SÁBADO

Entrevista ao autor de A Arte Subtil de Dizer Que Se F*da

O escritor americano falou com a SÁBADO a propósito do seu primeiro livro, de 2011, que agora chega a Portugal, mas houve tempo para falar d’A Arte Subtil de Dizer Que se F*da, que lhe trouxe fama.

- Por Marco Alves

Mark Manson arranha o português desde que viveu dois anos no Brasil, país onde deixou uma pequena polémica depois de ter escrito, em 2016, uma carta aberta sobre a sociedade brasileira. Poucos meses depois lançou o livro que lhe viria a trazer fama e fortuna, A Arte Subtil de Dizer Que se F*da. O livro de autoajuda chegou a Portugal em 2018 e esteve vários meses em primeiro lugar no top de vendas. No mundo, vendeu 13 milhões de cópias. Iniciou também a nova moda dos livros com palavrões nos títulos e, em 2019, lançou Está Tudo F*dido.

A sua carreira pública deu os primeiros passos em 2008, num blogue sobre relações amorosas, que mais tarde, em 2011, se transformo­u num livro. Chegou ao mercado em edição própria e chamava-se Models: Attract Women through Honesty. É esse livro que chega agora a Portugal com o nome A Arte Subtil de Saber Seduzir. Mark

Manson falou com a SÁBADO a partir do seu apartament­o em Nova Iorque, onde continua a viver. Apesar dos anos no Brasil e de ter casado com uma brasileira, a conversa foi em inglês.

Escreveu este livro há 10 anos. Para si mantém-se igual. Se fosse hoje escreveria o mesmo?

Acho que sim. Na última vez que o li, penso que há três anos, não vi nada de importante que mudaria. Talvez algumas partes, se fosse hoje, escrevê-las-ia melhor. Acho que escrevo melhor agora, mas o essencial, as ideias, mantinha.

O que traz este livro de diferente?

Acho que a maior parte dos livros dirigidos aos homens estão focados nos resultados: como ter sexo, como ter uma namorada, como ter uma relação. E não se focam no processo e naquilo a que chamo saúde emocional. Não é suficiente arranjar uma namorada ou ter uma relação, tens de encontrar uma mulher que se encaixe em ti para te sentires feliz e saudável. Tens de o fazer de uma forma que te faça sentir bem contigo e que ela também se sinta bem. Acho que muitos dos conselhos para homens são muito manipulado­res, ensinam os homens a não se respeitare­m nem a respeitare­m as mulheres.

Os romances são bons para quem precisa de ajuda neste campo?

Se forem realistas sobre psicologia e natureza humana, mas não costumam ser realistas. A mesma coisa

“Continuo a ir de férias aos mesmos sítios, mas em vez de bilhetes de turística, agora compro business class”

com os filmes. Acho que a maioria dos filmes românticos, ou sobre relações, não são realistas nem saudáveis. Em qualquer filme da Disney ou nas comédias românticas do Hugh Grant há sempre a história do homem ter de conquistar ou merecer uma mulher. Acho que criam uma má narrativa para os homens, porque os ensinam a ver as mulheres como um prémio, como se fosse um jogo, e ensina às mulheres que os homens devem lutar e competir por elas. Não é realista. Não é saudável.

Desde que escreveu este livro, há 10 anos, os Estado Unidos passaram pela masculinid­ade tóxica de Donald Trump, mas também pelo movimento Me Too. Acha que isso teve algum impacto no homem comum?

Sim, acho que os homens estão muito mais alerta para o seu comportame­nto e para as coisas que dizem. Acho que agora têm medo de estar a fazer ou a dizer alguma coisa errada e isso resulta em muita ansiedade, mas significa que agora pensam nessas coisas. Quando

eu estava na faculdade, há 20 anos, não pensávamos nas coisas que dizíamos às mulheres. Apenas dizíamos as coisas sem pensar no efeito que poderiam ter, se estávamos a ser desrespeit­osos ou não.

É um homem a escrever para homens sobre o comportame­nto das mulheres. Como é que sabe como pensam as mulheres?

Não sei o que elas pensam ou estão a sentir, mas tenho a minha experiênci­a com mulheres. E sei de outras experiênci­as ao falar com mulhe- Q

Q res sobre este assunto. Um dos objetivos deste livro, e escrevi-o quando ainda era apenas um blogue, foi que se alguém escrever para homens alguma coisa sobre relacionam­entos com mulheres que seja verdadeiro, as mulheres vão ser as maiores fãs. Porque as mulheres vão dizer: “Meu Deus, isto é exatamente o que eu quero” e vão mostrá-lo aos irmãos, aos sobrinhos, aos filhos. Tive muitas mulheres que compraram o livro para o oferecer a homens. Quando recebo emails de mulheres, para mim é mais valioso do que quando os recebo de homens.

Ainda recebe emails de homens sobre este assunto?

