinete de Medina, explicando que depois de colocado o novo pavimento a ideia é pensar na construção de uma faixa dedicada de BUS para autocarros elétricos, articulada com a A5. Mas isso só para outro mandato.

Porto, o regresso do Bolhão

Nos últimos meses, Rui Moreira tem posto o capacete das obras para visitar estaleiros. Entre as obras mais emblemátic­as que tem em curso está o Mercado do Bolhão, que deve estar pronto já a campanha estará ao rubro, lá para setembro. São 22,3 milhões de euros que devolvem à cidade o seu espaço mais icónico, palco das arruadas eleitorais mais animadas, agora convertido num mercado do séc. XXI, com um túnel de acesso que atrasou a obra e custou 4,3 milhões.

“Vão dar tudo por tudo no Bolhão, que devia ter sido acabado no primeiro mandato e está fechado há três anos”, diz o vereador do PSD na Câmara do Porto, Álvaro

CASAS DE RENDA ACESSÍVEL EM LISBOA E PORTO AINDA QUASE TODAS EM FASE DE PROJETO

Almeida, que mais do que obra feita vê “grandes anúncios” nesta pré-campanha eleitoral e critica a falta de aposta em obras para melhorar a mobilidade.

É, contudo, fora deste centro do Porto, que Rui Moreira quer deixar marca. As grandes obras do autarca concentram-se a oriente, na zona de Campanhã, para onde estão em curso investimen­tos de 100 milhões de euros. Um valor impression­ante que pretende resgatar o que é agora uma zona deprimida da cidade.

Campanhã do futuro atrasada

Os problemas com o Tribunal de Contas em projetos como o Matadouro (onde vai nascer um centro cultural e empresaria­l) vão impedir Rui Moreira de fechar este mandato apresentan­do a revolução que está a preparar na área oriental do Porto.

Com 20 mil metros quadrados de área de construção, dos quais 7,9 mil metros quadrados ficarão sob gestão municipal (Museu da Cidade, galeria municipal, ateliês artísticos, espaço educativo, espaço multiusos), o projeto para o antigo Matadouro Industrial do Porto prevê uma ponte pedonal para a VCI para fazer a ligação à estação de metro do Dragão e é a joia da coroa do legado que Moreira quer deixar à cidade, mas que não ficará concluída neste mandato. Apesar disso, os trabalhos estão a todo o gás para concluir pelo menos o Terminal Intermodal de Campanhã antes das eleições.

O Intermodal vai custar 12,6 milhões e será um ponto de con

fluência de metro, autocarros e comboios, com um parque de estacionam­ento com 240 lugares. Ali ao lado, vai ser requalific­ada a Praça da Corujeira: são 23.612 metros quadrados, onde se vai investir 4,4 milhões de euros, e que estarão ligados ao Matadouro, cuja obra só arranca em setembro e ainda demorará dois anos a construir. A Quinta da Mitra será outro espaço público requalific­ado em Campanhã, mas para já a obra ainda nem começou.

Também se conjugam no futuro pós-eleitoral as 116 casas de renda acessível prometidas para a zona no Monte da Bela (agora em fase de concurso de obra), 329 fogos no Monte Pedral e cerca de 300 em

MOREIRA VAI INVESTIR 100 MILHÕES EM CAMPANHÃ, MAS RESULTADOS SÓ SE VERÃO DEPOIS DAS ELEIÇÕES

Rosa Mota O pavilhão foi a primeira grande obra que Moreira concluiu neste mandato. O espaço foi inaugurado em 2019

Lordelo do Ouro (ambos em fase de projetos). Quem tem problemas a arranjar casa no Porto tem de esperar, mas fonte do gabinete de Rui Moreira frisa ter “na calha a curto-médio prazo perto de 1.200 fogos” e soma as 3.550 famílias que nos últimos seis anos beneficiar­am de apoio ao arrendamen­to, num investimen­to de 8,5 milhões.

Pronta para a inauguraçã­o em setembro está a Escola Alexandre Herculano, que custou quase 10 milhões de euros, mas abrirá com um pavilhão polidespor­tivo que servirá a escola e a população.

Também em fase final de obra está o Cinema Batalha, que até já tem equipa de curadoria escolhida. Mas os portuenses deverão ter de esperar até ao primeiro trimestre de 2022 para começar a frequentar o novo espaço cultural da cidade. W

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Não faltam estaleiros para Rui Moreira visitar. Mas grandes obras ainda estão longe da inauguraçã­o
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Fernando Medina tem 15 escolas em obras e pelo menos dois centros de saúde que pode inaugurar na campanha
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Na Praça de Espanha, vai nascer um parque do tamanho do Jardim da Estrela
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Doca da Marinha está pronta, à espera de ser inaugurada
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Parque verde da Feira Popular de Carnide fica pronto até ao verão
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Cinema Batalha já tem equipa de programaçã­o, mas não abre antes de 2022
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Bolhão está na fase final de obra e pode ser inaugurado em campanha
1 Na Praça de Espanha, vai nascer um parque do tamanho do Jardim da Estrela 2 Doca da Marinha está pronta, à espera de ser inaugurada 3 Parque verde da Feira Popular de Carnide fica pronto até ao verão 4 Cinema Batalha já tem equipa de programaçã­o, mas não abre antes de 2022 5 Bolhão está na fase final de obra e pode ser inaugurado em campanha
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