Sim, constantem­ente. [Risos] Às vezes parece uma maldição. Rapazes, eu agora sou casado, não uso o Tinder; não sei, não quero saber.

E as perguntas são as mesmas, como conseguir a rapariga.

Sempre: “Como é que começo a falar com ela? Ela não me responde de volta quando envio mensagem; o que devo fazer? Estou nervoso, como deixo de estar nervoso?...”

Responde-lhes?

“Luto muito com a ansiedade de pensar que as pessoas gostam de mim agora, mas que para o ano desaparece­m”

Nem sempre. Às vezes. Geralmente digo-lhes para comprarem este livro.

A sua vida mudou muito com A Subtil Arte de Dizer Que se F*da ? Mudou muito porque subitament­e passei a ter muito dinheiro, fama e popularida­de. O livro estava em todas as livrarias, foi um bestseller, fui convidado para falar em muitos sítios. Ao mesmo tempo, a minha vida quotidiana não mudou muito, acordo à mesma hora, trabalho na mesma secretária, saio com os mesmos amigos, continuo a ir de férias aos mesmos sítios (mas em vez de comprar bilhetes de turística, agora compro business class).

O dinheiro mudou alguma coisa na sua cabeça?

O engraçado é que pela primeira vez na minha vida comecei a sentir muita pressão. Para escrever outro livro, para manter o público feliz. Há como que um medo de se perder alguma coisa e luto muito com a ansiedade de pensar que as pessoas gostam muito de mim agora, mas para o ano vão desaparece­r. Foi uma experiênci­a estranha porque na minha vida pessoal ter todo este dinheiro foi muito libertador, posso ficar no hotel que quiser, posso ir aos restaurant­es mais caros, é muito bom; mas na vida profission­al há toda a pressão e a ansiedade do “tens de fazer isto tudo outra vez” e “como é que vais fazer isto tudo outra vez?”

Começou uma nova tendência de livros com palavrões no título. O que acha do fenómeno?

A imitação é o melhor elogio. Se as pessoas estão a imitar-te significa que fizeste alguma coisa bem.

O que disse o editor sobre o título?

Apresentei o livro a sete editoras e a maioria disse que não aceitava, mas o editor da Harper Collins disse que queria publicar. Foi um risco e estava toda a gente ansiosa.

O que é que disseram os editores que recusaram?

Não queriam publicar porque algumas lojas nos Estados Unidos – como a Walmart e a Target – não o poriam à venda se tivesse a f word. A ironia é que o livro vendeu tão bem que um ano depois aceitaram pôr o livro à venda. [Risos]

Há uma coisa curiosa nesse livro. Começa com o exemplo do Charles Bukowski, que teve sucesso porque aceitou que era um falhado na vida e escreveu sobre isso, e, portanto, porque é que o leitor não pode fazer o mesmo. A questão é que o Bukowsky não teve sucesso por causa disso. Ele teve sucesso porque era bom.

Também era bom. Eu quis começar o livro com o Bukowski porque a maior parte dos livros, particular­mente na América, começam sempre com o Steve Jobs e o Bill Gates, todos esses tipos que acordam às 5h da manhã e trabalham 15 horas, nunca bebem, nunca tiram folga e estão sempre focados. Quis começar com um tipo que era o oposto disso. Eis um tipo que bebe todo o santo dia, que esteve preso, que fez muitas coisas terríveis.

E era um mulherengo.

Sim. E teve sucesso. Quis usar o exemplo dele para pôr em causa o que provoca o sucesso. É acordar às cinco da manhã, treinar uma hora e beber sumo de laranja? Não, há outras coisas que fazem as pessoas terem sucesso. Bukowski era bom porque era honesto consigo próprio.

Diz que os livros de autoajuda normais põem muita pressão nos ombros nos leitores, mas esse seu livro fazia o mesmo usando a fórmula oposta com o seu próprio exemplo: “Tive uma infância terrível, não tinha dinheiro, detestava o emprego, demiti-me e olhem para mim agora, sou bestseller...”

Já ouvi algumas pessoas dizerem o que me estás a dizer, que o livro coloca um tipo de pressão diferente. Acho que os livros de autoajuda põem a pressão na performanc­e. A pressão de A Arte Subtil é se o falhanço for aceitável. O objetivo era mostrar que não só é aceitável estar confortáve­l com as coisas que não correram bem, como se deve estar confortáve­l e que, geralmente, é quando isso acontece que as coisas boas aparecem. W

 ??  ??
 ??  ?? Mark Manson, 37 anos, conta neste livro que teve dezenas de affairs na juventude, dos quais extraiu ensinament­os
Mark Manson, 37 anos, conta neste livro que teve dezenas de affairs na juventude, dos quais extraiu ensinament­os
 ??  ?? Mark Manson não se poupa a elogios no seu site/blogue, que diz ter 15 milhões de visitantes por mês
Mark Manson não se poupa a elogios no seu site/blogue, que diz ter 15 milhões de visitantes por mês

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal